Rafael Moraes Moura - O Estado de S.Paulo
Elite. A Universidade Federal de Ciências da Saúde, em Porto Alegre, é a instituição que apresenta o maior número de alunos de classes sociais A e B
O governo Lula criou várias medidas para aumentar o acesso das camadas mais pobres à universidade pública. O sistema de cotas sociais e raciais, por exemplo, foi adotado por 20 universidades federais de 14 Estados. A criação, em 2009, do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) - que seleciona estudantes para vagas em universidades federais por meio da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - deu chance para que um estudante de um Estado possa cursar uma federal de outro. Neste ano, o Sisu registrou 2 milhões de inscrições.
Os recortes feitos pelo Estado, porém, indicam que o avanço na inclusão ainda é lento. Em cinco das novas universidades da era Lula, por exemplo, a proporção de alunos ricos varia de 68% a 84% - bem maior que a média das 56 federais existentes (56%).
A Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)lidera a lista das instituições com maior proporção de alunos ricos, ou seja, das classes A e B (mais informações nesta página). Lá, além de 84,85% dos estudantes que pertencem a essas classes, 91,67% são brancos e 75,76%, mulheres. "O perfil do nosso aluno é similar ao dos estudantes da Região Sul, com as peculiaridades da área da saúde", diz o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Luís Henrique Telles da Rosa.
Entre as diversas explicações para os porcentuais estão o fato de ser uma instituição pequena e voltada especificamente para uma área, na qual é tida como uma das melhores do País, o que a faz ser bastante concorrida. Assim, acaba selecionando os alunos que tiveram chances de se preparar nas melhores escolas.
A mesma desigualdade é verificada quando se trata da divisão por raça, cor e etnia. Os estudantes brancos são maioria em oito das novas universidades, com índices que variam de 71,14% da Universidade Federal do ABC a 91% da UFCSPA. A média das federais brasileiras é de 53,59%.
Nível básico. Segundo a especialista em ensino superior e professora da USP Elizabeth Balbachevsky, reforçar a qualidade da educação oferecida no ensino médio das redes estaduais e municipais é fundamental para aumentar o acesso de jovens de classes populares à universidade pública. "O gargalo está nessa etapa de ensino porque, nos últimos anos, bem ou mal, o ensino fundamental vem recebendo políticas públicas voltadas para ele", explica. "A atratividade do ensino médio precisa melhorar - o currículo é essencialmente "bacharelesco" e "livresco"."
Para Elizabeth, o ingresso desse jovem na instituição federal deve ser acompanhado de uma política consistente de assistência social. "A permanência desse aluno de renda mais baixa normalmente é um desafio, porque ele precisa trabalhar para ajudar a família", afirma. "Além disso, não adianta colocá-lo na universidade pública se ele não tem a qualificação necessária para acompanhar o curso."
Ela considera que o acesso ao ensino superior público não deve ser massificado.
"Qualquer sistema de ensino precisa ter os dois tipos de instituição: a de massa, que dá uma formação profissional que atende ao mercado, e a acadêmica, voltada para formar a elite intelectual", explica. / COM MARIANA MANDELLI E ELDER OGLIARI
Fonte: www.estadao.com.br/noticias/impresso,universidades-federais-criadas-na-gestao-lula-mantem-desigualdades,760039,0.htm
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