quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

5% de novos contratos de imóveis na Caixa já são com teto maior do FGTS


Valor para compra com uso do FGTS subiu para até R$ 750 mil em outubro. De 50.535 contratos firmados, 2.518 são com novos limites de teto.

Desde 1º de outubro, quando foi elevado para até R$ 750 mil o valor do imóvel que pode ser comprado com o uso do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), 5% do total nos novos contratos firmados na Caixa Econômica Federal já foram enquadrados por causa da elevação dos novos limites.
De acordo com balanço feito pela Caixa a pedido do G1, de um total de 50.535 contratos firmados no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), com recursos da caderneta de poupança,  de 1º de outubro a 12 de dezembro, 2.518 foram enquadrados por causa da elevação dos limites. Em termos de valores, a fatia é maior: 10,7%, diz o banco.O valor subiu de R$ 500 mil para até R$ 750 mil para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. Para os demais estados, o limite é de até R$ 650 mil. O limite anterior, de R$ 500 mil, estava vigente desde 2009.
A maioria dos contratos imobiliários no país é firmada com a  Caixa. A atual participação do banco é de 69%.
Valor do financiamento
Segundo as novas regras, para imóveis financiados dentro das regras do SFH, o limite do financiamento não poderá ser superior a 80% do valor de avaliação do imóvel. Para financiamentos que prevejam a utilização do Sistema de Amortização Constante (SAC), esse percentual poderá atingir 90% do valor de avaliação, informou o Banco Central.
Pelas regras anteriores, segundo o Banco Central, o limite de financiamento era de 90% do valor de avaliação do imóvel tanto para a tabela Price quanto para o SAC. Com as mudanças, somente o SAC continuará com este limite. No caso da tabela Price, o limite cairá para 80%.
Nos financiamentos efetuados por meio do SAC, as prestações começam maiores e depois vão caindo, enquanto que na tabela Price as prestações têm valor fixo.




No campo, a concentração das receitas é enorme

Levantamento mostra que 36% da receita do setor fica com apenas dez empresas, sendo quatro brasileiras


