Retomada do PIB, a tarefa inadiável
JOÃO
VILLA VERDE E IURI DANTAS - O ESTADO DE S. PAULO
07
Setembro 2014 | 22h 00
Não há resposta simples mas uma coisa é certa, dizem especialistas: o Brasil precisa voltar a crescer - e medidas paliativas não resolvem
BRASÍLIA
- Na primeira metade deste ano, a economia brasileira mergulhou em
uma recessão técnica pela segunda vez desde o início da crise
financeira internacional. No fim de 2008 e início de 2009 aconteceu
o mesmo, mas o crescimento no ano seguinte foi o mais forte em um
quarto de século, muito apoiado por medidas tomadas pelo governo
para estimular o consumo.
Desta
vez, a maioria dos especialistas acredita que o País precisa de mais
do que isso para superar a contração econômica verificada de
janeiro a junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Eis o desafio que está lançado: como fazer a economia
voltar a crescer?
Não
há uma resposta simples para a pergunta acima. Entre os economistas
consultados pelo Estado, um ponto consensual é quanto à necessidade
urgente de fazer com que o PIB volte a crescer de forma sustentada,
isto é, uma fórmula que permita que os investimentos públicos e
privados cresçam acima do consumo das famílias, num movimento
contínuo.
Outra
opinião unânime indica a necessidade de aumentar a produtividade:
fabricar produtos melhores, com maior escala e a preços mais baixos.
Caso
a previsão mais recente do mercado para o avanço do PIB seja
confirmada, a economia avançará 0,5% em 2014, a menor taxa desde
1999, excluindo, é claro, a retração de 0,3% registrada em 2009,
logo após a explosão da crise. Além disso, o governo Dilma
Rousseff (PT) terminará com uma das menores médias de crescimento
econômico desde a proclamação da República, em 1889. Apenas os
presidentes Floriano Peixoto (1891-1894) e Fernando Collor
(1990-1992) entregaram uma média menor. Diante desse quadro, a
retomada do crescimento tornou-se um imperativo econômico e
político.
“O
grande problema do Brasil é que, em pleno debate eleitoral, ninguém
apresenta soluções para o baixo crescimento da economia. Começa
2015 e o que o governo fará para dinamizar a atividade, criando as
condições para que os empresários façam investimentos?”,
questiona o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, da Fundação
Getúlio Vargas (FGV-SP).
Estagnação. Ex-presidente
do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, ex-ministro
da Fazenda (1987), da Gestão Pública (1995) e de Ciência e
Tecnologia (1999), Bresser-Pereira está pessimista. “Vivemos hoje
um processo semelhante aos de 1986 e 1998, que eu vivi na pele. O
quadro é de estagnação que precede uma crise interna, e assim o
tão necessário ajuste é realizado”, diz ele, em referência a
dois períodos históricos.
Em
1986, o governo José Sarney (PMDB) segurou o Plano Cruzado até o
limite, permitindo ajustes somente após as eleições - em 1987, o
País quebrou e deu um calote na dívida externa. Em 1998 foi a vez
de o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) segurar a taxa de
câmbio fixa na relação de “um para um” entre dólar e real.
Semanas
após as eleições, o mercado forçou um ajuste, o câmbio disparou
e a economia entrou em crise no início de 1999. Bresser-Pereira não
foi o único economista a relatar ao Estado uma certa semelhança com
o cenário vivido hoje, no governo Dilma Rousseff.
Dilema. Na
avaliação de Colin M. Lewis, professor emérito de História
Econômica na London School of Economics, a retomada do crescimento
passa por um combate mais eficiente da inflação. O governo também
deveria buscar o aumento da produtividade do País. Lewis aponta,
ainda, para a necessidade de melhorar a administração da taxa de
câmbio e atacar “o dilema produtividade/corrupção”, que também
atrapalha o avanço de empresas brasileiras.
“Até
muito recentemente, sucessivos governos brasileiros tiveram um
histórico razoável de administrar a inflação, um excelente
desempenho na redução da desigualdade social”, assinalou. “E um
resultado bem mais malsucedido no aumento da produtividade, não
obstante as melhorias do mercado de trabalho.”
Resultados.Segundo
o economista Márcio Garcia, doutor por Stanford (EUA) e professor da
PUC-RJ, o governo está “colhendo os frutos” das sementes
plantadas no combate à crise mundial, entre 2008 e 2010. “Teria
sido melhor uma combinação de juros mais baixos e menor expansão
fiscal, o contrário do que foi feito. Alguns estímulos dados em
2009 faziam sentido, mas deveriam ter sido revertidos. Não foram, e
era óbvio que chegaríamos no limite do crescimento sustentado sem
avanço da produtividade”, afirma.
A
indústria de transformação, que deveria alavancar a produtividade,
está em crise. “Os vários pacotes de medidas de estímulo
anunciados pelo governo, que não consegue mais entregar o
crescimento como entregou, foram principalmente voltados para o
consumo das famílias. Esses incentivos serviram mais às
importações, e a indústria hoje não responde mais. O atual modelo
morreu”, diz o economista Maurício Canêdo Pinheiro,
professor-doutor da FGV-Rio.
Para
o economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor do Banco Central em 1991
e 1992, quando a crise econômica criada pelo Plano Collor deixou a
inflação acima de 1.000%, a situação mundial não ajudou o
governo. “O governo errou na ingerência no setor elétrico e no
controle do preço da gasolina” diz o economista. “As concessões
demoraram muito a sair do papel por excesso de voluntarismo do
governo em definir lucros do setor privado. Mas, mesmo essa série
longa de equívocos, não são a razão única para a recessão. O
quadro internacional é muito complicado.”
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