quarta-feira, 23 de abril de 2014

O capitalismo global está destruindo a raça humana


Fora as armas nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já enfrentou. Ele levou a ganância a um patamar de força determinante da história.

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A teoria econômica ensina que os movimentos financeiros a preços e lucros livres garantem que o capitalismo produz o maior bem-estar para o maior número de pessoas. Perdas indicam atividade econômica em que os custos excedem o valor da produção, de modo que investimentos nestas áreas devem ser restritos. Lucros indicam atividades em que o valor de produção excede o custo, que fazem o investimento crescer. Os preços indicam a escassez relativa e o valor das entradas e saídas, servindo assim para organizar a produção mais eficientemente.

Essa teoria nao é o que funciona quando o governo dos EUA socializa custos e privatiza lucros, como vem sendo feito com o apoio do Banco Central aos bancos “grandes demais para quebrarem” e quando um punhado de instituições financeiras concentram tamanha atividade econômica. Bancos “privados” subsidiados não são diferentes das outrora publicamente subsidiadas indústrias da Grã Bretanha, França, Itália e dos países então países comunistas. Os bancos impuseram os custos de sua incompetência, ganância e corrupção sobre os contribuintes.
 
Na verdade, as empresas socializadas na Inglaterra e na França eram dirigidas mais eficientemente, e nunca ameaçavam as economias nacionais, menos ainda o mundo inteiro de ruína, como os bancos privados dos EUA, os “grande demais para quebrar” o fazem.  Os ingleses, franceses e os comunistas nunca tiveram 1 bilhão de dólares anuais, para salvar um punhado de empresas financeiras corruptas e incompetentes.

Isso só ocorre no “capitalismo de livre mercado”, em que capitalsitas, com a aprovação da corrupta Suprema Corte dos EUA, pode comprar o governo, que os representa, e não o eleitorado. Assim, a tributação e o poder de criação de dinheiro do governo são usados para bancar poucas instituições financeiras às custas do resto do país. É isso o que significa “mercados autorregulados”.

Há muitos anos, Ralhp Gomery alertou que os danos para os trabalhadores estadunidenses dos empregos no exterior seria superado pela robótica. Gomery me disse que a propriedade de patentes tecnológicas é altamente concentrada e que as inovações tornaram os robôs cada vez mais humanos em suas capacidades. Consequentemente, a perspectiva para o emprego humano é sombria.

As palavras de Gomory reverberam em mim quando leio o informe da RT, de 15 de fevereiro último, com especialistas de Harvard que construíram máquinas móveis programadas com com termos lógicos de auto-organização e capazes de executarem tarefas complexas sem direção central ou controle remoto.


A RT não entende as implicações. Em vez de levantar uma bandeira vermelha, a RT se entusiasma: “as possibilidades são vastas. As máquinas podem ser feitas para construir qualquer estrutura tri-dimensional por si sós, e com mínima instrução. Mas o que é realmente impressionante é a sua capacidade de adaptação ao seu ambiente de trabalho e a cada um deles; para calcular perdas, reorganizar esforços e fazer ajustes. Já está claro que o desenvolvimento fará maravilhas para a humanidade no espaço, e em lugares de difícil acesso e em outras situações difíceis”.

Do modo como o mundo está organizado, sob poucos e imensamente poderosos e gananciosos interesses privados, a tecnologia nada fará pela humanidade. A tecnologia significa que os humanos não serão mais requeridos na força de trabalho e que os exércitos de robôs sem emoção tomarão o lugar dos exércitos humanos e não há qualquer remorso quanto a destruir os humanos que os desenvolveram. O quadro que emerge é mais ameaçador que as previsões de Alex Jones. Diante da pequena demanda por trabalho humano, muito poucos pensadores preveem que os ricos pretendem aniquilar a raça humana e viver num ambiente dentre poucos, servidos por seus robôs. Se essa história ainda não foi escrita como ficção científica, alguém deveria se dedicar a fazê-lo, antes que se torne algo comum da realidade.

Os cientistas de Harvard estão orgulhosos de sua conquista, assim como sem dúvida estavam os participantes do Projeto Manhattan, em relação à conquista por terem produzido uma arma nuclear. Mas o sucesso dos cientistas do Projeto Manhattan não foi muito bom para os residentes de Hiroshima e Nagasaki, e a perspectiva de uma guerra nuclear continua a lançar uma nuvem negra sobre o mundo.

A tecnologia de Harvard provará que é inimiga da raça humana. Esse resultado não é necessário, mas os ideólogos do livre mercado pensam que qualquer planejamento ou antecipação é uma interferência no mercado, que sempre sabe melhor (daí a atual crise financeira e econômica). A ideologia do livre mercado alia-se ao controle social e serve a interesses de curto prazo de gananciosos grupos privados. Em vez de ser usada para a humanidade, a tecnologia será usada para o lucro de um punhado.