Alguns leitores poderiam esperar um comentário sobre aquela que seria a última sessão de cinema da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Bali, Indonésia.
Não o foi graças a alguns arremedos de acordos multilaterais, a serem maturados em prazos que vão de dois anos a sabe-se lá quando, e que beneficiarão gigantes do comércio mundial. Nisto, o Brasil representa menos de 2% no que importa, exporta, ou tanto faz.
Embora essa seja a pretensão desses eventos, não mudarão um centímetro da régua que delimita a segurança alimentar dos países pobres ou de produtores do setor primário.
Desperdício, má distribuição, concentração econômica e escandalosos subsídios, são os motores das corporações transnacionais e do sistema financeiro internacional que dividem a grana e o poder no planeta.
Mas a moçada aí deve ter ouvido o bater de bumbos das folhas e telas cotidianas. “Faziam cozinha” para o papel de vencedor que se deu o ministro de comércio da Índia, Anand Sharma, e o de conciliador do brasileiro Roberto Azevêdo, novo diretor-geral da organização, que foi às lágrimas.
Mudemos de tema.
Em outubro, a revista Globo Rural publicou edição especial com as 500 maiores empresas do setor de agronegócio. Se todos o fazem, por que o agro não o faria?
O termo, já dissemos, foi trazido para o Brasil, em meados da década de 1970, pelo falecido empresário Ney Bittencourt, dono da Agroceres, importante produtora nacional de sementes de milho, inconformado com a pouca bola que se dava à atividade agrícola primária.
Era necessário transformá-la e a ela agregar valor, divulgação e importância.
Algo como dizer que os versos imortais de Cartola, “Ah, essas cordas de aço/Este minúsculo braço/Do violão que os dedos meus acariciam”, (Cordas de Aço, 1976), pretendiam ampliar a magnitude da siderurgia.
No citado “Anuário do Agronegócio”, ficamos sabendo que, em 2012, as 500 maiores empresas do setor tiveram receita líquida de 514 bilhões de reais, sendo que 50 delas (10%) ficaram com 60% do bolo. Eita mundinho pequeno!
Das 50 maiores, 32 ficam nos estados de São Paulo e Paraná; 29 têm capital nacional e 21 estrangeiros. Os de fora detêm 60% da receita. Eita mundão bão!
Tudo claro. O planeta está assim e mais assim estão os países periféricos, hoje ditos emergentes.
Tomemos os dez maiores grupos, aqueles que mandam na parada. Juntos, eles tiveram 185,5 bilhões de reais de receita. Sacaram? 36% do total.
Pelo feito, creio que gostariam de ser citados: entre os nacionais, Cosan, JBS, BRF e Copersucar; os estrangeiros Cargill, Bunge, Nestlé, Casino/Pão de Açúcar, Unilever; e uma anfíbia, a belgo-brasileira AMBEV.
Uai, tá estranhando o quê? Não tem jogador de futebol que troca de cidadania para jogar na seleção de outro país?
Nossa mania de comer e beber é que faz o destaque. As dez produzem e distribuem alimentos. Mesmo as que se classificam como bioenergéticas, sempre foram as rainhas do açúcar.
Certa vez, citei aqui a batata cotada a 100 reais a saca de 50 kg. Fui contestado de que os agricultores, no campo, não recebiam isso. Verdade, embora eu tivesse me referido ao atacado. Hoje, na batata, sobra para o agricultor menos do que um real por quilo.
Como, às vezes, nos comentários, noto alguma confusão, sugiro um exercício. Comparem o valor recebido pelos bataticultores com o de um desses saquinhos de batata chips que vocês compram nos supermercados.
Entenderão o desempenho das empresas relacionadas no “Anuário do Agronegócio”.
Com a vantagem de que, para elas, nunca sobram os olhares preocupados de William e Patrícia, no Jornal Nacional. Estes ficam para produtores de tomate, feijão, banana e, eventualmente, o salário de um médico importado de Cuba.

A China e a revolução bloqueada


Compartilho, com este artigo, uma pequena reflexão sobre a Revolução Chinesa e seu estado atual, pois creio que ela é, ao mesmo tempo, a grande virada do século XXI e o “canto do cisne” de uma certa visão socialista, extraída mecanicamente, tanto  do marxismo economicista, como do idealismo voluntarista, que caracteriza algumas posições da esquerda socialista. Fica claro que estes comentários não pretendem transmitir nenhuma lição sobre o tema, nem impugnar linhas de abordagem já definidas dentro do espectro da esquerda sobre o assunto, mas manifestar uma opinião marginal sobre o tema para colaborar com um debate que será, creio eu, um dos mais importantes deste século.

A grave contradição entre instaurar relações de produção socialistas sem ter conhecido a revolução industrial, tendo que cumprir - com forças produtivas extremamente atrasadas - agendas de desenvolvimento e promoção social, muito além das possibilidades oferecidas pela técnica e pela ciência, pela consciência de classe e pelo contingente de trabalhadores envolvidos nestas tarefas,  é a base, na minha opinião, do drama chinês para o progresso e, ao mesmo tempo, a demonstração da força extraordinária de um povo que se ergueu da miséria e do atraso e está construindo um grande país. 

A China  será a grande potência econômica e militar do Século XXI, superando os grandes países colonizadores  e imperialistas do Ocidente industrializado, que deram as cartas ao mundo dos pobres nos últimos duzentos anos. Rússia, Estados Unidos, Inglaterra, talvez União Européia, estarão também no centro do tabuleiro mundial, olhando e interferindo  numa nova relação de forças para promover seus interesses. 

Assim como a crise americana atual interessa ao mundo, da mesma forma que o  keinesianismo interessou a todos, para responder à crise de 29, o destino da China interessa-nos, também, em função  de duas questões adicionais: sua crise ambiental e a originalidade do seu modelo de desenvolvimento. Eles condensam tanto os problemas originários do desenvolvimento capitalista típico, assim como os ambientais  de um desenvolvimento socialista tradicional, ambos baseados numa exploração irracional da naturalidade, seja para a aceleração da acumulação (privada ou estatal), seja para concentrar lucros ou reparti-los.

