sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Uma fotografia da economia brasileira em dias de Copom


ter, 18/10/11
por thais.heredia |


O filósofo iluminista francês Voltaire, lá em meados de 1700, escreveu: “Uma discussão prolongada significa que ambas as partes estão erradas”.
Há pelo menos 40 dias que não se fala de outra coisa quando o tema é a economia brasileira: o Banco Central estaria certo ou errado na atual estratégia de cortar os juros, antes do que muitos esperavam, para proteger a economia brasileira de um abalo mais forte vindo da Europa? E agora que a atividade aqui no Brasil começa a perder força, seria necessário derrubar ainda mais os juros? E como fica a inflação, que continua alta?
A discussão se prolonga e está longe do consenso. Talvez nem chegue lá. Enquanto o debate prossegue, vamos aos fatos. Uma fotografia dos indicadores mais relevantes da economia poderá dar uma breve noção do que deverá ser levado em consideração pelos diretores do Banco Central nestes dois dias de reuniões do Copom.
InflaçãoO índice oficial utilizado pelo BC para perseguir as metas de inflação está em 7,3% no período de doze meses, completados no mês passado. Em setembro, último dado mensal completo, o IPCA foi de 0,53%, segundo o IBGE. No mesmo período de doze meses, a inflação dos serviços já ultrapassa 9%.
Pelo último relatório Focus com pesquisa de mercado divulgado pelo BC esta semana, espera-se que o IPCA feche este ano em 6,52%. Para 2012, a previsão subiu pela sétima vez consecutiva, o mercado espera um índice de 5,61%. Lembrando que a meta de inflação a ser perseguida pelo BC é de 4,5% para este ano e os dois próximos.
A previsão pública do BC é que teremos um IPCA de 6,4% em 2011, “com 45% de chances de estourar o teto da meta de 6,5%” e, para 2012, o índice deverá ficar em “cerca” de 5%. Para chegar lá, o presidente do BC está convicto de que a inflação, a partir de agora, vai cair até ser capaz de colocar o índice de volta ao seu devido lugar.
“Nosso horizonte é dezembro de 2012 (para o cumprimento da meta de 4,5%), mas em outubro a inflação em 12 meses vai começar a recuar em 0,30 ponto”, disse Alexandre Tombini em entrevista recente ao jornal “Folha de S.Paulo”.
PIBHá uma semana, o próprio BC foi porta-voz de uma notícia que preocupou governo e mercados. A prévia do Produto Interno Bruto, calculada pelo BC, registrou queda de 0,53% em agosto. O consumo das famílias e as vendas no comércio caíram pela primeira vez desde o início do ano, colaborando para o recuo no PIB em agosto. Antes disso, a indústria já mostrava sinais de fraqueza há pelo menos seis meses.
O número acionou alarme de que atividade econômica pode terminar no zero a zero, ou até mesmo negativa, no terceiro trimestre deste ano. Muito rapidamente, as expectativas para o crescimento do PIB deste ano sofreram revisões para baixo. O governo, na figura do ministério da Fazenda, espera agora que a economia cresça até 4% em 2011. Fora de Brasília, muitos analistas, economistas e consultores esperam um resultado que passe raspando em 3% este ano. A Confederação Nacional da Indústria, CNI, reduziu para 3,4% sua projeção.
Crédito, inadimplência e confiança do consumidorEm setembro a procura do consumidor por crédito caiu 10,7%, segundo o indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito. Em agosto, o apetite por crédito havia registrado alta de 8%, pelo mesmo indicador.
Seguindo o mesmo caminho de baixa, a inadimplência das operações registrou a primeira queda em sete meses. O Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor caiu 3,0% em setembro, em comparação com o mês de agosto.
“O consumidor confia no futuro, mas está cauteloso com o presente”, disse o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Rogério Amato, ao anunciar que o Índice Nacional de Confiança ACSP/IPSOS de setembro de 2011 subiu para 154 pontos, contra 150 pontos em agosto e 153 pontos em setembro de 2010.
“Atualmente, o consumidor sente sua situação financeira hoje mais apertada, tenta guardar um pouco de dinheiro e postergar as compras. Mas está mais confiante nos próximos seis meses, contando com melhoria no mercado de trabalho e uma alta no salário-mínimo, que irá beneficiar uma grande parcela da população entre ativos e aposentados”, completa Amato em comunicado à imprensa.
EmpregoO número mais atual sobre emprego no Brasil está fresquinho, divulgado nesta terça-feira pelo ministério do Trabalho. A criação de empregos com carteira assinada caiu 16,5% em setembro. Até agora foram gerados 2,07 milhões de empregos com registro, deixando mais distante a meta desejada pelo governo de 3 milhões de empregos formais em 2011.
Na outra ponta da corda, a taxa de desemprego do país está em níveis historicamente baixos, de 6% entre a população economicamente ativa registrados em agosto, segundo o IBGE. Com um ritmo bem menor da produção industrial desde o segundo bimestre deste ano, os dados de desemprego deverão reagir ao ambiente atual nos próximos meses. Como o setor de serviços continuava acelerado até agosto, vinha absorvendo a massa de trabalhadores a procura de emprego.
EuropaBem, aqui o cenário de catástrofe próxima vai e volta a cada dia. O que gerou o último alívio foi o  plano de salvamento dos bancos europeus com dificuldades que está sendo levado adiante pelos líderes do continente. Mas não foi suficiente para impedir o rebaixamento da classificação de risco de 24 bancos e instituições financeira da Itália nesta terça-feira.
Há um outro dado que surpreendeu positivamente o mercado. O resultado da produção industrial dos 17 países da zona do euro, que cresceu 1,2% em agosto, o que significa expansão anual de 5,3%, segundo a agência de estatísticas Eurostat. O mercado esperava recuo de 0,7% no mês e alta anual de apenas 2,2%.
A Grécia, claro, continua sendo a ferida aberta e difícil de cuidar, ainda capaz de gerar problemas gravíssimos e com consequências desconhecidas para Europa e o resto do mundo.  Há pela frente uma larga caminhada de definições e aprovações para que o país tire o continente da beira do abismo.
Certos e/ou erradosNa sala de reuniões do Copom em Brasília há muito mais do que fotografias a serem analisadas. Os filmes do passado recente serão repassados e os modelos que apontam para futuro serão testados e recalculados pelos sete diretores que tem direito a voto sobre a taxa de juros da economia brasileira. Tudo indica, e assim muitos esperam, que o Copom reduzirá para 11,5% a taxa Selic nesta quarta-feira.
Seria ingênuo imaginar que os dados sozinhos indicariam a melhor decisão. Há quem diga que, em economia, a relação entre arte e ciência oscila um bocado. Se for mesmo assim, as análises sofrem uma boa carga subjetiva tanto quanto a da verdade dos números.
Até que os fatos confirmem ou desmintam as opiniões do BC, ou de quem concorda com ele, ou de quem discorda das escolhas do Copom, a sentença de Voltaire poderá predominar se a discussão não avançar.
E como está em voga recorrer a frases imponentes para tentar explicar o que se passa, escutemos Confúcio, pensador chinês que viveu no século IV a.C: “O mestre disse: Quem se modera, raramente se perde”.

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