Essa é a intenção, mas qual é a realidade? Como pode haver uma economia de consumo se não há emprego? Não pode, que é o que estamos aprendendo gradativamente com a exportação de empregos pelas corporações globais, para o exterior. Por um período limitado uma economia pode continuar a funcionar na base de empregos de meio turno, rebaixamento de salários, cartões de benefícios sociais – de segurança alimentar e auxílio-desemprego.

Quando a poupança cai, no entanto, quando os políticos sem coração que demonizam os pobres cortam esses benefícios, a economia deixa de produzir mercado para consumir os bens importados que as corporações trazem para vender.

Aqui vemos o fracasso total da mão invisível de Adam Smith. Cada corporação em busca de vantagens gerenciais maiores, determinadas pelos lucros obtidos em parte pela produção da destruição do mercado consumidor dos EUA e da miséria maior de todos.

A economia smithiana aplica-se a economias nas quais os capitalistas têm algum sentido de vida comum com outros cidadãos do país, como o tinha Henry Ford.
 
Algum tipo de pertencimento a um país ou a uma cidade. A globalização destrói esse sentido. O capitalismo evoluiu ao ponto em que os interesses econômicos mais poderosos, os interesses que controlam o próprio governo, não têm sentido de obrigação com o país nos quais seus negócios estão registrados. Fora as armas nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já teve diante de si.

O capitalismo internacional levou a ganância a um patamar de força determinante da história. O capitalismo desregulado e dirigido pela ganância está destruindo as perspectivas de emprego no mundo desenvolvido e no mundo em desenvolvimento, cujas agriculturas se tornaram monoculturas para exportação a serviço dos capitalistas globais, para alimentarem a si mesmos. Quando vier a quebradeira, os capitalistas deixarão “a outra” humanidade à míngua.

Enquanto isso, os capitalistas declaram, em seus encontros de cúpula, “que há muita gente no mundo”.

Projeção para a inflação ultrapassa a meta do governo

A estimativa para o IPCA passou de 6,47% para 6,51%


A projeção de instituições financeiras para a inflação subiu pela sétima semana seguida. A estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 6,47% para 6,51%, este ano. Para 2015, a projeção foi mantida em 6,01%. Essas são as projeções de instituições financeiras consultadas todas as semanas, pelo Banco Central, sobre os principais indicadores da economia.

A estimativa para o IPCA em 2014 superou o limite superior da meta que é 6,5%. Essa meta tem como centro 4,5%. É função do Banco Central fazer com que a inflação fique dentro da meta. Um dos instrumentos usados para influenciar a atividade econômica e, consequentemente, a inflação, é a taxa básica de juros, a Selic.

Quando o Comitê de Política Monetária do Banco Central aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida. Isso reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, mas a medida alivia o controle sobre a inflação.
O BC tem que encontrar equilíbrio ao tomar decisões sobre a taxa básica de juros, de modo a fazer com que a inflação fique dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

A projeção das instituições financeiras para a Selic foi mantida em 11,25% ao ano, ao final de 2014, e em 12% ao ano, no fim de 2015.

A pesquisa semanal do BC também traz a mediana das expectativas para a inflação verificada pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que passou de 7,28% para 7,35%, em 2014, e segue em 5,50%, em 2015. Para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), a estimativa foi mantida em 7,20%, este ano, e em 5,50%, em 2015.

A estimativa da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) segue em 6,19%, este ano, e em 5%, em 2015.

Deu na BBC: o PIB ainda faz sentido?


O êxito econômico de um determinado país medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) é suficiente para avaliar a situação de sua economia e de seu povo?

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A British Broadcasting Corporation (BBC) em sua versão digital publicou texto com considerações sobre o alcance da medição do Produto Interno Bruto (PIB) com a indagação se ele ainda reflete bem o êxito de um determinado país. A medida do tamanho da riqueza material de um país, ou o PIB, foi elaborada no início dos anos 30 e desde então é usada pela maioria dos países que dispõem de sistemas próprios de levantamento.

A questão não é nova, mas continua na ordem do dia porque outra forma não foi ainda encontrada para retratar as condições econômicas, mas também as sociais de um país em substituição. Falta sim uma metodologia que indique simplesmente a resposta à questão: como está um país social e economicamente?

Em outras palavras, o êxito de um país medido pelo PIB é suficiente para avaliar a situação de sua economia e de seu povo, tanto da parcela que trabalha e a outra que não – parte na escola, ou na aposentadoria, ou retirada por doença ou incapacidade, etc. ?

Já houve uma tentativa nesta direção. O índice de desenvolvimento humano (IDH) também é usado há tempos para indicar como estão as condições e a situação de bem estar humano de um país e tentar contornar a limitação social do PIB. O IDH se vale de dados sobre expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita. Desenvolvido em 1990 vem sendo usado desde 1993 pelo PNUD%u215ONU e replicado por muitos especialistas, governos e instituições.

Outras metodologias viram e mexem aparecem para aprimorar as existentes ou lançar ideias novas que possam ser aproveitadas para chegar a um indicador ou indicadores que melhor reflitam a realidade econômica e social de um país.