Se a China vai desenvolver alguma semelhança com um socialismo tipo “soviético”  - pensado por Lenin nos anos 20 do século passado - ou vai se encaminhar para uma espécie de “social-democracia” novo tipo, baseada na tradição milenar da centralização imperial chinesa, ainda é cedo para dizer. O que se pode afirmar, porém, é que a Revolução Cultural, iniciada nos anos 60, foi derrotada, e que a Revolução Nacional Popular, vitoriosa nos anos 50, não inaugurou qualquer estrada reta em direção ao que se pensava ser o socialismo, seja nos moldes do marxismo-leninismo tipo soviético, seja com fundamento na dogmática da Revolução Cultural.

Se compararmos o que está acontecendo na China nos dias de hoje, com os processos históricos mais próximos - em termos de desenvolvimento industrial e organização estatal moderna - como a Revolução Industrial Inglesa, a colonização interna dos EEUU e a sua modernização industrial como sucedâneo da dominação imperialista, o grande salto industrial da União Soviética a partir dos anos 30, chegaremos à conclusão que a formação da China atual  - independentemente dos nossos juízos sobre as formas mais ou menos humanistas como estes processos se realizaram - é o mais formidável salto que um governo e um povo realizaram para melhorar a vida das pessoas e combater a miséria e a fome.

Como diz Edward Said, “o mundo, hoje, não existe como espetáculo sobre o qual possamos alimentar pessimismo ou otimismo, sobre o qual nossos ‘textos’ possam ser interessantes ou maçantes. Todas essas atitudes supõem o exercício de poder e interesses”. O otimismo voluntarista espelhado na violência da Revolução Cultural Chinesa  (a revolução como estímulo moral para formação do homem novo desligado do passado e da tradição) e o pessimismo - de certa forma apologético - inspirado na “teoria da dependência”  (que na política torna-se defesa do desenvolvimento subordinado aos países centrais)  estão bloqueados.

De um lado, este “bloqueio” dá-se pela impossibilidade concreta da solidariedade entre os trabalhadores no plano internacional e, de outro, pela necessidade de que os países mais fortes - em termos econômicos e militares - disputem a melhor possibilidade para, na relação com países ricos em matérias primas e em terras, obter melhores condições para fortalecer-se perante os seus rivais militares e econômicos.

A impossibilidade da solidariedade “classista” nas lutas dos trabalhadores do mundo vem de que  a fragmentação no processo produtivo e a concorrência intra-classe  (entre os nacionais e  imigrantes),  impede programas comuns de luta contra as dominações internas e exacerba o corporativismo economicista.

Acresça-se a isso o  fato que os países que  ainda se mantém com a retórica do internacionalismo proletário vêem, na verdade, uma revolução nos países mais débeis  -supostamente amigos-  como uma instabilidade que pode bloquear “relações de cooperação”.

Os grandes movimentos anti-sistema da atual década, com sentido ainda que espontaneísta contra os poderes (sejam eles quais forem) vem dos jovens sub-empregados e desempregados, de uma pequena-burguesia ressentida por não poder fruir de maiores níveis de consumo, dos servidores públicos ainda com razoável nível de vida (comparados com os mais excluídos), vem  de setores libertários de certas frações de classe, sendo quase nula a ação anti-sistema dos trabalhadores “com carteira”, ou seja, daqueles que numa virada revolucionária tomariam conta não só da produção, mas do poder político.

