quarta-feira, 23 de julho de 2014

Um "pré-sal" de minério?

A Elevação do Rio Grande, no Atlântico, é uma área potencialmente rica em minérios valiosos e estratégicos


Um interessante artigo elaborado por Monica Gugliano foi publicado no suplemento Eu & Fim de Semana do jornal Valor Econômico. Refere-se à solicitação brasileira ao ISA – International Seabed Authority, conhecido em português como ISBA – Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, criado pelas recomendações das Nações Unidas. O objetivo é realizar pesquisas profundas na área chamada Elevação do Rio Grande, que fica além das 200 milhas náuticas que limitam o mar territorial brasileiro, no Atlântico Sul, numa profundidade a partir de cerca de mil metros, relativamente baixa, mas que chega a muito mais em algumas localidades.
As pesquisas iniciais indicam que a área é potencialmente rica em minérios valiosos e estratégicos, e estas expectativas estão fundamentadas em levantamentos feitos numa cooperação nipo-brasileira, com o uso de um submergível japonês que pode chegar a 6.500 metros de profundidade e permite a coleta de amostras. Se ficar comprovado que a área é uma extensão das terras brasileiras, pelas características comuns, e a Elevação do Rio Grande formou-se quando da separação da África da América do Sul, haveria a possibilidade do Brasil conseguir ampliar o seu mar territorial sobre este trecho potencialmente rico que desperta o interesse de diversos países. Se comprovado, isto exigiria investimentos adicionais em capacidade militar para a sua proteção.
Se a pesquisa for autorizada, o Brasil terá 15 anos para avaliar o potencial das reservas desta área de 1,5 quilômetros quadrados que se formou quando da separação dos dois continentes e ocupado hoje pelo Oceano Atlântico. Já foram constatadas as existências de cobalto, níquel, cobre e manganês. E outros metais nos chamados nódulos polimetálicos como zincônio, tântalo, telúrio, tungstênio, nióbio, tório, bismuto, platina, cério, európio, molibdênio, e titio que são estratégicos para as indústrias de alta tecnologia. As expectativas são bastante positivas, sabendo se que estes materiais considerados raros são encontrados em baixos percentuais misturados a outros, sendo necessárias tecnologias para as suas separações.
Também existem indícios promissores que componentes utilizados em fertilizantes indispensáveis para a agricultura brasileira podem ser encontrados em quantidade nesta área.
Em todas as partes do mundo intensificam-se estes tipos de pesquisas, indicando potencialidades dos fundos dos oceanos, mas havendo poucos países capacitados para trabalhos em grandes profundidades. O projeto certamente terá a participação da estatal CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, representando o Brasil.
Se estas primeiras indicações forem confirmadas, mesmo que não se chegue ainda às cubagens exatas dos diversos minérios, as expectativas são de se obter descobertas mais relevantes do que o pré-sal com petróleo e gás que já estão sendo explorados.
Os ganhos brasileiros deverão ser na sua qualificação para estes tipos de pesquisas que já estão sendo feitas por alguns países desenvolvidos em mares internacionais, notadamente com o aperfeiçoamento dos seus recursos humanos. Muitos destes minérios são estratégicos para usos em atividades industriais de elevada tecnologia.
Outros minérios, ainda que de uso já comum, podem apresentar perspectivas mais amplas para a economia brasileira, por estarem localizados em regiões próximas das concentrações industriais, podendo resultar mesmo em áreas marítimas, em custos bastante razoáveis e competitivos. Isto é particularmente verdade na produção de fertilizantes, cujas matérias primas continuam sendo importadas pelo Brasil.
Numa primeira fase deverão ser estabelecidos acordos adicionais para absorver tecnologias para estes tipos de trabalho, que certamente demandarão um bom tempo de pesquisa, até que as explorações adequadas sejam definidas. Mas, somente a confirmação das expectativas podem atrair investimentos, inclusive em projetos de parcerias públicas e privadas.
O que parece desejável é que todas estas informações somente estabeleçam decisões de investimentos que vão além das pesquisas após serem confirmadas. Os seus ganhos também não devem ser utilizados antecipadamente, pois todas as condições de mercado ainda podem ser alteradas ao longo dos próximos anos.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Quatro cidades baianas receberão R$ 548 milhões para aeroportos; enquanto isso em Vitória da Conquista…


por Mateus Novais
aeroporto2O governador Jaques Wagner recebe, nesta quarta-feira (16), o ministro-chefe da Aviação Civil, Moreira Franco, que apresentará o plano de investimento de R$ 548 milhões para os aeroportos de Barreiras, Lençóis, Irecê e Teixeira de Freitas. As cidades foram contempladas pelo “Programa de Investimentos em Logística: Aeroportos”, que tem o objetivo de fortalecer e reestruturar a aviação regional brasileira.
Enquanto isso, o aeroporto de Vitória da Conquista, que teve a ordem de serviço assinada em fevereiro, segue em ritmo lento. De acordo com o presidente do Movimento Conquista Pode Voar Mais Alto, José Maria Caires, o prazo de um ano e seis meses para execução da obra, estabelecido pelo Governo do Estado, não será cumprido.
“A cultura do nosso Governo é de demorar na resolução dos problemas. Normalmente as obras são concluídas 6 anos após o previsto. Portanto, não será novidade se nosso aeroporto for concluído dentro da média normal de atraso. Assim teremos um aeroporto concluído mesmo só no ano de 2022.