No Fórum Econômico Mundial foi apresentado pela ONG Imperativo do Progresso Social outro indicador, o índice de progresso social (IPS), que integra uma metodologia envolvendo 54 diferentes aspectos do bem estar de uma sociedade (saneamento, nutrição, educação, saúde, meio ambiente, entre outros).

O objetivo do indicador é responder a três perguntas: Como estão sendo providas as necessidades básicas da população? Há condições para que as pessoas e comunidades consigam melhorar o nível de bem estar? Existem oportunidades para que essas condições sejam aprimoradas?

De fato, ao se aliar valores e variações do PIB com as do IDH ou do IPS é possível ter uma ideia melhor e mais acurada sobre o lado econômico de um país e o lado social e humano de sua população. A combinação desses indicadores mostra, no entanto, que mesmo uma fotografia mais acurada de um país deixará de revelar no quadro resumo de sua situação econômica e social como suas relações e condições predominantes interagem e o fazem do jeito que seus indicadores numeram.

Embora o Brasil esteja situado entre as 10 economias mais fortes do mundo e seu IDH ou IPS se classifiquem no grupo do meio dos indicadores de todos os países, a visão resumida de sua situação econômica e social não permite concluir que seu lado social está mais ou menos bem atendido, se, por exemplo, de um lado estão os moradores do Morumbi, de outro a população que habita as favelas na margem do Tietê; se de um lado os moradores de Ipanema, de outro os habitantes da Rocinha. Cada grupo representando indicadores econômicos e sociais totalmente díspares e não em torno da média geral.

A deficiência está em que o IDH e o IPS trabalham com o PIB per capita. A média do produto comandado pelos moradores do Morumbi e aquela do produto fabricado ou não pelos moradores das favelas do Tietê deve superar com folga a média do produto per capita da cidade de São Paulo. O mesmo em relação ao Rio de Janeiro no exemplo acima.

Nossa opinião é que a avaliação econômica pode ser referenciada em torno da média, mas não a avaliação social. Embora a situação econômica de uma favela seja muito próxima a sua situação social, aglomerações econômicas de empresas podem absorver empresas terceirizadas ou terceirizadas de terceirizadas, perfazendo uma rede em árvore de enormes empresas encabeçando milhares de médias, pequenas e individuais na base.

Essa rede de empresas por sua vez eleva a renda de todas e melhora a diferença de rendas entre elas, permitindo que se aproximem as rendas entre as empresas mais fracas e dessas para as superiores desde que as empresas mais fortes consigam se manter no mercado produzindo e puxando o cordão da rede.

O mesmo não ocorre com os indivíduos. A esses aparecem biscates, trabalhos por conta própria, jornadas temporárias de trabalho, tarefas eventuais. A disparidade de rendimentos entre eles é imensa e não há indivíduo ou grupo que segure sua permanência no mercado na rede em árvore semelhante a das empresas.

Nessas condições, onde é vigente esse tipo de padrão de economia e sociedade pelo menos na América Latina, América Central, Ásia e África, os melhores indicadores das respectivas situações econômica e social são o PIB e o perfil da distribuição de renda. O primeiro segue indicando o grau de riqueza do país, o segundo como a riqueza ou a renda é distribuída.

Por quê? Porque uma renda bem distribuída significa que, economicamente, indivíduos e famílias têm condições de se manter e até de pagarem no mínimo os gastos de educação, saúde, habitação e transporte que necessitam.

O Brasil deve se manter em 2014 como a 7ª economia do mundo pelo tamanho de seu PÌB ou do valor de sua riqueza produzida. A desigualdade de renda, no entanto, deve melhorar um pouco aliviando o país de sua colocação constrangedora: está, segundo o PNUD, entre os cinco países mais desiguais da América Latina (Honduras, Bolívia, Colômbia, Brasil e Chile), que é no total a região de mais alta desigualdade no mundo. Com menor desigualdade estão Nicarágua, Argentina, Venezuela, Uruguai, Jamaica e Peru.

O Brasil tem condições de continuar se mantendo entre as 10 economias mais fortes do mundo e enfrentando as más condições de vida dos mais pobres pelo aumento de seus acessos a renda e pela redução da desigualdade. Tal como têm conseguido os programas sociais pelos resultados atingidos, responsáveis em boa medida pela melhoria do perfil da distribuição de renda do Brasil na última década. Mas precisa o país para tanto permanecer com um olho na produção e o outro na sua distribuição mais justa.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Mercado volta a piorar previsão para inflação de 2014