Lembremos: na visão marxista e tradicional da revolução, a classe operária (ou os “trabalhadores”) sujeitos da revolução, passariam a dominar, tanto o Estado, como a impulsionar a dirigir a revolução na produção, para não mais trabalharem como escravos modernos do capital.  A esfinge chinesa nos indaga sobre tudo isso: de uma parte, é um mito que os trabalhadores chineses atuais são escravos do Estado ou tenham níveis de exploração mais duros do que a média dos países capitalistas de todo o mundo, assim como é um mito de que a “ditadura do partido” domina a vida de  um bilhão e trezentas mil pessoas, a menos que se aceite que estas pessoas são seres inferiores alienados pela propaganda e pela repressão.

O que existe na China é um regime autoritário, baseado num intercâmbio de interesses entre o Partido Comunista Chinês, que controla o aparato de Estado e exerce uma plena hegemonia cultural –em termos de valores, produção científica e artística-  e a ampla maioria do povo chinês,  cuja vida melhorou muito nos últimos trinta anos, após as reformas dirigidas pelo Presidente Teng Hsiau-ping.

A China nunca teve uma democracia em moldes ocidentais e, se é verdade que seu modelo não cabe ser replicado a partir dos valores democráticos (ocidentais-iluministas), também é verdade que o seu regime não se manteria sem um alto grau de consenso, inclusive privilegiadamente em  amplos setores das classes trabalhadoras. Se este regime manter-se-á, ou não, à longo prazo, dependerá dos maiores ou menores benefícios concretos que ele vai aportar na vida milhões de chineses  nas próximas décadas. Mas o que creio ser certo é que se na China for adotado, em algum momento, um regime ocidental capitalista típico, o país  vai é aumentar a miséria, o crime, exclusão e  a violência social.

Da tomada do poder em 1950,  até a Revolução Cultural na década de sessenta, a China lançou os fundamentos de uma Revolução Industrial Manufatureira com base numa exploração intensiva do campo. A partir desta base manufatureira, que se consolidou e ampliou com as reformas de  Deng na década de 80  - superados os desatinos voluntaristas  da guarda vermelha maoísta - exportando manufaturas aos bilhões e de baixo custo, a China acumulou reservas trilionárias. Este modelo se esgotou, não só pela resistência dos países importadores, como também pelas freqüentes violações às regras da OMC, após ter incluído na nova sociedade de classes trezentos milhões de chineses.

Passa a China, agora,  para uma nova etapa: disputar o comércio mundial com produtos de valor agregado mais nobres, associar-se com capitais locais nos países que tenham  regimes de cooperação de Estado para Estado, expandir suas empresas estatais e privadas para relocalizá-las  em outros territórios, com muita terra, água e energia. Esta nova etapa da nação e do Estado chinês é que pode servir de oportunidade para países como Brasil, a Índia, a África do Sul  e para os demais países que pretendam promover cooperações interdependentes sem submissão.

Essa cooperação só poderá ser consolidada tendo como interlocutores os BRICS, geridos  por governos legítimos em Estados democráticos fortes, aparelhados para planejar e induzir o  seu desenvolvimento econômico e social, com empresas privadas e públicas  de alta qualificação tecnológica e gerencial.

A China, como qualquer mega-país, não estabelecerá relações de cooperação que não atendam os seus interesses históricos e as necessidades sociais do seu povo ou que prejudiquem a sua vocação hegemônica. Compete a cada país defender e preservar, sem romantismos,  “seu poder e seus interesses” – como diz Edward Said - , transformando, pelos menos por agora,  a utopia longínqua de um mundo “irmão” baseado no socialismo, pela utopia concreta de uma soma de países interdependentes,  que preservem as melhores possibilidades para enfrentarem  -através de  cooperações negociadas soberanamente-  a miséria e a exclusão.

Em 8 de agosto de 1966 o “Pekin Informa” n.33, publicou a seguinte nota: “A luta levada a cabo pelo proletariado contra o pensamento, a cultura, os hábitos, os costumes antigos, transmitidos por todas  as classes exploradoras durante milênios, durará necessariamente um período extremamente longo. Assim, os grupos, comitês e congressos da revolução cultural, não devem ser organizações temporárias, mas organizações de massa permanentes, destinadas a atuar durante longo tempo.” 

