segunda-feira, 20 de outubro de 2014

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Petrobras e inflação dominam debate com menos ataques e mais propostas


Por Cibelle Bouças | Valor
SÃO PAULO  -  Atualizada à 1h15 - No terceiro debate presidencial no segundo turno, promovido neste domingo pela TV Record, RecordNews e R7, a presidente e candidata a reeleição Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB), voltaram a colocar no centro das discussões o escândalo da Petrobras e outros casos de corrupção, controle de inflação, desemprego, combate à violência e os temas que vêm acompanhando a agenda de discussões dos rivais.
Durante todo o debate, os dois candidatos recuaram em relação aos ataques pessoais, que dominaram o debate realizado no dia 16 pelo SBT. Os can Dilma também perguntou sodidatos se concentraram mais na discussão de propostas.
Outro ponto diferente neste debate foi a participação ruidosa de plateia em determinados momentos. Em três ocasiões foi preciso que os mediadores do debate pedissem silêncio no estúdio da emissora.
Logo no início, o candidato tucano disse cumprimentar Dilma por ter afirmado em entrevista à imprensa no sábado que havia indícios de desvio de recursos na Petrobras e questionou se a candidata confiava no tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Dilma disse que sabe que há indícios de desvio de dinheiro. “O que ninguém sabe é quanto foi e quem foi. Eu disse que iria investigar e punir todos que cometeram delitos. No seu caso, o senhor não pode me dizer onde estão os corruptos do caso do Sivam, da compra de votos para reeleição, do escândalo dos trens e do metrô”, afirmou.
A candidata disse que ainda que faz questão que a Polícia Federal investigue o caso. “Faço questão que a Polícia Federal investigue. Eu não engavetei 271 processos e isso não pode acontecer no Brasil”, disse.
O candidato tucano afirmou que os casos de corrupção são consequência da forma como as pessoas são nomeadas no governo atual. E disse estar preocupado com o fato do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, participar do conselho de Itaipu. “Me preocupa o que acontece em Itaipu e em outras empresas brasileiras”, disse Aécio. Em outro momento do debate, Aécio chegou a dizer que está preocupado “com números pouco confiáveis” das instituições estatais sobre a economia brasileira. “O presidente do Ipea se demitiu porque foi impedido de divulgar um estudo que mostrava um aumento da pobreza extrema. A senhor permitiu que se criasse uma crise interna no IBGE por causa da divulgação de dados. As instituições com credibilidade acabam tendo seus números questionados”, afirmou.
Dilma questionou Aécio pelo fato de o PSDB ter votado a favor de um projeto de lei que substituía benefícios da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) por acordos coletivos e lembrou que o desemprego na era FHC chegou a 11,5 milhões de trabalhadores desempregados. Aécio disse que, a indústria na atualidade está sucateada, respondendo por 13% do PIB brasileiro.  “As pessoas estão extremamente preocupadas com o futuro. Não vamos fazer uma campanha olhando para o retrovisor da História. Precisamos recuperar a confiança dos brasileiros que não têm mais”.
Inflação
Os candidatos também discutiram sobre o projeto do candidato tucano de baixar a meta da inflação para 3% ao ano. Dilma ressaltou que a redução da meta para 3% geraria uma enorme taxa de desemprego no país. “Hoje nós temos uma das menores taxas de desemprego da História, de 5%. Meu governo criou 5,6 milhões de empregos no Brasil inteiro. Tenho um compromisso de combater a inflação de forma drástica e sistemática. A inflação não está descontrolada. Tenho certeza que inflação está sob controle e está controla e isto é inequívoco. Em alguns momentos tem inflação, mas preços voltam aos patamares”, disse Dilma.
A candidata disse considerar “grave” a proposta de meta de inflação em 3%. Para ter 3% de inflação o senhor vai triplicar o desemprego, vai elevar a taxa de juros a 25% porque esse é o receituário. E o resultado vai se desemprego, arrocho salarial e altas taxas de juros, a quem serve isso? À população é que não é”, disse.
Os candidatos também divergiram sobre a paternidade de programas sociais. Dilma disse em um momento do debate “meu Bolsa Família”. “Não faça isso. O Bolsa Família não é seu”, disse Aécio. Dilma disse que Aécio questiona algo que “o mundo reconhece”.
Mais Petrobras
Logo no começo do segundo bloco o assunto Petrobras voltou. Aécio perguntou a Dilma "se ela considerava justo com o trabalhador que investiu na Petrobras que a má gestão do governo do PT tire deles o seu fundo de garantia", em alusão aos investidores que usaram o FGTS para comprar ações da estatal e viram o valor dos papéis cair.