Economistas avaliam que em 2014 a inflação deve continuar acima da meta


Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A inflação deve continuar em patamar elevado, em 2014, sem perspectiva de quando poderá chegar ao centro da meta (4,5%), na avaliação de economistas. O professor de finanças do Ibemec Gilberto Braga diz que a inflação ainda é preocupante no final deste ano porque está se estabilizando em patamar muito alto.
Para 2014, o professor acrescentou que não se espera que a inflação caia para um patamar menor e “mais palatável”. Ele projeta a inflação entre 5,5% e 6%, em 2014. Em 12 meses, encerrados em novembro de 2013, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 5,77%.
A previsão do Banco Central (BC) para a inflação é 5,8%, neste ano; 5,6%, em 2014; e 5,4%, em 2015. Em 2013, a inflação ultrapassou o teto da meta (6,5%). Isso aconteceu em junho, quando ficou em 6,7%.
“Não há dúvida que o pior já passou, mas vai ficar longe do centro da meta. É como se o governo estivesse trabalhando com 1 a 1,5 ponto percentual acima do centro da meta”, disse Braga.
A professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Virene Matesco também considera que a alta dos preços no país é motivo de preocupação. Na avaliação dela, mesmo com o controle do governo sobre os preços de tarifas, como de passagens de ônibus e de energia, a inflação ficará acima do centro da meta em 2013 e em 2014. “A inflação para o ano que vem estará no topo superior, em torno de 6%, mesmo com os controles de preços”, destacou.
No último dia 20, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, reforçou que o objetivo da instituição é fazer com que a inflação convirja para o centro da meta. Entretanto, Araújo disse que o cenário mais provável não aponta para a inflação no centro da meta – 4,5%, - neste e nos próximos dois anos.
“O cenário mais provável não aponta essa convergência, o que não implica que não seja possível. São coisas distintas. A convergência pode se tornar mais provável mais adiante, na medida em que a economia comece a responder às ações que foram tomadas”, acrescentou Hamilton Araújo.
O diretor lembrou que a transmissão dos efeitos da alta da Selic na economia tem defasagem, ou seja, demoraram a aparecer. “O efeito deve se refletir mais intensamente ano que vem”, disse. Na divulgação do Relatório de Inflação, o diretor também disse que o efeito da alta do dólar, em 2013, na inflação vai se dissipando e isso fará com que a inflação comece a ceder.
Para a professora da FGV, o Banco Central demorou para iniciar o processo de ajuste da taxa básica de juros, a Selic. Em 2013, o BC iniciou o ciclo de alta da Selic em abril, quando a elevou em 0,25 ponto percentual. Nas cinco reuniões seguintes, o BC fez ajustes de 0,5 ponto percentual. A Selic encerra 2013 em 10% ao ano.
Virene espera que o banco eleve a taxa, em pelo menos mais 0,5 ponto percentual, podendo chegar até 11% ao ano. “Mas não adianta colocar os juros em dois dígitos se o governo não controla gastos, se o Banco do Brasil, a Caixa [Econômica Federal] e o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]continuarem soltando crédito [o que estimula o consumo, e por consequência, a inflação]”, disse Virene.
A professora acrescentou que o governo “fez uma aposta de reduzir as taxas de juros do crédito ao mesmo tempo que a inflação estava em ascensão”. “Há uma intromissão política na política monetária [definição da Selic]. Precisamos de um BC com autonomia”, defendeu.
Edição: Marcos Chagas

No jogo econômico, a China goleia o Brasil

No comércio bilateral, a China ataca com a indústria e o Brasil se defende com commodities

Xi Jinping
Xi Jinping, o presidente chinês, em Pequim, no dia 9 de julho: a visita dele deveria ser usada para rever o comércio entre os dois países

O presidente da China, Xi Jinping, acompanhado de 200 empresários, programou visita ao Brasil a partir deste domingo 13 para assistir à final da Copa do Mundo, estreitar os laços econômicos com o País e participar da VI Cúpula do Brics, bloco composto também por Russia, Índia e África do Sul. Os governos de Jinping e de Dilma Roussef comemoram o volume recorde de comércio, de 83,3 bilhões de dólares em 2013, e as perspectivas de expandi-lo.
Para o Brasil, melhor seria, porém, rediscutir os termos de troca com a China. Produtos primários, de alta volatilidade e baixo valor agregado, continuam a dominar as exportações brasileiras. Soja, minério de ferro, petróleo, celulose e açúcares responderam por mais de 87% do valor no ano passado.
O inverso ocorreu nas exportações chinesas. Máquinas, aparelhos, materiais e peças elétricas e mecânicas, produtos químicos orgânicos, automóveis, tratores, de valor agregado elevado e geradores de empregos bem remunerados, compuseram cerca de 60% das vendas ao Brasil. Chama a atenção a presença de produtos tradicionalmente fabricados por indústrias locais, entre eles aparelhos de ar condicionado, lâmpadas elétricas, motores, torneiras, veículos, peças para veículos, carrinhos para crianças e bicicletas.
O problema não é o predomínio das commodities nas vendas brasileiras, nem o dos manufaturados nas da China, mas a quase inexistência de exportações de itens produzidos pela ampla e diversificada indústria nacional. Há uma especialização radical das pautas, com clara desvantagem para o País. Cada item importado representa investimentos, fábricas e empregos subtraídos da economia brasileira. O impacto negativo é proporcional à extensão e à variedade da pauta de industrializados chineses, composta também por transformadores elétricos; aquecedores elétricos de água; aparelhos e partes para telefonia, telegrafia, rádio e televisão; fios, cabos, motores, geradores, bombas e compressores de ar, guindastes, fornos industriais ou de laboratório, válvulas, partes e acessórios para veículos, motocicletas, reboques e tratores, entre outros produtos.
O aumento dos investimentos chineses no País, para um total de 68 bilhões de dólares entre 2007 e 2012 e a sua diversificação parece reproduzir o padrão observado na balança comercial. As inversões antes voltadas quase exclusivamente para assegurar o suprimento de commodities, agora abrangem setores como o de infraestrutura e transportes, mas o desequilíbrio em favor da China se mantém, como mostra o caso dos trilhos de ferrovias.
A fabricação de trilhos no Brasil pela Cia Siderúrgica Nacional cessou na década de 1980, considerada perdida para a economia. O governo detinha o controle da empresa e das ferrovias. A retomada de iniciativa do Estado no setor ocorreu com a política de privatização generalizada da década de 1990, inclusive da CSN e da malha ferroviária, focada no reforço do caixa do Tesouro. Em 2004 começou-se a planejar um novo marco regulatório. O Programa de Investimentos em Logística do atual governo prevê a estruturação da rede ferroviária completa necessária ao escoamento da produção nacional (prevê-se a concessão de 10 mil quilômetros de ferrovias neste ano), mas não foi acompanhado de um plano de preparação da indústria nacional para atender a demanda hoje suprida por trilhos fabricados na China com minério de ferro importado do Brasil. Neste ano, as importações deverão atingir 146 mil toneladas, 20% acima de 2013.
As siderúrgicas brasileiras alegam não existir escala suficiente para justificar a produção local. Fosse a CSN ainda uma empresa estatal, poderia tomar a decisão de produzir trilhos e as siderúrgicas privadas certamente acompanhariam o movimento. Como ocorreu na crise mundial de 2008, quando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal baixaram os juros por determinação do governo e foram acompanhados pelos bancos privados. A decisão permitiu ao País prosseguir na trajetória de crescimento após um breve período recessivo de dois meses.
A subutilização da indústria nacional é um dos problemas da importação de trilhos. Outro é a má qualidade ou inadequação do produto chinês, ao contrário daquele produzido no passado pela CSN. Situação semelhante ocorreu com vagões comprados da China.
Empresas como a chinesa CNR, a GE e a Alstom levam o naco mais valioso das encomendas para ferrovias, metrôs e monotrilhos. Ao Brasil, restou fabricar vagões para minérios, de valor agregado muito menor, pelas indústrias Randon Implementos, Maxion e a Usiminas.
Não foi sempre assim. A Cobrasma, que operou até 1998, fabricava vagões de carga e para passageiros, de subúrbios ou de longo curso, trens-unidade elétricos, carros de metrô, veículos leves sobre trilhos (VLT) e aparelhos de mudança de vias. Foi uma das mais importantes empresas brasileiras (seu proprietário, Luis Eulálio de Bueno Vidigal, presidiu a Fiesp) e, não houvesse a degradação da indústria brasileira em decorrência da perda da terceira revolução industrial e da crise da dívida, entre as décadas de 1970 e 1980; da abertura comercial com câmbio valorizado e juros altos nos anos 1990; e da manutenção dos juros altos e real valorizado a partir de 2003, provavelmente teria se atualizado e haveria uma chance de ser mundialmente competitiva. A sua diversificação sugere um potencial considerável. A Cobrasma dividia com outra grande empresa, a Mafersa, o mercado de composições ferroviárias brasileiro.
Não se percebe uma mudança significativa no horizonte. O anúncio da assinatura de um memorando de cooperação sino-brasileira na área de ferrovias durante a visita de Xi Jinping menciona apenas parcerias entre empresas para disputar concessões no País. A China Railway Construction Corporation buscará parceiras no Brasil  para disputar a concessão do trecho entre Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, e Campinorte, em Goiás. A China Railway Engineering Corporation pretende participar do projeto de uma ferrovia do Maranhão até o Peru. Do lado chinês, viriam capital, investimento e conhecimento tecnológico e das parceiras brasileiras, experiência em atuar em regime de concessão. Como as partes mais  rentáveis de um empreendimento do ramo são a construção e a venda de material ferroviário, a vantagem ficaria novamente do lado chinês também nesses investimentos em logística e transportes. A relação confirma uma consideração do ex-ministro Delfim Netto, colunista de CartaCapital: o negócio da China só existe para os chineses.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Dilma diz que polícias não devem ficar sob controle dos estados