Levada a sério esta visão  do PC chinês, naquela oportunidade, poder-se-ia concluir que os velhos hábitos e costumes antigos ganharam na China de Teng Hsiao-ping e que a contra-revolução venceu. Mas, se a contra-revolução venceu  e tirou da miséria trezentos milhões de chineses até os dias de hoje  e tirará mais duzentos milhões até o ano de 2023, não foi bom a contra-revolução ter vencido?  Ou, quem sabe, não era uma contra-revolução?   Os velhos, as crianças antes famintas, os jovens antes pobres e desempregados, as milhões de mães que não mais viram seus filhos se esvaírem na febre e na miséria são concretos.  Talvez uma boa resposta também venha deles. Para o futuro.

(*) Governador do Rio Grande do Sul

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Economistas afirmam que governo superestimou benefícios da Copa


Geração de 720 mil empregos, atração de 600 mil turistas estrangeiros e impactos econômicos de até R$ 142 bilhões. Esses são alguns dos benefícios citados por representantes do governo brasileiro para justificar a realização da Copa do Mundo de 2014 no país. Os números constam de estudos feitos por consultorias renomadas, a Ernest & Young e a Value Partners, que estimaram em 2010 os efeitos do Mundial da Fifa sobre a economia nacional.
Três anos depois, entretanto, esses dados estão sendo contestados por economistas de importantes universidades brasileiras. Dois trabalhos, um feito na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e outro na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), debruçaram-se sobre as projeções otimistas já divulgadas e chegaram a uma conclusão comum: os benefícios da Copa de 2014 foram superestimados.
Isso é o que diz um artigo assinado pelo professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Proni, publicado ainda em 2012. O trabalho foi feito em parceria com o economista Leonardo Oliveira da Silva, que também estudou na Unicamp. Segundo o texto, "estudos [usados pelo governo] introduzem hipóteses que simplificam demais as projeções e ignoram preceitos econômicos" com a intenção de "alimentar altas expectativas em relação aos efeitos positivos da Copa".
Em entrevista ao UOL Esporte, Proni explicou que há diversas "limitações na metodologia" usada pelas consultorias que fizeram projeções sobre a Copa. Ele disse que não foram consideradas possibilidades de mudanças no cenário econômico ou mesmo uma queda na confiança de empresários com relação à economia nacional. Por isso, todos os dados apresentados acabam não sendo realistas.
"De 2011 em diante, o ritmo de crescimento da economia brasileira caiu. Nenhum estudo previa isso. Com a mudança no cenário, os investimentos privados na Copa diminuíram.Muitos projetos de hotéis foram adiados, por exemplo", disse ele, lembrando que a redução do interesse de empresários pelo Mundial é um dos motivos pelo qual o torneio não será tão benéfico à economia quanto o esperado.
Proni ainda afirmou que as estimativas sobre a geração de emprego também são "limitadas", pois não consideram um ganho de produtividade de trabalhadores. Segundo ele, uma obra que demandava mil funcionários em 2010, por exemplo, hoje pode ser feita por menos pessoas, já que a tecnologia na construção evoluiu.
"Se o estudo não leva isso em consideração, tende a superestimar as contratações", afirmou. "Parece que essas projeções mais otimistas são usadas como parte de um discurso para legitimar todo o investimento público em um evento como a Copa do Mundo", completou.
Segundo a última lista de projetos da Copa, os preparativos para o torneio custarão R$ 25,5 bilhões. Aproximadamente 85% disso serão custeados pelo Poder Público ou com financiamento concedido por bancos estatais. Menos de 15% serão pagos diretamente pelo setor privado.
O estudo da UFMG, assinado por Edson Paulo Domingues, Ademir Antonio Betarelli Junior e Aline Souza Magalhães ainda acrescenta que a atração de turistas também terá um efeito colateral. Segundo o artigo, "um megaevento como a Copa apenas substitui turistas usuais por 'turistas-copa'". Portanto, não eleva consideravelmente os ganhos do país-sede, diferentemente do estimado por consultorias.
Por causa disso e de outros fatores, o artigo da UFMG ratifica que é impossível mensurar quanto efetivamente o Mundial da Fifa trará de benefícios para o Brasil. O artigo lembra, contudo, que diversos estudos econômicos feitos sobre eventos esportivos antes de sua realização superestimaram seus benefícios. Isso, inclusive, é uma conclusão comum de estudiosos de vários países, que avaliaram vários eventos.
O Ministério do Esporte foi procurado nesta terça-feira pelo UOL Esporte para comentar as conclusões dos pesquisadores de universidades. Não se pronunciou.
Na semana passada, porém, o órgão divulgou um balanço positivo sobre a realização da Copa das Confederações de 2013 no Brasil. De acordo com o órgão, o torneio movimentou mais R$ 740 milhões em turismo no Brasil. Cada estrangeiro que veio ao país gastou em média R$ 4.854, contra R$ 1.042 dos turistas brasileiros.
Foram criados 24,5 mil empregos nos seis estádios usados na competição, a qual gerou R$ 100 milhões em novos negócios para micro e pequenas empresas brasileiras. Só em artesanato, foram vendidos R$ 2,7 milhões.

