BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff classificou a suspeita de
espionagem na rede de computadores da Petrobrás como uma prática movida
por "interesses econômicos e estratégicos". A violação teria sido feita
pela Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA. Dilma condenou a
atitude em nota divulgada ontem, quatro dias após ter ouvido do colega
americano Barack Obama que a tentativa de monitorar as comunicações
brasileiras "só traz custo".
Na nota oficial, a presidente afirmou que a Petrobrás não representa
ameaça à segurança de qualquer país, mas, sim, um dos maiores ativos de
petróleo do mundo e um patrimônio brasileiro. Desde quando vieram à tona
documentos secretos apontando que a NSA havia monitorado e-mails de
Dilma e de seus principais assessores, no início do mês, o governo já
desconfiava de que os alvos da espionagem eram as reservas do pré-sal.
"Se confirmados os fatos veiculados pela imprensa, fica evidenciado
que o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a
segurança ou o combate ao terrorismo, mas interesses econômicos e
estratégicos", escreveu a presidente na nota. "Tais tentativas de
violação e espionagem de dados e informações são incompatíveis com a
convivência democrática entre países amigos, sendo manifestamente
ilegítimas."
A jornalistas, Dilma afirmou que o monitoramento da Petrobrás "é tão
grave quanto" a violação de suas correspondências. A reportagem que
apontou a Petrobrás como alvo foi exibida no domingo pelo Fantástico, da
TV Globo.
Custo-benefício. Antes de divulgar a nota oficial,
Dilma relatou a ministros e parlamentares com quem se reuniu ontem, no
Palácio do Planalto, a conversa mantida com Obama, em São Petersburgo
(Rússia), na noite de quinta-feira. Os dois se encontraram na cúpula do
G-20.
Obama prometeu tomar providências. Ele disse, conforme relatos de
auxiliares de Dilma, não haver qualquer benefício que justificasse tal
procedimento porque os EUA investem na boa relação com o Brasil.
Foi nesse momento que o americano mencionou que a violação das
comunicações brasileiros só teria custos para os EUA. Dilma disse ao
colega que abordará o assunto em seu discurso de abertura da Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, no próximo
dia 24.
Ao que tudo indica, a presidente ainda não tinha detalhes sobre a
suspeita de espionagem na rede da Petrobrás quando conversou com Obama.
Mesmo assim, já estava certa de que havia interesses econômicos por trás
do monitoramento. O governo brasileiro decidiu enviar missões a países
da Europa para verificar como eles se protegem da bisbilhotagem.
Na conversa com Obama, Dilma disse que o rastreamento das
comunicações no Brasil não se enquadraria em nenhum princípio de
segurança. Afirmou que o combate ao terrorismo não pode violar a
soberania nacional. O americano concordou. "Para um país parceiro, vocês
colocam a relação bilateral numa situação muito difícil", argumentou a
presidente.
Por escrito. O mesmo tom foi adotado ontem na nota
oficial. "Inicialmente, as denúncias disseram respeito ao governo, às
embaixadas e aos cidadãos - inclusive a essa Presidência. Agora, o alvo
das tentativas, segundo as denúncias, é a Petrobrás, maior empresa
brasileira", diz a nota.
"O governo brasileiro está empenhado em obter esclarecimentos do
governo norte-americano sobre todas as violações eventualmente
praticadas, bem como em exigir medidas concretas que afastem em
definitivo a possibilidade de espionagem ofensiva aos direitos humanos, à
nossa soberania e aos nossos interesses econômicos", completa a nota de
Dilma.
Fonte<http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,dilma-diz-que-espionagem-na-petrobras-expoe-motivacoes-economicas-dos-eua,1072980,0.htm>
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