Mobilização contra o capitalismo e por mais justiça ambiental e
social está programada para 5 junho. Objetivo é marcar posição sobre a
Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável. Em plenária no Fórum Social Temático, movimentos debatem
dificuldade de achar pauta comum e de impor derrotas reais ao capital.
Porto Alegre - Em 5 de junho, Dia Internacional do Meio Ambiente,
os movimentos sociais de todo o mundo vão ocupar as ruas em uma grande
jornada de mobilização global contra o capitalismo e em defesa da
justiça ambiental e social. A agenda foi aprovada neste sábado (28), na
Assembleia dos Movimentos Sociais, realizada durante o Fórum Social
Temático, em Porto Alegre.
A jornada terá o propósito de demarcar
a posição dos movimentos sobre as questões ambientais e sociais que
serão discutidas, 15 dias depois, na Rio + 20, pelos chefes de estado
dos 192 países que participam da Organização das Nações Unidas (ONU).
“A
tentativa de esverdeamento do capitalismo, acompanhada pela imposição
de novos instrumentos da ‘economia verde’, é um alerta para que nós, dos
movimentos sociais, reforcemos a resistência e assumamos o protagonismo
na construção de verdadeiras alternativas à crise”, dizem as entidades,
no documento que aprovaram no encontro.
Cerca de 1,5 mil pessoas
de 30 países participaram da plenária dispostas a enfrentar dois dos
grandes desafios impostos, hoje, à esquerda mundial: construir uma pauta
unificada de lutas e mobilizar as populações para garantir a imposição
de derrotas reais ao capital.
O primeiro, foi cumprido. Apesar
das diversas propostas, os movimentos conseguiram definir eixos comuns
para a luta. O segundo desafio dependerá da capacidade de mobilização em
cada país.
“Temos que ser mais criativos para envolver as
massas. Sem isso, não teremos força para derrotar o capitalismo nesta
crise que assola os povos do mundo”, provocou um dos coordenadores da
Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João
Pedro Stédile, na abertura da plenária.
De acordo com ele, o
mundo vivencia a mais grave e longa crise econômica da história, o poder
decisório se desvinculou do poder político para se concentrar nas mãos
do capital e a burguesia continua controlando os meios de comunicação,
utilizando-os para manipular os trabalhadores, cada vez mais
desmobilizados. “As massas de trabalhadores estão apáticas. E esse é um
problema nosso, que temos que enfrentar”, afirmou.
Nos discursos
dos representantes das entidades nacionais e internacionais, ficou
evidenciado o quanto a unificação da agenda e a priorização dos eixos
defendidos não é uma tarefa fácil.
O sindicalista cubano José
Miguel, representante da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC),
ressaltou a necessidade de construção de alternativas e propostas dos
movimentos sociais para a Cúpula dos Povos, a conferência que os
movimentos sociais realizarão paralela à Rio + 20.
O
secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores da Argentina (CTA),
Carlos Chile Huerta, citou o processo de recessão mundial para ressaltar
a importância da rearticulação do campo popular para reposicionar o
poder político no continente nas mãos dos trabalhadores.
O
presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu,
criticou a distribuição do orçamento federal. “Temos que acabar com
crime de destinar quase 50% do orçamento do governo para o pagamento da
dívida pública. Queremos 10% do PIB [Produto Interno Bruto] para a
Educação”, afirmou.
Representando a Organização Infanto-Juvenil
Sementes da Pátria, da Venezuela, o estudante Luiz Ramirez defendeu
prioridade para a luta contra o imperialismo norte-americano. “A América
Latina, em especial, vive um momento muito rico, com governos de
esquerda, e precisa articular ações de mobilização para avançar rumo ao
socialismo.”
Membro da Coordenação Internacional do Comitê
Internacional Palestina Livre e líder de uma organização de boicote a
Israel, Jamal Juma pediu apoio prioritário à luta histórica pela
soberania do país, há 63 anos ocupado por tropas israelenses. Segundo
ele, haverá uma grande mobilização mundial em 29 de novembro pela causa
palestina.
O argentino Manoel Bertoldi, da Frente Popular
Dario Santilhan, lembrou da importância da luta internacionalista e
cobrou apoio à luta do povo hondurenho pelos direitos humanos.
Pela
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, o cacique Uilton Tuxá cobrou
o reconhecimento das etnias como povos originários. “Não queremos ser
tratados nem como selvagens e nem como mestiços”, afirmou.
Representando
a Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde, Maria Valéria Costa
Correa retomou a defesa dos princípios da reforma sanitária, que propõe
saúde pública e universal. “Precisamos defender o maior sistema público
de saúde do mundo, que é o brasileiro”, disse ela.
O líder
sindical tunisiano Alaa Talbi dividiu com os presentes a experiência que
vivenciou durante a Primavera Árabe e destacou a importância da
democratização dos demais países árabes, com o fim da corrupção, a
garantia de emprego e direitos sociais e emancipação da mulher.
Representando
a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosane Bertotti explicou que o
documento final lista bandeiras comuns aos movimentos, como a defesa do
desenvolvimento sustentável e solidário, da reforma agrária, da
agricultura familiar, do trabalho decente, da luta pela educação e pela
saúde.
“Rejeitamos a forma como o capitalismo se reinventa na
proposta de uma economia verde. Entendemos que, para mudar a realidade,
não é só pintar de verde, é garantir direitos, liberdade de organização,
democracia, proteção social”, disse.
Fonte: www.cartamaior.com.br