A presidenta Dilma Rousseff defendeu que os estados tenham menos controle sobre as policias em entrevista à rede de televisão norte-americana CNN exibida na última quarta-feira, 9. Em sua fala, ela afirmou que são necessárias mudanças na Constituição para que a segurança deixe de ser uma atribuição das unidades federativas.
“O combate à criminalidade não pode ser feito com os métodos dos criminosos. Muitas vezes isso ocorre, e nós não podemos também deixar intocada a estrutura prisional brasileira”, disse Dilma, após ser questionada sobre a alta letalidade da Polícia Militar. “Eu acredito que nós teremos de rever a Constituição. Por quê? Porque essa é uma questão que tem de envolver o Executivo federal, o estadual, a Justiça estadual e federal. E porque também há uma quantidade imensa de prisioneiros em situações sub-humanas nos presídios.”
Na entrevista, Dilma disse que a letalidade da polícia “talvez seja um dos maiores desafios do Brasil”. Em sua pergunta, a jornalista Christiane Amanpour disse que a atuação da polícia brasileira “parece ser um legado ruim desse tipo de tortura, ditadura e da falta do Estado de direito que a presidenta combatia”.
Atualmente, segundo a Constituição, as policiais federais são as únicas controladas pelo Governo Federal. A Polícia Civil e a Militar são controlados pelos estados e, no caso desta última, seus agentes respondem por seus crimes na Justiça Militar.
As declarações de Dilma foram feitas na semana seguinte à divulgação do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O estudo indica uma grande responsabilidade dos policiais na elevada taxa de homicídios no País. Em 2012, a polícia matou cinco cidadãos por dia no Brasil, quatro vezes mais do que nos Estados Unidos e duas vezes e meia o índice registrado na Venezuela, segundo o anuário estatístico.

Quem tem medo do BRICS?