SÃO PAULO  -  As expectativas do mercado para a inflação deste e do próximo ano se deterioraram mais uma vez, de acordo com o boletim semanal Focus, do Banco Central, que colhe estimativas entre cerca de cem instituições do mercado financeiro.
A mediana das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2014 subiu pela sexta semana consecutiva, de 6,35% para 6,47%, um nível bem próximo ao teto do intervalo para a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central, de 6,50%.
Para 2015, a mediana avançou de 5,84% para 6%. Na leitura do IPCA em 12 meses, as expectativas saíram de 6,07% para 6,12%. A projeção para a inflação em abril subiu de 0,61% para 0,69%.
As revisões ocorrem após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informar um IPCA maior que o esperado em março, 0,92%, puxado pela alta dos alimentos, que subiram por causa da seca, e também por outros fatores. A inflação de serviços voltou a ganhar força e agora está acima de 9% em 12 meses.
Além do choque do preço dos alimentos, ainda existe a expectativa do impacto da conta da energia elétrica, que pode ocorrer ainda em 2014, a despeito dos esforços do governo para amenizar esse efeito. De acordo com analistas, os primeiros reajustes autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na semana passada sinalizam um IPCA ma is alto. No Focus, a expectativa para o aumento dos preços administrados neste ano, que inclui energia elétrica, subiu de 4,45% para 4,60%. Para 2015, a estimativa avançou de 5,50% para 5,90%.
Apesar de uma expectativa de inflação deteriorada, o mercado manteve inalterada a aposta para a taxa Selic ao fim deste e do próximo ano. Para 2014, a taxa básica de juros é estimada em 11,25%, ante atuais 11%, e para 2015, em 12% ao ano.
Os analistas Top 5 – os que mais acertam as previsões – reduziram sua expectativa para o IPCA neste ano, mas elevaram-na para 2015. Eles não alteraram suas projeções para a Selic. A mediana de médio prazo para o IPCA em 2014 saiu de 6,57% para 6,49%, e para 2015, de 6% para 6,27%.
A projeção para a Selic seguiu em 11,88% em 2014 e em 13% em 2015.
(Ana Conceição | Valor)


quarta-feira, 9 de abril de 2014

EUA, onde o capital é rei

Segundo Thomas Piketty, o mundo volta ao capitalismo dominado pela riqueza herdada. Por Paul Krugman

Chicago 
Acabo de finalizar o esboço de uma longa resenha do novo livro de Thomas Piketty, Capital in the 21st Century, em que o economista francês afirma a volta do “capitalismo patrimonial”, dominado pela riqueza herdada. É livro surpreendente. Faz um trabalho incrível ao integrar em uma estrutura comum o crescimento econômico, a distribuição de renda (entre capital e trabalho) e a distribuição de renda individual.
Uma ligeira fraqueza do livro é, porém, não fazer um bom serviço ao explicar a explosão da desigualdade de renda nos Estados Unidos, que até agora foi conduzida principalmente pela renda dos salários, mais que do capital. Piketty aborda isso, mas é uma espécie de jornada paralela à história central. Não importa, ainda é uma obra-prima.
Uma coisa que me marca é a notável extensão em que o conservadorismo americano em 2014 parece se tratar de defender e promover o capitalismo patrimonial, apesar de ainda não termos chegado lá.
Pense na administração de George W. Bush, cujo principal tema econômico foi a mensagem da “sociedade da propriedade” – em que você não é realmente um americano completo, por mais que trabalhe, se não tiver muitos ativos. Pense na famosa mensagem no Twitter de Eric Cantor no Dia do Trabalho de 2012, em que o líder da maioria republicana na Câmara aproveitou a ocasião para comemorar os donos de empresas, em vez dos trabalhadores. Mais recentemente, Mike Konczal, do Instituto Roosevelt, indicou que apesar das alegações de que o Tea Party de certa forma representa uma rebelião contra o domínio do Partido Republicano pelas empresas, a agenda do partido corresponde quase perfeitamente aos objetivos de Wall Street.
Ah, e não esqueçamos a longa cruzada contra o imposto sobre espólios. Em suma, o Partido Republicano cada vez mais e constantemente apoia os interesses do capital sobre os do trabalho. Mas por quê?
Poderia considerar-se que o partido está reagindo a uma mudança na sociedade. Não há cada vez mais americanos proprietários de ativos, por exemplo, por meio de suas contas de aposentadoria?
Não. A concentração de renda do capital nas mãos de poucos aumentou acentuadamente. Hoje a metade do espectro político dá instintivamente muito mais respeito ao capital do que ao trabalho, em um momento em que a renda do capital se concentra cada vez mais em poucas mãos, e está a caminho de se concentrar principalmente nas mãos dos que herdaram sua riqueza. Curioso, não é?
Recebi um e-mail: “Paul, você é um traidor comunista subumano que deveria ser deportado. Você é uma desgraça para os fundadores da América e uma afronta à Constituição. Os republicanos acreditam em proteger o dinheiro dos trabalhadores e não dos receptores. Todos os trabalhadores, pobres e ricos, devem ser igualmente protegidos dos altos impostos”.
Recebo pelo menos uma dessas mensagens todos os dias. Mas é interessante ler isso logo depois de ter resenhado o livro de Piketty. Ele defende que a noção moderna de que a redistribuição e a “penalização do sucesso” são antiamericanas e discorda completamente da história real do país. Em uma subseção do livro intitulada “Taxação confiscatória de rendas excessivas: uma invenção americana”, ele mostra que os EUA, na verdade, foram pioneiros na taxação elevada dos ricos:
“Quando examinamos a história da taxação progressiva no século XX, é notável ver como a Grã-Bretanha e os EUA estavam extremamente adiantados, especialmente os últimos, que inventaram o imposto confiscatório sobre ‘rendas e fortunas excessivas’.”
Por que isso aconteceu? Piketty indica o ideal igualitário americano, que acompanhava o medo de criar uma aristocracia hereditária. Os altos impostos foram motivados em parte pelo “medo de parecer a velha Europa”. Entre os que pediram a alta taxação de espólios por motivos sociais e políticos estava o grande economista Irving Fisher.
Durante a Era Progressista, foi comum e amplamente aceito apoiar os altos impostos sobre os ricos, especificamente para impedir que os ricos ficassem mais ricos, posição que poucas pessoas na política hoje ousariam defender.
E, como meu correspondente ilustrou de maneira tão vívida, muitas pessoas hoje imaginam que a redistribuição e os altos impostos sobre os ricos são a antítese dos ideais americanos, e na verdade praticamente comunismo. Elas não têm ideia de que a redistribuição é, na realidade, tão americana quanto a torta de maçã.