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Nobel de Economia alerta para risco de estouro de nova bolha

Divulgação

As bolhas imobiliárias e financeiras seguem na ordem do dia e o perigo de uma crise ao estilo da de 2008 não está tão distante, adverte Robert J. Shiller.

Londres - O mundo não aprende. As bolhas imobiliárias e financeiras seguem na ordem do dia e o perigo de uma crise ao estilo da de 2008 não está tão distante. O último a fazer esse alerta é o Nobel de Economia Robert J. Shiller. “Em muitos países os preços imobiliários e nas bolsas têm subido muito. Estou particularmente preocupado com o boom nos Estados Unidos porque nossa economia ainda está fraca e vulnerável. Tudo isso pode terminar mal”, disse Shiller domingo à revista alemã Der Spiegel.


Segundo Shiller, a bolha não se limita aos países anglo-saxões, cujas economias estão tradicionalmente mais pendentes de movimentos financeiros e imobiliários. Em suas declarações o economista destacou o aumento do preço dos imóveis no Rio de Janeiro nos últimos cinco anos. “Me parece um pouco o que ocorreu nos Estados Unidos em 2004, quando se justificava essa situação pelas oportunidades de investimento que existiam e por uma florescente classe média”, disse Shiller a Der Spiegel. Ele não é apenas o Prêmio Nobel. Shiller foi um dos poucos a prever um ano antes o colapso das hipotecas “subprime” em 2008 e seu índice “Case Shiller” é uma referência para o cálculo dos preços imobiliários nos Estados Unidos.



A bolha anglo-saxã 
Em abril deste ano o índice Shiller estimou que o ritmo de aumento dos imóveis nos Estados Unidos havia alcançado seu nível máximo desde o feroz estouro da bolha em 2007-2008. Em setembro, o movimento seguia sendo claramente de alta com uma elevação interanual dos preços hipotecários de 12,8%. Em lugares como Sacramento, o incremento disparava para 34,1%. Em Las Vegas, era de 33,3%, em Riverside, Califórnia, de 31%. 



Enquanto isso, no Reino Unido, o preço da moradia está subindo 6,5% ao ano, mais do dobro da inflação em um país com salários virtualmente congelados. Esta porcentagem dispara quando se analisa o caso particular de Londres onde a propriedade aumento 9,7% nos últimos 12 meses, ritmo superior ao máximo obtido em 2008.



Um colapso imobiliário no Reino Unido ou no Brasil não teria um impacto global. A situação muda de figura se a bolha estourar nos Estados Unidos. Diferentemente da crise de 2008, alimentada pela venda de “hipotecas podres” a pessoas que muitas vezes não tinham emprego, a bolha atual pode ser sentida no segmento de renda média alta e alta por meio das chamadas “hipotecas jumbo”.