Há dez anos surgiu o acrônimo BRIC, sigla formada pelas iniciais de quatro países que despertavam admiração no mundo pela vitalidade de suas economias – Brasil, Rússia, Índia e China, aos quais se associa a África do Sul – e que hoje representam 19% do PIB global. Nesses dez anos, o conjunto de suas economias cresceu de 3 trilhões de dólares para 13 trilhões de dólares. Esses 10 trilhões a mais correspondem em nossos dias a seis economias da Grã-Bretanha em 2001. Ainda nesses curtos dez anos, a China, a locomotiva do bloco, crescendo a um ritmo médio de 7% ano, chegou ao posto de segunda economia do mundo; suplantou o Japão e é o dobro da economia alemã, o mais rico e mais poderoso país da Europa Ocidental. Não obstante, a grande imprensa mundial, as ‘consultorias’ e agências de ranking disso e daquilo de Wall Street e da City de Londres, o FMI e a OCDE, a grande imprensa de lá – The Economist,The Financial TimesThe Time – de cá – o jornalão, a revistona – anunciam o réquiem do bloco, como diariamente anuncia a falência do Mercosul.
Nossas exportações, no entanto, principalmente de manufaturados, para nossos vizinhos só têm aumentado. O Brasil, embora crescendo a taxas relativamente baixas, ultrapassou a Itália e a Inglaterra, e é hoje a sexta economia mundial. Nas duas últimas décadas o peso econômico dos países integrantes dos BRICS aumentou de 5,6% para 21,3%, o que, convenhamos, não é nada desprezível. Projeta-se para a próxima década em 3% a expansão da economia mundial, mas o crescimento dos BRICS está estimado em 7%. Em 2015 esse conjunto de países poderá ser responsável por cerca de um quarto do PIB mundial.
As trocas entre os cinco países somavam 250 bilhões de dólares e podem chegar a 500 bilhões de dólares já em 2015. A China já é nossa principal parceira comercial e as negociações em curso prometem elevar o fluxo comercial entre o Brasil e a Rússia para 10 bilhões de dólares, já neste ano. Relativamente ao país de Putin, para além das trocas comerciais, há uma largo espaço para percorrer no campo da cooperação científica e tecnológica. E inovação, onde são notórias nossas carências
Nossos cinco países representam 20% do PIB mundial e cada um exerce papel de forte liderança em seus respectivos continentes. Não são números irrelevantes e contrastam com o descrédito e o ceticismo da opinião conservadora que acompanha com restrições as possibilidades de expansão econômica – e nela envoltas, de expansão política e militar desses países – alterando a correlação de forças do status quo internacional ensejado pela derruição do bloco socialista e o fim da Guerra Fria. É a resposta da realidade objetiva ao descrédito que a economia desses países despertava, e de certa forma ainda desperta, nos círculos conservadores internacionais. No Brasil ele é criticado, na companhia do Mercosul, por aqueles que não compreendem que nosso país possa integrar projeto, político ou econômico, que não seja chancelado pelos EUA. Em um mundo caracterizado pelas mais profundas assimetrias de poder, a política de blocos – a que não têm fugido mesmo os EUA – é um imperativo de sobrevivência daquelas economias mais frágeis que encontram sua superação na negociação coletiva. Esse bloco tem possibilitado a ação coordenada em foros internacionais e  construção de uma agenda própria.
Como entre nossos países no Mercosul, sabidamente guardam os BRICS grandes contrastes e diversidade cultural, as quais, todavia, não lhes têm impedido a atuação como bloco econômico e bloco político, nem a ação articulada nos fóruns internacionais de sorte a enfrentar o hegemonismo das grandes potências, EUA, União Europeia e Japão. Assim é que lograram impor uma nova geopolítica ao mundo da unipolaridade, com o que se têm beneficiado todos os países, particularmente aqueles de menor peso econômico. Além de grandes mercados de consumo – em condições de influir na economia mundial – os BRICS reúnem duas potências nucleares com assento no Conselho de Segurança da ONU, grandes territórios, grandes populações – 40% da população mundial –, elevado nível de industrialização e ponderável base científica e tecnológica. Esses fatores são postos de manifesto quando a crise econômica parece sobreviver e a lenta recuperação das potências capitalistas constrange os investimentos e o fluxo de comércio, conquanto estimule a volatilidade dos mercados financeiros.
Como em todos os momentos de crise, quem paga o alto preço é a paz mundial, vez mais um projeto transferido para as calendas gregas.
Com todas suas óbvias consequências econômicas, o quadro mundial presente e visível para os próximos anos aponta para a conturbação da guerra se alastrando por áreas cada vez maiores da Ásia, da África e do Oriente Médio, com seu rasto de devastação e genocídio: Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria, Líbia, as ameaças ao Irã, os conflitos de fronteira na Turquia, o sistemático genocídio palestino na Faixa de Gaza, os conflitos raciais, tribais e religiosos...
A crise de produção de petróleo e outros insumos, a crise da produção de alimentos e outras commodities, a fome, a miséria, a degradação humana, a desagregação dos países e a anarquia política, o êxodo de povos e nações, bem como a ameaça que paira sobre civilizações milenárias, a guerra continuada do capitalismo contra a ida e a natureza.
Nesse quadro se eleva a importância estratégica dos BRICS pela força territorial e econômica de cada um dos países integrantes e pelo papel de cada um na geopolítica regional.
Em um mundo assim descrito, a América do Sul progressista, pacífica e em desenvolvimento acelerado e a África – continentes ainda à margem da política de guerra (leia-se ‘terra arrasada’) dos EUA – constituem espaço de projeção natural das iniciativas dos BRICS. Daí a importância do encontro dos líderes dos BRICS com suas contrapartes sul-americanas no âmbito da VI Cúpula de Chefes de Estado e de Governo que nosso país está sediando. Desse encontro pode resultar a abertura mutuamente benéfica de mercados para os produtos da América do Sul e dos BRICS – e se isso ocorrer, estaremos fortalecendo o desenvolvimento econômico do sub-continente e, com ele, a solidificação de nossa comum opção democrática e progressista, que tanto incomoda as elites reacionárias de nossos países.
Pode ser esta, igualmente, uma oportunidade de fortalecimento do Mercosul, expectativa que se anima à vista do projeto do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS, que deverá investir em principalmente nas cruciais áreas de infraestrutura, dando base material à ajuda internacional e à cooperação econômica que, pela porta do financiamento do desenvolvimento, favorecerá a integração de nossos países e, amanhã, de nossos povos.  A carência que mais nos ameaça é a de capitais para financiar o desenvolvimento, pois o capital estrangeiro que aporta é predominantemente especulativo, ou seja, visa exclusivamente ao retorno, quando o Banco de Desenvolvimento aportará capital estratégico.
Mas esta não é a história toda.
Do ponto de vista político, o fundamental é que os países integrantes dos BRICS podem dizer que, nas circunstâncias do mundo globalizado sob o império da unipolaridade, comandam cada um o seu destino. Realizaram reformas estruturais, patrocinaram a rápida urbanização e modernizaram suas economias. O Brasil, por exemplo, realizou notável esforço de distribuição de renda, elevando substancialmente a qualidade de vida de suas populações. Elevaram-se, na maioria dos países os contingentes de classe-média e em alguns países, como Brasil e China, a expectativa de vida é de 73 anos. No entanto ainda são, no geral, precários os indicadores de escolaridade, a assistência médica universal é deficiente e os índices de mortalidade infantil ainda são inaceitavelmente altos.
O sonho é que estejamos ingressando na segunda fase do BRICS, aquela que se seguirá ao sucesso da gestão macroeconômica, quando reformas profundas da infraestrutura econômica (com implicações igualmente profundas na transformação das estruturas politicas congeladas) poderão abrir caminho para sociedades socialmente mais justas.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Preço médio da pizza no país é R$ 30; em SP, há opção por até R$ 164


Veja algumas das versões mais sofisticadas – e caras – vendidas na cidade.
'Índice da Pizza de Muçarela' mostra preço médio em 9 capitais e no DF.