O trabalho de cabeça para baixo

Parte predominante do trabalho intelectual está com os dias contados. Boa parte do trabalho em ação foi substituído pelo trabalho incorporado nas máquinas

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A utilização do trabalho humano nas sociedades modernas apresenta características distintas em muitos aspectos ao que ocorria em outras épocas da civilização. O trabalho em si, seu dispêndio de energia ou a chamada força de trabalho, pouco se alterou. Continua orientado para o fazer manual ou intelectual em última instância.

Por certo que o fazer manual teve alterações de acordo com a tecnologia conhecida. Hoje, por exemplo, quem fabrica ferraduras para cavalos não são mais os ferreiros com suas bigornas, embora em pequenas localidades isoladas é até possível que ainda existam, mas máquinas ferramentas com comando numérico ou não monitoradas por trabalhadores.

Da mesma maneira o trabalho intelectual sofreu variações. Se antes, em outro exemplo, um escriba tomava seu tempo anotando textos com pontas de penas e usando tintas extraídas de plantas, nos dias de hoje o computador armazena as informações para reproduzi-las por comando microeletrônico às impressoras.

Entre a bigorna e a máquina ferramenta, a caneta a ponta de pena e a impressora, pode-se descrever uma série de afazeres intermediários que são praticados hoje em dia aqui e ali. O uso da tecnologia fica a cargo das condições prevalecentes da produção social e da forma em que os detentores da tecnologia na produção a empregam para utilização pelo trabalho humano.

Assim, fazeres e afazeres vão dando o contorno do desempenho do trabalho nas várias formas de produção da sociedade. O que mais chama a atenção na longa história desse desenrolar da prática do trabalho é que as sociedades cada vez mais vão prescindindo do trabalho humano. 

O ser humano aprendeu nos tempos antigos a dominar as culturas de plantações e a domesticar os animais para sustento próprio e de sua família. Instrumentos rudimentares ajudavam-no como que multiplicando sua força de trabalho e os usos e habilidades de seus braços. Sua mente era usada pouco porque amestrada ao desempenho diário e costumeiro de suas tarefas.

Mais tarde ele é enxotado das áreas rurais pelas posses e domínios dos senhores de terra e vem para os burgos, as primeiras e incipientes cidades. De início, para se sustentar procura trabalhar aqui e ali aprendendo ofícios nos grêmios artesanais. De ofícios e artes.

A evolução e espraiamento dessas tarefas e atividades vão dar tempos depois nas fábricas nascentes. Onde artesãos e aprendizes deixam de trabalhar com seus instrumentos e saberes adquiridos e vão enfileirar as rotinas e espaços fabris de trabalho a mando e desígnio dos donos das fábricas. A maior produção fabril mina a resistência dos grêmios, associações e guildas. 

Nas condições fabris, o trabalho passa a ser pago ao trabalhador de fábrica pelo seu dispêndio da energia de seu trabalho, de sua força de trabalho, orientada aos interesses das fábricas.

A estória do trabalhador, portanto, pode ser assim resumidamente entendida. Ele que era rural, camponês, virou trabalhador artesanal, mestre ou aprendiz de ofício, que virou trabalhador fabril no começo, depois operário. Perde então de início seu trato rural, mais tarde seu saber e ofício do artesanato e por fim entra na fábrica apenas com sua disposição e necessidade de trabalhar.

Se seu trabalho rural era no início dos tempos uma mescla autônoma de saberes manual e intelectual, passa mais tarde no artesanato a uma mescla aprimorada e refinada dos mesmos saberes, para chegar em fase posterior à fábrica intensa e predominantemente voltada à aplicação do saber manual, mas não mais do trabalhador, mas da fábrica. Esta lhe ensina como trabalhar. Ele apenas segue as ordens e instruções.

Com a indústria, o trabalho fabril se agiganta,  produz muito mais e deixa de operar ferramentas simples ou complexas para se embrenhar num mundo de equipamentos, máquinas e dispositivos mecânicos, elétricos, hidráulicos, entre outros, de toda ordem.