A regulação do mercado hipotecário estadunidense estipula um teto de 417 mil dólares para os empréstimos a um imóvel de família típico, limite que sobe para 625 mil dólares em áreas mais caras como Nova York ou Los Angeles. As hipotecas jumbo se situam acima dessas cifras e tem uma taxa de juro mais alta – cerca de 0,25% a mais – para incorporar ao preço do empréstimo o risco adicional de um montante muito mais alto. Mas agora os bancos estão promovendo hipotecas jumbo de 30 anos que custam menos que os empréstimos para uma família standard.



Um especialista do mercado imobiliário na Flórida, Peter Zalewski, de Condo Vultures, considera que a bolha está em pleno desenvolvimento. “A diferença é que agora vemos nichos, as propriedades que valem ao redor de um milhão de dólares, por exemplo, às quais têm acesso estadunidenses ou estrangeiros muito ricos e investidores institucionais. Os latino-americanos estão contribuindo ativamente para esta bolha”, disse Zalewski à Carta Maior.



O modelo econômico
No Reino Unido está ocorrendo um fenômeno similar. A imobiliária Savills calcula que 38% das moradias do centro de Londres estão sendo compradas por estrangeiros e, se só se leva em conta o imóvel recém-construído, esse percentual sobre para 74%. Segundo alguns o impacto  que isso tem no modelo econômico britânico é que está se convertendo em um país de agentes imobiliários, como ironizou em outubro um editorial do The Guardian. “Hoje há cerca de 562 mil agentes imobiliários, recorde histórico; no último ano se somaram cerca de 77 mil novos empregados no setor”, resumia o editorial.



Este nível de emprego é indicador de um modelo econômico que segue aferrado ao consumo baseado no crédito e na especulação imobiliária. A diferença é que agora as autoridades são mais conscientes de que as bolhas terminam por estourar com consequências devastadoras. Na sexta-feira, o novo presidente do Banco da Inglaterra, o canadense Mark Carney, interveio desviando para pequenas e médias empresas fundos de ajuda destinados ao setor imobiliário. “Seria bom que as pessoas se perguntassem se poderão pagar em cinco ou dez anos os créditos hipotecários se as taxas de juro aumentarem”, advertiu Carney ao The Guardian.



O problema é que o crescimento é tão dependente do crédito no Reino Unido que o debate desta semana é que impacto terá na economia que cresceu no último trimestre um anêmico 0,8%. Esta dependência econômica está igualmente presente nos Estados Unidos e foi a base da crise de 2008. Segundo o co-diretor do Center for Economic and Policy Research de Washington, Dean Baker, as mudanças no sistema regulatório para enfrentar o problema tem sido de natureza cosmética. “O crescimento dos últimos 10 anos se baseou em bolhas. É assombroso que a Reserva Federal não tenha visto isso. O sistema regulatório apenas mudou um pouco”, disse à Carta Maior.

Índios protestam contra mudança nas demarcações

Grupo cercou o Palácio do Planalto e entrou em confronto com seguranças. Proposta que muda atuação da Funai é foco de tensão