Darlan AlvarengaDo G1, em São Paulo
Versão individual da pizza de camarão da Vero Verde, que oferece uma opção família por R$ 164  (Foto: Caio Kenji/G1)Pizza de camarão da Vero Verde, em Santo André, que oferece opção família por R$ 164 (Foto: Caio Kenji/G1)
Nesta quinta-feira (10), quando se comemora no país o Dia da Pizza, o que não faltam são opções de sabores. E de preços. O valor pago por uma "redonda" no Brasil pode variar de R$ 18 a R$ 164, segundo levantamento do portal de delivery HelloFood, feito a pedido do G1.
  Índice da Pizza de Muçarela
LocalidadePreço médio
Maceió R$  36,46
Porto AlegreR$  35,90
Rio de JaneiroR$  33,31
BrasíliaR$  31,63
CuritibaR$  30,10
São PauloR$  29,95
Salvador R$  28,53
Belo Horizonte R$  27,83
FortalezaR$  23,28
RecifeR$  21,98
Para comparar os preços cobrados em diferentes capitais, a HelloFood criou o "Índice da Pizza Muçarela". Neste mês, em 9 capitais e no Distrito Federal, o valor médio da pizza mais tradicional nas mais de 1.400 pizzarias credenciadas no serviço está em R$ 30,35. Há casos, porém, em que a opção com recheio apenas de molho de tomate e queijo chega a passar dos R$ 50.
Segundo o levantamento, a pizza de muçarela mais cara do país é oferecida em Maceió, cujo valor médio é de R$ 36,46. Na sequência, estão as "redondas" de Porto Alegre (R$ 35,90, em média), Rio de Janeiro (R$ 33,31), Brasília (R$ 31,63) e Curitiba (R$ 30,10).
São Paulo, que é famosa por suas milhares de pizzarias e também por seus altos preços, aparece com o 6° maior preço médio: R$ 29,95 – abaixo da média brasileira.
Na contramão, Recife é a capital com a pizza muçarela mais barata: R$ 21,98, em média. Em seguida, aparecem Fortaleza (R$ 23,28), Belo Horizonte (R$ 27,83) e Salvador (R$ 28,53).
De acordo com o levantamento, a pizza de muçarela mais barata encontrada entre os estabelecimentos credenciados é a da Pizzaria Barreto's, no bairro Bela Vista, na capital paulista, que sai por R$ 17,99.
Pizza de frutos do mar da Monte Bello está entre as raras pizzas que custam mais de R$ 100 no país (Foto: Caio Kenji/G1)Pizza de frutos do mar da Monte Bello, em Campinas (SP), está entre as que custam mais de R$ 100 no país; opção leva lagostim, mexilhão, lula, camarão e queijos (Foto: Caio Kenji/G1)
Pizzas acima de R$ 100
Localização da pizzaria, ingredientes e tamanho da "redonda" são os principais fatores que fazem uma opção do mesmo sabor variar tanto de preço de um lugar para outro. As pizzas mais caras costumam ser as que levam frutos do mar e produtos importados.
Embora seja raro, há opções de sabores em São Paulo que custam até mais R$ 100. Entre as pizzarias credenciadas no HelloFood, a versão mais cara custa R$ 164 e é vendida na Vero Verde, localizada em Santo André, no ABC paulista. Essa pizza leva quase meio quilo de camarões, catupiry e salsa, é oferecida na versão família (com 40 centímetros de diâmetro) e servida em 10 pedaços. "São camarões inteiros, não aqueles pequenininhos", explica a gerente Nádia Didone.
Ela reconhece, no entanto, que o preço é alto para uma pizza, já que no mesmo estabelecimento a maioria das opções de sabores especiais custam menos de R$ 70. A Vitoriana (alho-poró, cream cheese e presunto parma crocante), por exemplo, é oferecida a R$ 69. "Precisa estar com muita vontade de comer camarão para pagar R$ 164 por uma pizza", diz a gerente da casa. "Ela continua no cardápio porque sempre tem alguém que pede. Mas sai muito pouco", acrescenta.
Pizza Vitoriana da Vero Verde (alho-poró, cream cheese e presunto tipo parma crocante) é oferecida por R$ 69. (Foto: Caio Kenji/G1)Pizza de alho-poró, cream cheese e presunto
parma crocante da Vero Verde (Foto: Caio Kenji/G1)
Outra pizzaria que tem no cardápio opções acima de R$ 100 é a Monte Bello, de Campinas (SP). A "redonda" de camarão com catupiry é vendida por R$ 121,70. Já a de frutos do mar (com lagostim, mexilhão, lula, camarão, muçarela, creme de catupiry e tomilho) sai por R$ 104,80.
O chef e gerente geral Charles Malek afirma que o custo dos ingredientes justifica o preço alto. "Aqui na região, é raro pizza de frutos do mar, então atiça bastante a curiosidade. E quem prova normalmente repete", destaca.
Malek conta que as opções entraram no cardápio há cerca de um ano, quando a pizzaria incluiu versões com frutos do mar e passou a apostar em pizzas "gourmets". "Têm saído umas 10 de cada por mês. Já vendemos até no delivery", revela o gerente.
Pizza mais cara da Speranza com creme de trufas é vendida a R$ 81 (Foto: Silmara Ciuffa/Divulgação)Pizza mais cara da Speranza, em SP, leva creme de
trufas e sai R$ 81 (Foto: Silmara Ciuffa/Divulgação)
Pizzas famosas
Nas pizzarias mais famosas e premiadas da capital paulista, os sabores especiais custam em torno de R$ 70. Na Bráz, por exemplo, nenhuma pizza sai por mais que R$ 67,50. O cardápio da casa, entretanto, não tem nenhum opção com frutos do mar.
Na Veridiana, que trabalha com vários produtos importados, a pizza considerada mais sofisticada é a Casablanca, que leva queijo de cabra holandês, aspargos frescos e pinole (semente semelhante a uma amêndoa). O preço é R$ 69.
Na tradicional pizzaria Speranza, a opção mais cara do cardápio é a Crema di tartufo (manteiga, muçarela de búfala, creme de trufas, alecrim e azeite trufado), vendida a R$ 81. Já a Boscaiolla (molho de tomates, muçarela, 4 tipos de cogumelos, toques de gorgonzola e folhas de manjericão) sai por R$ 80.
Confira abaixo algumas das pizzas mais sofisticadas e caras encontradas em São Paulo:
Pizza da Veridiana com queijo de cabra, mini aspargos frescos e pinole é vendida por R$ 69 (Foto: Divulgação)Pizza da Veridiana, em SP, tem queijo de cabra, aspargos frescos e pinole, e é vendida por R$ 69 (Foto: Divulgação)
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Pizza da Speranza leva 4 tipos de cogumelo e toques de gorgonzola, e sai por R$ 80 (Foto: Silmara Ciuffa/Divulgação)Pizza da Speranza leva 4 tipos de cogumelos, gorgonzola e sai por R$ 80 (Foto: Silmara Ciuffa/Divulgação)
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Pizza com abobrinha, tomate picado, cream cheese, geléia de pimenta e hortelã da Vero Verde (Foto: Caio Kenji/G1)Pizza com abobrinha, tomate, cream cheese, geleia de pimenta e hortelã da Vero Verde (Foto: Caio Kenji/G1)