Continua o trabalhador de forma progressiva a usar mais intensamente sua força de trabalho e sua energia para a produção de mercadorias. Objetos de todos os tipos de uso voltados para o mercado. Não mais o produto rural voltado para a família, nem o artesanal voltado para determinados e conhecidos compradores, mas para consumidores invisíveis ao trabalhador do chão industrial.

O trabalho intelectual vai sendo delegado cada vez mais para grupos específicos de trabalhadores. Reduzidos grupos. A maioria continua voltada para a execução das atividades e operações manuais. Só que noutra característica da ordem capitalista: produção com trabalho mais e mais intenso a cargo de menos e menos trabalhadores.

A diluição do trabalho nas indústrias pelos postos e ilhas de produção leva a que a maquinaria se torne a dona do pedaço. Os trabalhadores, de fato, deixam de realizar diretamente seus trabalhos porque passam a usar os pesados e complexos artefatos que agora realizam as operações necessárias e programadas para a produção. Monitoram e fazem a manutenção, não mais trabalham com as mãos. A cabeça serve apenas para seguir instruções e usar os manuais de operação.

Mas a sanha e a voracidade do capital em retirar o máximo da força produtiva do trabalhador não para por aí. Os computadores e demais dispositivos e aparelhos eletrônicos chegaram no ambiente industrial já faz tempo, bem como os métodos e técnicas de eficiência, eficácia, qualidade e zero retrabalho. Esta parafernália eletroeletrônica armazena informações, a maioria delas antes saber exclusivo do trabalhador.

A história do trabalhador através dos tempos é uma dura história de perdas. Não só de seu dispêndio de energia de trabalho, cada vez mais trocada pela maquinaria (e a robótica), mas também na atualidade pela perda do uso de sua mente. Atividades e ações intelectuais também estão sendo gradativamente retiradas do ambiente de trabalho e dispensadas do uso pelo trabalhador em benefício das operações de complexos programas informacionais e computacionais.

 Uma das últimas novidades conhecidas de tantas outras já em operação nos escritórios e chãos de indústria é uma plataforma de inteligência artificial. Ela é formada por vários programas cujo objetivo final é substituir trabalhadores na preparação, redação e distribuição de informes, análises e avaliações para a decisão das direções intermediárias e superiores das empresas.

A plataforma dispõe dos dados disponíveis e cria uma estrutura de narrativa padrão para satisfazer as expectativas das audiências específicas, ou no interior da empresa, ou no círculo externo. Usa de algoritmos complexos de inteligência artificial para extrair e organizar casos, fatos e informações especiais para transforma-los em relatos compreensíveis. Os dados são organizados pela própria plataforma artificial para responder questões importantes, fornecer sugestões de ação e proporcionar soluções precisas.

E aí minha gente, que tal a novidade? Ótima para o capital, péssima para o trabalho. Parte predominante do trabalho intelectual está com os dias contados. A produção capitalista levada a termo com a menor parcela possível do trabalho em atividade. Boa parte do trabalho em ação foi substituído pelo trabalho incorporado nas máquinas e nos sistemas. É o trabalho revirado de cabeça para baixo.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/O-trabalho-de-cabeca-para-baixo/7/30669

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Wall Street e o golpe econômico do século


Se a lei Johnson-Crapo passar, os pagadores de impostos dos EUA serão responsáveis por qualquer resgate considerado necessário pelos reguladores

Wall Street, via Wikimedia Commons

Os líderes do Comitê Bancário do Senado dos EUA, os senadores Tim Johnson e Mike Crapo, lançaram no último domingo um projeto de lei que proveria garantias explícitas por parte do governo sobre títulos lastreados em hipotécas (MBS, em inglês) gerados por bancos privados e instituições financeiras. Um giganteco lucro para Wall Street colocaria a corda no pescoço dos pagadores de impostos norte-americanos pelos 90% de perdas dos MBS envenenados, como aqueles que quebraram o sistema financeiro em 2008 e atolaram a economia no maior pântano desde a Grande Depressão. Defensores da lei dizem que as novas regras feitas pelo Escritório de Proteção ao Consumidor (CFPB, em inglês) - que coloca padrões para o que seria uma “hipoteca qualificada” - garantem que aqueles que pegarem emprestado terão condições de pagar suas dividas, o que reduziria as chances de uma nova quebra do sistema no futuro. No entanto, estas regras foram feitas por lobistas e advogados da indústria dos bancos, que acabaram com requerimentos rigorosos - como as tabelas FICO e os 20% de pagamentos adiantados - com o intuito de emprestar livremente a pessoas que talvez fossem menos capazes de pagar suas dividas. Além disso, uma cláusula particularmente letal foi inserida na lei e provê uma cobertura geral a todos MBS (tanto se estiverem dentro ou fora dos padrões da CFPB) caso outra crise financeira ocorra. Eis o parágrafo:

Sec. 305. Autoridade para proteger os pagadores de impostos em condições de mercado incomuns...
Se a Corporação, o Chefe da Reserva Federal dos Governadores e o Secretário do Tesouro, em acordo com o Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, determinarem que circunstâncias incomuns e exigentes ameaçam a disponibilidade do crédito hipotecário junto ao mercado habitacional norte-americano, o FMIC pode prover cobertura sobre títulos que não estejam dentro dos requisitos da seção 302, incluindo aqueles da perda em primera posição dos acionistas do mercado privado.” (“Freddie And Fannie Reform – The Monster Has Arrived”, Zero Hedge)


Em outras palavras, se a lei passar, os pagadores de impostos dos EUA serão responsáveis por todo e qualquer resgate considerado necessário pelos reguladores citados acima. E, tendo em vista que estes reguladores estão no bolso dos lobistas de Wall Street, não há dúvida do que eles farão quando este tempo chegar: vão resgatar os endinheirados e deixar os prejuízos ao povão.


Se você não consegue acreditar no que está lendo ou se pensa que o sistema é tão corrupto que não poderia ser corrigido, você não está sozinho. Esta última afronta apenas confirma que o Congresso, o Executivo e todos os reguladores são meras marionetes que fazem qualquer coisa pedida pelos chefões de Wall Street.
 
 
O objetivo da lei Johnson-Crapo é a de “inspecionar” as gigantes da hipoteca como a Fannie Mae (Federal National Mortgage Association - Associação Federal das Hipotecas, em português)  e a Frediie Mac (Federal Home Loan Mortgage Corporation, Coporação Federal de Empréstimos Imobiliários Hipotecários, em português) para que “o capital privado possa ter o papel principal nas finanças.” (foi assim que Barack Obama resumiu isso.) É claro que este não é o verdadeiro propósito. O objetivo real é que o domínio dos mecanismos de lucratividade esteja com os bancos privados (Fannie e Freddie têm nadado no dinheiro nos últimos três anos) enquanto os prejuízos sejam passados ao público. Isto é o que está ocorrendo de fato.
 
De acordo com o Wall Street Journal, a lei irá
 
“Construir e elaborar uma nova plataforma na qual um certo número de entidades do setor privado, junto de aparelhos públicos administrados por empresas privadas e reguladas federalmente, substituiriam o papel chave desempenhado há tempos pela Fannie e Freedie (N.E: que são entidades públicas)…”
 
“A legislação substitui as gigantes das finanças hipotecárias por um novo sistema onde o Governo continuaria a desempenhar um papel significativo nas dividas habitacionais norte-americanas.” (“Plan for Mortgage Giants Takes Shape”, Wall Street Journal)
 
 
“Papel significativo”? Que papel significativo? (E aqui fica mais interessante.)
 
 
Ainda segundo o Wall Street Journal:


“A lei do Senado ainda redirecionaria as reguladoras das empresas como uma nova “Corporação de Federal de Segurança das Hipotecas” (FMIC, em inglês) e atribuiria a esta agência a capacidade de aprovar que novas empresas possam transformar empréstimos em títulos. Estas empresas poderiam ter garantias federais de pagamento aos seus investidores. A FMIC asseguraria os títulos hipotecários quase da mesma forma que a Corporação Federal de Segurança dos Depósitos provê segurança aos depósitos bancários.”
 
 
Isto é inacreditável. Então eles querem transformar a Fannie e Freddie em uma companhia de seguros que protegeria as hipotecas quebradas criadas pelos mesmos bancos que acabaram de roubar de todos nós trilhões de dólares na mesma fraude maldita?  
 
 
Mais no Wall Street: “seriam necessários avalistas das hipotecas para manter uma margem de capital de 10% contra perdas antes que o seguro federal fosse acionado.”
 
10%?? E que raio de diferença fazem 10%? Isto é uma gota no oceano. Se os bancos vão oferecer hipotecas a quem não pode pagá-las, então eles mesmos devem cobrir suas perdas ou não deveriam ser bancos, certo?
 
 
Isso é um roubo tão grande que deveria ser impossível. Estes palhaços deveriam ser colocados pra fora do Senado. Mas a lei está seguindo adiante, e o Presidente Duas-Caras nem está se importando. Há algum tipo de atividade ilícita feita por baixo da mesa que esse presidente não apóia?

 
Não quando ela vem da parte de algum de seus grandes amigos banqueiros. Confiram este trecho do economista Dean Baker. Baker está se referindo a lei Corker-Warner, mas a Crapo-Johnson é quase a mesma coisa

 
“A lei Corker-Warner faz muito mais do que eliminar a Fannie e Freddie. Em seu lugar, ela estabeleceria um sistema onde as instituições financeiras privadas poderiam emitir títulos hipotecários segurados (MBS) que teriam uma garantia do governo. No caso de que um grande número de MBS dessem errado, os investidores perderiam apenas 10% de seu valor, depois disso quem arcaria com as dívidas seria o governo.”
  

