Estudo do Ipea divulgado nesta quinta (16) revela que Sul do país
perdeu postos de trabalho desde 2008, enquanto Sudeste ganhou novas
vagas. Assim, ainda que se possa considerar que haja pleno emprego em
determinadas regiões ou setores produtivos, "fragilidade do argumento"
fica clara quanto se abre foco análitico e também quando se avalia a
qualidade dos postos gerados.
São Paulo – Trabalho precário e diferenças regionais impedem que o
Brasil possa ser considerado um país com pleno emprego, apesar do
considerável recuo das taxas de desocupação nos últimos anos.
A
conclusão é de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), conduzido pelos pesquisadores Maria Andreia Parente Lameira, do
próprio Ipea, e Fernando Augusto de Mattos, da Universidade Federal
Fluminense (UFF).
Conforme dados do IBGE, a taxa média de
desemprego anual em 2011 ficou em 6%, ante 6,7% em 2010 – o nível mais
baixo da série histórica.
Esse índice levou analistas a apontarem
o país como próximo ao pleno emprego, que se define como um estado de
utilização máxima dos fatores de produção, capital e trabalho, em uma
situação de equilíbrio entre a oferta e a demanda.
“A partir de
uma análise dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged), é possível demonstrar a fragilidade do argumento do pleno
emprego a partir de uma taxa de desemprego nacional”, afirmam os
pesquisadores.
Ainda que se possa considerar que haja essa
situação em determinadas regiões ou setores produtivos, constatou-se, a
partir das estatísticas laborais, grandes diferenças em termos de
geração de postos de trabalho pelo país.
Desde 2008, por exemplo,
em todos os trimestres estudados – exceto o último de 2008 – a região
Sul fechou vagas. Nesse caso, o dado nacional ficou no campo positivo
porque a enorme geração de postos com carteira assinada no Sudeste
serviu de compensação.
Os pesquisadores ainda destacam os casos
de Salvador e Recife, capitais nordestinas onde o Dieese realiza
pesquisas sobre a desocupação. Em ambos os casos, o instituto ligado aos
sindicatos aponta a existência de altos níveis do chamado desemprego
oculto, não computado pelo índice do IBGE.
Essa modalidade de
desocupação é registrada tanto quando o trabalhador vive apenas de
“bicos” – o chamado desemprego oculto pelo trabalho precário – como
quando há desistência da procura por uma vaga diante das dificuldades em
encontrá-la – o desemprego por desalento.
Na região
metropolitana de Salvador, por exemplo, a taxa de desemprego aberto –
modalidade medida pelo IBGE – alcança 10,3%, mas, considerando-se a
desocupação oculta, a taxa de desemprego total salta para 15,3%.
Da
mesma forma, na região metropolitana de Recife, o desemprego aberto é
de 8,7% e o total chega a 13,8%. “Ao analisar o mercado de trabalho
brasileiro levando em consideração a taxa de desemprego total, em vez da
aberta, o cenário fica menos favorável a uma afirmação da tese do pleno
emprego”, dizem.
Para piorar, o estudo do Ipea destaca que a
qualidade das vagas geradas no país tem sido de baixa remuneração, de
até dois salários mínimos, em especial nos setores de serviços e
construção civil. E pleno emprego, afinal de contas, também pressupõe um
equilíbrio no mercado de trabalho em patamares positivos para o
trabalhador.
“É preciso avançar nas informações estatísticas para
confirmar ou não a hipótese de que atualmente há, no Brasil, uma
situação de pleno emprego, bem como investigar a evolução da
produtividade do trabalho em certos setores e comparar com os ganhos
salariais reais”, propõe os pesquisadores.
Clique aqui para ler o estudo na íntegra.
Fonte: www.cartamaior.com.br
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