Para Sayad, crescimento será lento e arrocho não é saída para governo

ELEONORA DE LUCENA

DE SÃO PAULO
10/07/2014  02h00

Medidas de arrocho devem ser descartadas em 2015, independentemente do resultado eleitoral. As mudanças necessárias não são macroeconômicas, mas de regulação. O crescimento será lento. O regime de metas precisaria sofrer ajustes, e um aumento de combustíveis deveria ser feito.
A análise é do economista João Sayad, 68. Ministro do governo José Sarney no Plano Cruzado, secretário na gestão Marta Suplicy em São Paulo e na administração estadual tucana, ele se define hoje como um crítico de ortodoxos e heterodoxos: "Sou espírito de porco", afirma.
Nesta entrevista, ele critica a gestão Dilma, o governo Alckmin e o candidato Aécio. Diz que não votará no PT, mas não revela seu voto nem na esfera federal nem na estadual. Classifica os juros brasileiros como uma anomalia mundial e constata que industriais viraram financistas.
Vítima de assalto na capital paulista, Sayad declara estar com medo e avalia que a segurança é o problema número um do país.
Raquel Cunha/Folhapress
O economista João Sayad em sua casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo
O economista João Sayad em sua casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo
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Folha - Por que o Brasil cresce pouco?
João Sayad Não tem uma solução óbvia no curto prazo. O remédio tradicional –corte de gastos, aperto da política monetária– não parece ser a solução. Colocar todas as fichas contra a inflação seria diminuir ainda mais o crescimento. A inflação está desagradável, mas não é a situação que gente da minha idade experimentou. Será difícil para Dilma ou qualquer candidato de oposição cumprir uma promessa de recuperação rápida de crescimento.
Muitos dizem que independentemente do resultado da eleição, o ano que vem será de arrocho, cortes. Isso é inevitável?
Não é óbvio que o problema seja arrocho. Uma política de juros muito mais elevados vai sobrevalorizar o câmbio com uma entrada de dinheiro que não acaba mais. Na inflação, sou um crítico sem solução para o regime de metas. O regime de metas liga o juro à inflação e o câmbio ao balanço de pagamentos. Só que o que influencia mais a inflação é o câmbio. E os juros influenciam mais o balanço de pagamentos. Se deveria inverter os remédios.
Essa mudança não é pacifica, nem tem o resultado garantido. Vejo na condução da política macroeconômica um problema mítico, religioso. Defendo o regime de metas, mas com correções, que não deveriam ser anunciadas.
Qual sua visão sobre o futuro?
Tenho uma visão positiva, mas não vai ter taxa de crescimento elevada. Independentemente de quem seja eleito, o crescimento será lento. As mudanças necessárias não são macroeconômicas, são de regulação, regras de administração pública. O direito público precisa ser revisado. Na energia elétrica, foi criada uma instabilidade que precisa ser corrigida. Necessitamos de obras de infraestrutura, ser mais favoráveis a concessões.
Emprego não é uma preocupação hoje. Inflação, câmbio e juros são. Tem uma solução fácil: está com problema na perna, amputa a perna. Seria uma grande recessão, mas essa não seria uma solução. Não há espaço político e a vantagem de trazer a inflação de 6,5% para 4,5% não compensa. Então corta [essa opção], mas precisa fazer ajustes.
Mas essa opção pela recessão foi a defendida por Aécio, não?
Falou e retirou. Ele fez um erro ali, não deveria ter falado. Não estamos em 1985 nem em 1990, quando o Brasil inteiro esperava um salvador, que era o Collor. Um homem da minha idade olha para traz e vê hoje o SUS, a educação. A insatisfação é legítima, mas já fizemos muito. Até agora, nota 7.
O que a Dilma fez de errado?
Sugiro ler a biografia de Getúlio, lembrar de FHC e de Lula. Ali estão as três lições que ela não acompanhou sobre o papel do presidente. Getúlio era ambíguo. Lula, líder dos trabalhadores, fez uma política monetária bem conservadora. FHC, no primeiro mandato, era a pessoa que mais reclamava do cambio valorizado –como se não fosse uma coisa dele.
O presidente tem que estar acima e distante das soluções que propõe. Dilma é mais gestora. Tem um pouco de voluntarismo também.
Qual seria o passo além?
Não sei qual seria o passo que desse resultado no curto prazo. Um grande erro é o preço da gasolina, que está baixo. Comparado com o pico anterior, em termos reais, está 30% atrasado. A Petrobras fatura US$ 400 bilhões por ano. Se corrigisse em 30% seriam mais US$120 bilhões.
Essa solução seria meio mágica. Repartir esse dinheiro com municípios para financiar transporte publico, corredor, metrô, essa tarifa maluca do MPL poderia aguentar mais. É o melhor pedágio urbano do mundo.
E qual seria o impacto dessa alta na inflação?
Esse é o grande problema. Perguntaram para o ministro do planejamento da Índia, do partido que perdeu a eleição, qual foi o maior erro do governo. Ele disse: corrigir o preço da gasolina. Não é uma solução óbvia, mas é tentadora.
É necessário mexer no câmbio?
É o que a indústria fala e o que a agricultura gostaria, mas gera inflação. A política do novo mandato tem que, sem anunciar, fazer uma trajetória para a política cambial que seja compatível com a inflação. E fixar a taxa de juros olhando para a taxa de juros internacional e para o balanço de pagamentos.
O câmbio é a verdadeira âncora da inflação brasileira.
O governo Dilma ensaiou uma política de juro mais baixo e depois recuou. Há um pacto pró-juro alto no Brasil?
Não diria que há um pacto, mas há um hábito. Dilma acertou em reduzir os juros, mas tem custos. No começo era o fim do mundo, acho que hoje já não é. Não acredito que [a queda nos juros] seja a causa da elevação da inflação. Não temos inflação de demanda, mas de custos. [O juro] é alto porque ficou alto.
Por que houve recuo?
Porque a inflação subiu, não por causa dos juros apenas. [Dilma] não precisava ter feito o discurso [contra os juros]. Os juros no Brasil eram e continuam sendo uma anomalia se comparados a outros países. Reduzir os juros era e é uma proposta razoável. Hoje eles são 5% real ao ano. É melhor do que 10%. No momento, não há demanda para reduzir mais os juros. O momento é de repensar a política de metas. Não precisa nem falar.
Basta, para horror dos ortodoxos mais jovens, operar no mercado cambial, manipular o câmbio de forma a que ele tenha um comportamento compatível com a inflação. Ver os juros ligados ao balanço de pagamentos, e o cambio ligado à inflação. Anunciar uma política de mudança no regime de metas de inflação seria um desastre.
Desindustrialização é problema?
É e é complicado. Uma vez dei uma palestra para um mundão de empresários. Era na época do Gustavo Franco, real sobrevalorizado. Um pouco irado, perguntei por que não reclamavam do câmbio. Cadê o clamor da indústria? Não reponderam. Mas, ao olhar para eles, entendi. Eles viraram financistas, deixaram de ser industriais. Primeiro, porque são terceira ou quarta geração de italianos, japoneses, turcos, português que trouxeram a indústria para cá. Segundo, porque se adaptaram.
O sr. já decidiu em quem vai votar?
Não. Não votarei no governo. Oito anos é uma dose significativa e já estamos em 12. Não votaria para ter mais de oito anos de governo FHC nem de PT.
Mas o PSDB está aqui no governo de São Paulo há mais tempo, não?
Estou falando do governo federal. No governo estadual, acho que vale a pena. É discutível se 20 anos é muito. No governo federal, a renovação é fundamental.
O sr. falou das identidades entre PT e PSDB. Ambos partidos se envolveram em denúncias de corrupção. Há o mensalão e o caso do metrô em São Paulo. Quando o sr. estava na administração do PSDB em São Paulo, o sr. escreveu um artigo na Folha tratando de corrupção. Por quê?
Quando há um movimento de corrupção, a administração se perde. Vejo nos governos federal, estadual e municipal uma série de programinhas que consomem energia e atenção da máquina. A corrupção pequena não deixa nada e isola a administração dos funcionários.
O que o sr. viu de errado aqui no governo estadual?
Desrespeito a leis trabalhistas que custam caro para o Estado, indiferença quanto a esse desrespeito. Essas coisinhas depois viram uma bola de neve. Há confusão na Justiça. Minha experiência recente com a Justiça é aterradora. Se eu fosse presidente, as prioridades seriam justiça e segurança.
Como atacar o problema da segurança?
Tem um lado crescimento, melhorias das condições sociais, presença do Estado na periferia, CEUs, fábricas de cultura. Mas a periferia é imensa. E tem o lado de polícia. Eu andava muito por aqui [no bairro, na zona Oeste de São Paulo], mas mataram dois num assalto na Alameda Franca e ando com medo. Fui assaltado há uns seis meses com uma faquinha na Rua Piauí, no carro. Ele me pôs a faca [no pescoço] e disse: "O celular ou eu te mato". É horrível. Fiquei com muito medo e não reagi. Ando de vidro fechado, com medo. [Segurança] é o problema número um do Brasil.
Houve melhoria na distribuição de renda?
A remuneração do capital cresce. A distribuição de renda que houve ocorreu dentro do grupo dos trabalhadores, o que é ótimo. Por conta do salário mínimo, principalmente, e do Bolsa Família, diminuiu a desigualdade.
Mas precisa ver o que acontece com o capital. Se considerar o capital, eu não sei, ninguém sabe. Mas olhando para as lojas de luxo, barcos, helicópteros, é capaz que tenha aumentado [a concentração].
Além de dar aulas, o que o sr. tem feito?
Escrevi um livro sobre dinheiro e finanças. É mais sobre o debate a respeito da política macroeconômica e monetária. Sempre haverá dois lados: o conservador e o keynesiano.
E como o sr. se define?
Não estou em nenhum dos dois lados. Não sou ortodoxo de jeito nenhum, mas também não sou hoje um desenvolvimentista. Não se consegue mudar a cultura de nenhuma sociedade do mundo a golpes de voluntarismo. Quando eu fui heterodoxo, era contra os absurdos dos ortodoxos. Eu sou espírito de porco, crítico de ortodoxos e não ortodoxos.
Também num artigo para a Folha, o sr. criticou a decisão do governo Alckmin de não levar adiante a implantação de um polo de cultura na região da Luz. Qual sua visão hoje desse caso?
Temos uma visão pequena de nós mesmos. O teatro da dança, um complexo cultural é um projeto viável, superimportante, que o governo estadual não quer fazer por causa do custeio. Teria três teatros, biblioteca, escola de música. Diz que é uma obra para ricos. Não é. Não vai sair, é uma pena. Fizemos não sei quantos estádios e nenhum centro cultural. Cultura tem uma prioridade baixíssima em qualquer governo. Com o Serra, não.
O sr. se sentiu frustrado ao deixar a secretaria da Cultura do Estado?
Sai frustrado, principalmente por causa desse teatro [que não vai sair]. O Estado de São Paulo é muito rico, não falta dinheiro para investir. Mas o governo não tem essa prioridade para a cultura.
O sr. já decidiu em quem vai voltar para o governo do Estado?
Não, aqui é mais difícil ainda.
Como o sr. avalia hoje a TV Cultura, que o sr. dirigiu?
Ou o governo apoia com um pouco mais, ou fecha. É importante, mas precisa de um pouco mais de dinheiro.
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JOÃO SAYAD
* 68 anos
* doutor em economia pela universidade de Yale
* professor de economia da FEA-USP
* ministro do Planejamento (1985-1987) no governo José Sarney quando da implantação do Plano Cruzado
* secretário de finanças da cidade de São Paulo na gestão Marta Suplicy (2001-2004)
* secretário estadual da cultura no governo José Serra (2007-2010)
* presidente da TV Cultura entre 2010 e 2012 