Dilma rebateu, dizendo que a Petrobras apresentava valorização ao longo dos anos e que, durante o governo de Fernando Henrigue Cardoso, o PSDB tinha como plano privatizar a Petrobras. “Vocês venderam 30% da Petrobras a preço de banana. Não têm a menor moral para falar de valor da Petrobras. O senhor pode ficar descansado, porque o valor da Petrobras é crescente. Todos que investiram vão ganhar dinheiro”, disse Dilma.
Aécio, por sua vez, replicou que o desempenho da Petrobras tem sido ruim nos últimos anos. “Eu quero dizer que a Petrobras vai muito mal. Perdeu cerca de metade de seu valor de mercado, perdeu credibilidade, e o trabalhador que investiu seu dinheiro perdeu. Vou profissionalizar a Petrobras”, disse Aécio.
Dilma disse então que o candidato tucano tem como meta privatizar a Petrobras. “O senhor disse que pensava em algum momento em privatizar a Petrobras. Eu fico pensando quando o senhor vai querer colocar isso na pauta. Quer fazer isso denegrindo a Petrobras”, afirmou.
Bancos públicos
Dilma foi questionada também sobre a atuação dos bancos públicos e disse que tem uma relação de grande respeito com as instituições. “Os bancos públicos tiveram seus lucros aumentados, sua taxa de inadimplência reduzida. Acho lamentável esse terrorismo que vocês fazem com os bancos públicos. Vocês criticam o BNDES. O Banco do Brasil é o grande responsável pela parte da agricultura. A Caixa faz o Minha Casa Minha Vida. Não tem investimento em mobilidade urbana sem investimento dos bancos públicos”, disse Dilma.
Na réplica, Aécio disse que vai profissionalizar os bancos públicos. “Não permitiremos que a Caixa estrangule suas outras atividades. Vamos profissionalizar nossos bancos e prestigiar os funcionários de carreira”, afirmou. Dilma rebateu, dizendo que o candidato a ministro da Fazenda de Aécio, Armínio Fraga, havia dito que não sabe o que será dos bancos públicos. “Se eu fosse funcionário desses bancos, ficaria com três pulgas atrás da orelha”, disse Dilma.
Pronatec
Durante o segundo bloco, Dilma também perguntou sobre as propostas do candidato tucano para a área de educação e falou sobre o ProUni e o Enem e lembrou que o PSDB foi contrário ao ProUni, que levou 1,8 milhão de estudantes a universidades privadas.
Aécio disse que quando pensa em educação, pensa primeiro em creches. “Aquelas 6 mil creches prometidas por vocês não foram cumpridas. Temos que garantir que as crianças estejam na escola”, disse. O candidato do PSDB também afirmou que o Pronatec, programa de escolas técnicas do governo federal, é mal administrado. “Infelizmente o Pronatec não vem sendo administrado da forma como deveria”, disse.
Infraestrutura
No terceiro bloco, Aécio questionou Dilma pela demora na realização dos projetos de infraestrutura. “Infelizmente, as obras do seu governo não terminam nunca” disse. A candidata à reeleição respondeu que o candidato tucano era desinformado. “Nós concluímos a ferrovia norte-sul. Entregamos a usina de Santo Antônio do Jirau. A integração do Rio São Francisco está em pleno vapor”, disse, citando obras. “Nos meus quatro anos de governo fiz o mesmo que fizeram no governo Fernando Henrique em oito anos e duas vezes mais em linhas de transmissão”, afirmou.
Aécio rebateu dizendo que os nordestinos ainda não se beneficiaram da transposição do Rio São Francisco. “A senhora anunciou o trem-bala e não se sabe para onde o dinheiro foi ou vai. Nenhuma hidrovia prometida foi entregue. A verdade é que as obras que a senhora anuncia não são terminadas”, disse Aécio.
Dilma rebateu dizendo que Aécio critica as obras do governo do PT, mas teve como maior obra no governo de Minas um centro administrativo orçado em R$ 550 milhões e que acabou custando pelo menos R$ 1,1 bilhão em infraestrutura, mais R$ 500 milhões em obras no entorno.
Considerações finais
No quarto e último bloco, Dilma terminou o debate dizendo que há dois projetos em jogo no país, um que garantiu avanços a todos e outro que “condenou o povo ao desemprego e ao arrocho salarial”. “O Brasil que eu represento quer que todos cresçam. O governo combateu a pobreza, aumentou salários, investiu em educação. E nós, que lutamos tanto para melhorar a vida do brasileiro, não vamos deixar que nada nesse mundo - nem crise, nem inflação - tire de você o que você conquistou”.
Aécio, por sua vez, disse que o país vai se decidir entre dois projetos, um que se contenta em comparar o presente com o passado e outro que não se contenta em ver os indicadores piorando. “Sou um candidato que encarna o sentimento de que o Brasil pode ter muito mais do que está tendo hoje. Não podemos ter a educação que temos hoje, não podemos ver nossos empregos na indústria indo embora.”

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