Índios


Um grupo com cerca de 1,2 mil índios de várias etnias cercou o Palácio do Planalto, em Brasília, na manhã desta quarta-feira 4, para protestar contra o que consideram ser mais uma iniciativa do governo federal para inviabilizar a demarcação de terras indígenas. A presidenta Dilma Rousseff não estava no local.
Durante o protesto, os índios chegaram a entrar em conflito com seguranças do Palácio do Planalto e a fechar o trânsito em vários trechos da Esplanada dos Ministérios.
O estopim da manifestação foi a minuta (esboço) de uma portaria que, segundo as lideranças indígenas, o Ministério da Justiça está produzindo. Representantes do movimento dizem ter tido acesso à cópia do documento no último final de semana. Segundo Sônia Guajajara, uma das coordenadoras da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o texto estabelece mudanças nos procedimentos legais necessários ao reconhecimento e à demarcação de terras indígenas.
A proposta, ainda segundo Sônia, visa a oficializar a proposta do governo federal de que outros órgãos de governo além da Fundação Nacional do Índio (Funai) sejam consultados sobre os processos demarcatórios em curso. A proposta foi apresentada pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ainda no primeiro semestre deste ano, com a justificativa de minimizar conflitos entre índios e produtores rurais.
“A gente entende que a minuta servirá só para dificultar ainda mais o processo de identificação e demarcação de terras. O governo federal e o Congresso Nacional estão aliados para atacar e diminuir os direitos indígenas, principalmente os territoriais, favorecendo o agronegócio e o latifúndio”, disse Sônia Guajajara à Agência Brasil, adiantando que o grupo quer ouvir o ministro José Eduardo Cardozo sobre o assunto.
“Há um momento em que as autoridades, e o ministro da Justiça, principalmente, têm que se posicionar e atuar para que os direitos sejam cumpridos, para implementar o que já é garantido constitucionalmente, e não adiar ainda mais isso. O efeito da demora na demarcação de novas terras indígenas é tensionar ainda mais a situação. O governo e o ministro pensam que estão mediando, apaziguando as tensões, mas os conflitos só vêm aumentando”, acrescentou Sônia.
Índios serão ouvidos
O Ministério da Justiça explicou em nota que a proposta de portaria contra a qual os índios fazem manifestação hoje (4) em Brasília - após terem acesso à minuta (esboço) do documento - tem o objetivo de solucionar os conflitos com produtores rurais nos processos de demarcação de terras indígenas.
No comunicado, divulgado ontem à noite, o ministério esclareceu que índios, entidades indigenistas, órgãos governamentais e associações de agricultores podem apresentar sugestões que vão ser levadas em conta na redação final da portaria, argumentando que o rascunho foi apresentado justamente para fomentar o debate público.
Ainda de acordo com o ministério, a intenção da portaria em estudo é “dar poderes” à Fundação Nacional do Índio (Funai) para que ela possa “mediar os conflitos envolvendo a demarcação de terras indígenas”. Além disso, a nova regulamentação permitirá a participação de outros órgãos interessados, aumentando a transparência no processo demarcatório.
“A expectativa do Ministério da Justiça é que o novo procedimento reduza a judicialização e, com isso, agilize a demarcação de terras indígenas em todo o país”, informa a nota ministerial.
Confronto
Nesta terça-feira, ao perceber a chegada dos índios, seguranças fecharam todas as portas de acesso ao Palácio do Planalto. Os índios rodearam o edifício e tentaram passar pela entrada lateral. Fazendo barulho e carregando faixas com pedidos de “demarcação de terra urgente”, alguns manifestantes forçaram a passagem, entrando em confronto com a segurança. Alguns seguranças chegaram a usar spray de pimenta para dispersar o grupo.
Após cerca de meia hora no local, parte do grupo seguiu para o Congresso Nacional. Outra parte se reuniu diante do Ministério da Justiça, impedindo o acesso dos servidores que chegavam. Policiais militares reforçam a segurança do local.
Além de criticar a minuta, os índios também cobram a apuração de crimes contra os povos indígenas, como o assassinato do cacique Ambrósio Vilhalba, da Aldeia Guarani-Kaiowá Guyraroká, em Cristalina (MS). Vilhalba foi encontrado morto segunda-feira 2. A Polícia Civil deteve dois suspeitos e investiga se a morte foi consequência de rixas entre o cacique e outras lideranças da aldeia.
“O governo deve deixar de promessas e cumprir o que prometeu para nós. Hoje você vê o povo indígena lá em Mato Grosso do Sul sendo assassinado por fazendeiros, por grandes pecuaristas, que querem tomar a terra do índio. Queremos demarcação de terras urgente. Não dá mais para aguentar. Também queremos direito à saúde e à educação. E respeito ao povo indígena”, disse o índio kinikinau, de Mato Grosso do Sul, Nicolau Flores.