segunda-feira, 7 de julho de 2014


Graça Foster: Brasil será autossuficiente em petróleo em 2015

O Brasil será autossuficiente em petróleo a partir do ano que vem e a empresa iniciará um período virtuoso marcado pelo aumento de sua produção.

Maurício Thuswohl
Arquivo

Rio de Janeiro – Com o sucesso do pré-sal, que acaba de ultrapassar a marca de 500 mil barris produzidos diariamente, o Brasil será autossuficiente em petróleo a partir do ano que vem e a Petrobras iniciará um período virtuoso marcado pelo aumento de sua produção, redução de seu endividamento, fluxo de caixa positivo e valorização no mercado de ações. Essa projeção foi feita pela presidente da Petrobras, Graça Foster, durante conversa com jornalistas e blogueiros realizada terça-feira (1) na sede da empresa no Rio de Janeiro.

Acompanhada pelo diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli, e visivelmente decidida a rechaçar aquilo que qualificou como “ambiente de pessimismo” em relação à empresa alimentado por políticos e veículos de mídia que fazem oposição ao governo federal, Graça falou também sobre a necessidade de reajuste dos preços dos combustíveis e, em um recado direto aos pessimistas, garantiu que “a Petrobras vai muito bem”.

Segundo a executiva, o atual quadro de endividamento da Petrobras, tão criticado pela oposição, é passageiro e está sob o controle da direção da empresa: “A Petrobras teve um grande endividamento nos últimos anos, mas é um endividamento para o crescimento da companhia, não é para pagar conta. Muitas dívidas da Petrobras vencem em 2017 e 2018, anos em que a nossa produção, que já cresceu, ficará maior ainda. Nós teremos fluxo de caixa positivo a partir do ano que vem. Vamos gerar mais caixa e investir menos, ou melhor, vamos continuar investindo, mas a nossa geração de receitas será muito maior”, disse Graça Foster.