Se você acha que isto parece um sistema razoável, então você não deve ter estado por perto durante a crise imobiliária e a crise financeira que a seguiu. No pico da crise nos anos de 2008 e 2009, a pior MBS era vendida entre 20 e 40 centavos de dólar. Isso significa que o governo arcaria com uma parte enorme dos custos sob o sistema Corker-Warner, mesmo se os investidores tivessem sido forçados a arcar com 10% do preço das MBS
 
A estrutura financeira pré-crise deu aos bancos um enorme incentivo para fazer pacotes de MBS de baixa qualidade ou até mesmo fradulentas. Um sistema baseado na lei Corker-Warner faria com que eses incentivos fossem ainda maiores. (“The disastrous idea for privatizing Fannie and Freddie”, Dean Baker, Al Jazeera)
 
 

Apenas pondere esta última parte por um minuto: “a lei faria com que estes incentivos fossem ainda maiores.”
 
Você realmente acha que deveríamos criar incentivos ainda maiores para que continuem a nos roubar? Mais um trecho de Baker:
 
“As mudanças na regulação financeira também não devem prover muita proteção. Logo quando a crise começou, havia demandas para que as seguradoras mantivessem uma participação substancial nas hipotecas que eleas colocassem nos seus lotes, para que tivessem um incentivo de segurar apenas boas hipotecas. Alguns reformadores estavam demandando algo em torno de 20% de participaçção para cada hipoteca.


Durante o debate sobre a lei Dodd-Frank, as regras subsequentes sobre esta participação se tornaram ainda menores. Ao invés de 20%, ficou decidido que as seguradoras teriam de manter 5% de participação. E para hipotecas de certos padrões elas não teriam de ter participação alguma.

 
Originalmente, apenas hipotecas nas quais o proprietário da casa tivesse pagado adiantado 20% ou mais da hipoteca é que poderiam ser consideradas deste bom padrão. Este corte fez com que esta pocentagem fosse para 10% e depois para 5%. Mesmo que as hipotecas como apenas 5% de pagamento adiantado tenham 4 vezes mais chances de não serem pagas, não será requisitado que as seguradoras mantenham nenhuma participação ao colocá-las em uma MBS.”

Espere aí, Dean. Você quer dizer que Dodd Frank não colocou as coisas de “maneira certa”? Eu pensava que “novas regras mais duras” nos asseguravam que os bancos não explodiriam o sistema de novo em 5 anos. Isso era conversa fiada?

Sim, claro que era. 100% conversa fiada. Uma vez que os bancos soltaram seu exército de advogados e lobistas em Capital Hill, as novas regulações não tiveram a menor chance. Transformaram Dodd Frank em comida de rato e agora estamos de volta onde começamos.

 
E não espere que as agências de classificação de risco irão ajudar, porque elas ainda agem como antes da crise, sem mudança alguma. Elas continuam sendo pagas por caras que emitem os títulos hipotecários, o que é como se você pagasse o salário do cara que dá sua nota em um concurso. Você não acha que isso turvaria seu julgamento? Claro que iria: e pagar as agências de classificação é garantir que você ganhará a nota que quiser. O sistema todo é horrível.


Os bancos desempenharam um papel no rascunho destes novos padrões de “Hipotecas Qualificadas” também, que não é na verdade padrão algum, mesmo porque nenhum emprestador de respeito jamais usaria o mesmo critério para emitir um empréstimo ou uma hipoteca. Por exemplo, nenhum banqueiro vai dizer, “puxa, Josh, nós não precisamos das suas pontuações de crédito, nós não precisamos de nenhum pagamento adiantado. Somos amigos, certo? Então, velho, quanto você precisa para essa hipoteca? $300.000? $400.000? $500.000? Pode dizer, o céu é o limite.”

Sem pagamentos adiantados? Sem pontuações de crédito? E eles têm a audácia de chamar isso de hipoteca qualificada?


Qualificada para que? Para ser paga pelo pagadores de impostos? O propósito real das hipotecas qualificadas é o de proteger os bancos de seus próprios negócios matreiros. Isto lhes oferece “porto seguro” no caso de falta de pagamento. E o que isso significa?
 
Significa que o governo não pode pegar seu dinheiro de volta se os empréstimos explodirem. A hipoteca qualificada protege na verdade os bancos, não os consumidores. E aí está a farsa, como Dodd Frank é uma farsa. Nada mudou. De fato, tudo isso piorou. Agora estamos com a corda no pescoço para qualquer perda dos bancos.

 
Deixaremos a última palavra com Dean Baker, pois parece que ele é o único cara nos Estados Unidos que percebeu o que está acontecendo:
 
“Resumindo, o plano de Corker-Warner de privatizar a Fannie e Freddie é essencialmente uma proposta para reinstituir a estrutura de incentivos que nos deu a bolha imobiliária e a crise financeira, mas desta vez aumentando à garantia explícita do governo sobre as MBS. Se isso não soa como uma grande ideia para eles, então você não dispendeu tempo suficiente junto com os poderosos de Washington.”
 
A lei Johnson-Crapo não tem nada a ver com o encerramento da Fannie e Freddie ou uma vistoria da industria das hipotecas. Isso é um roubo na cara dura feito por dois senadores que estão colocando o país sob os riscos de Wall Street
 
Isto é o golpe do século.