A presidente da Petrobras enumerou as três “premissas” que, segundo ela, possibilitarão a concretização desse cenário otimista: “Uma política de reajuste de combustíveis, um plano de desinvestimentos e um plano de reestruturação financeira. Estamos trabalhando para modificar o modelo financeiro da Petrobras de tal forma que a gente tenha mais produção de petróleo, mais refinados, uma geração de caixa mais alta e um investimento no mesmo patamar que tivemos no ano passado, que foi US$ 45 bilhões”.

Ações

Graça disse também não ter nenhuma dúvida de que as ações da Petrobras estão atualmente cotadas abaixo de que poderiam, mas não quis fazer um prognóstico de quanto seria uma eventual valorização ou de quando ela ocorrerá: “A Petrobras tem que fazer sua parte, que é entregar essa produção, entregar esse refino e fazer o atendimento aos indicadores financeiros estabelecidos pelo Conselho de Administração, que são a diminuição do endividamento líquido, a produção maior, o refino maior e reajustamento de preços”, disse.

A valorização das ações, disse Graça, acontecerá naturalmente: “Tendo a produção e o refino aqui mesmo no Brasil, tendo produtividade e redução de custos e trabalhando a eficiência de nossas unidades e processos, teremos uma receita maior, com um investimento em torno de US$ 40 bilhões anuais por alguns anos. Teremos receita, receita, receita. Essa é a diferença. Quando se entrega a produção, se entrega o refino e o investimento é igual ou menor, você tem uma receita muito maior e um resultado melhor, com mais dividendos para entregar aos acionistas. Uma vez que a gente harmonize isso, eu tenho certeza que as ações da Petrobras serão adequadamente valorizadas. Acontecerá uma valorização natural das ações”.

Reajuste

Graça Foster rebateu também as acusações de que a Petrobras estaria evitando reajustar o preço dos combustíveis com o intuito de não prejudicar o governo em ano eleitoral. Ela disse que os reajustes fazem parte da política estabelecida pela empresa e têm acontecido regularmente: “Há que se ter esse ajustamento de preços, e ele tem acontecido. Entre 2011 e 2013, tivemos dez reajustes de preço. O diesel cresceu 34,3% e a gasolina cresceu 38,6%”, disse. A executiva, no entanto, admitiu que alguns ajustes ainda poderão ser feitos: “Existe defasagem de preço, mas trabalhamos para buscar essa convergência. O preço do combustível do Brasil não está parado”.

Posto isso, disse Graça, a postura da Petrobras em relação ao preço dos combustíveis permanecerá sempre cautelosa: “Temos a obrigação de ficar atentos, de não passar ao mercado interno essas volatilidades – variação do câmbio, guerras, etc – porque temos cuidado e zelo com esse mercado. Todo esse trabalho é muito bem concatenado, esse mercado é precioso para nós. Eu tenho que cuidar desse mercado e continuar a atender os interesses dos acionistas minoritários para que eles continuem a acreditar na Petrobras como sempre acreditaram”.

Boa saúde

Em relação à saúde financeira da Petrobras, Graça Foster disse que ela “está muito bem” e deu “duas grandes razões” para isso: “Estamos bem pelo volume de petróleo que temos nas nossas reservas – esse excedente da cessão onerosa faz a diferença pra nós – e por esse mercado fabuloso que nós temos. Nós temos praticamente 100% do mercado de combustíveis no Brasil, em uma economia onde o consumo cresce. Estamos produzindo no Brasil, muito próximo desse mercado consumidor. Então, existe uma série de vantagens que são extremamente positivas para a Petrobras”.

Graça lembrou que, apesar de parte do noticiário sobre a empresa martelar a questão da queda de produtividade, a Petrobras vem sendo citada recentemente de forma positiva em diversos relatórios internacionais sobre o setor de óleo e gás. É o caso do estudo elaborado pela prestigiada empresa inglesa de consultoria Evaluate Energy, que aponta a Petrobras como a única empresa de petróleo de grande porte que nos últimos seis anos registrou crescimento em sua produção: “Tivemos queda de 20 mil barris de um ano para o outro. Isso dá mais ou menos 3%. Uma das majors, que produz quatro milhões de barris, perdeu 400 mil. Isso sim é uma perda relevante”, disse Graça.

A presidente da Petrobras negou que o desempenho da empresa tenha ficado estagnado durante o atual governo: “Não se pode atribuir a perda de produção a um governo especificamente. Alguns megaprojetos levam até dez anos para entrar em operação. Existem descobertas e planejamentos, e isso leva tempo. Não daria tempo para que - no governo de a, de b ou de c - você tenha um prejuízo, tenha uma perda de produção, porque esses ciclos são de seis, oito anos”.

Entre as cinco

Graça revelou que o Planejamento Estratégico para 2030 da Petrobras tem como meta colocar a estatal brasileira entre as cinco maiores produtoras de petróleo do mundo: “A maior produtora hoje, a ExxonMobil, produz 4,2 milhões de barris por dia, tem o dobro da nossa capacidade. Nós temos 16 bilhões de barris de óleo equivalente em reservas provadas, outros onze bilhões de barris em volumes potencialmente recuperáveis e mais alguma coisa em torno de doze bilhões de barris em poços diversos. São números muito relevantes. Em 2020, projetamos produzir 4,2 milhões de barris de petróleo por dia”, disse.

Após a comemoração pelos 500 mil barris de petróleo diários no pré-sal, que teve a presença da presidenta Dilma Rousseff, a próxima festa na sede da Petrobras poderá ser feita após a conquista da autossuficiência: “Se tudo correr bem, o Brasil vai estar autossuficiente volumetricamente no ano que vem. Em 2015, o Brasil volta a produzir e refinar tudo aquilo que consome volumetricamente. Em relação à produção do pré-sal, a Petrobras festejou não por aquilo que ainda vai fazer, mas pelo o que já está fazendo. A festa veio do trabalho, mas a gente ainda tem um desafio enorme”, disse Graça Foster.

Além da Carta Maior, participaram da conversa com a presidente da Petrobras os jornalistas e/ou blogueiros Luís Nassif (Luís Nassif On-Line), Altamiro Borges (Blog do Miro), Alisson Matos (Conversa Afiada), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), Marco Midani (Brasil247), Fernando Brito (Tijolaço) e Miguel do Rosário (O Cafezinho).