Uma manipulação que lembra o ataque midiático contra Kadhafi
Achille Lollo
Depois de ter reestabelecido o controle
geoestratégico na Tunísia, no Egito e na Líbia, os estrategista da
Tríade (EUA, Grã Bretanha e Israel) estão criando as condições para
atacar o Irã já em dezembro e assim poder reconfigurar sua influência no
Oriente Médio. É neste contexto que os editores da mídia européia e a
estadunidense - que em março exigiu a intervenção da OTAN para “impedir a
Kadhafi de massacrar a população de Bengase”, - começaram a divulgar
informações altissonantes sobre “o perigo que a humanidade corre com a
bomba atômica iraniana”. Uma manipulação que lembra o ataque midiático
contra Kadhafi“para salvar a população de Bengase do massacre” e que
pretende criar na opinião pública mundial um clima de geral apreensão
política, necessária a justificar o ataque ao Irã e assim legitimar um
permanente estado de guerra no Oriente Médio. Pois esta seria a quinta
guerra de ocupação - depois de Afeganistã, Iraque, Libia e Palestina -
que o Ocidente vai sustentar na região.
O almirante Mike
Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados
Unidos, ao ser entrevistado, no passado dia 6, no programa da televisão
NBC “Meet The Press” (Encontro com a Imprensa), declarou que os “Estados
Unidos têm um plano de ataque militar contra o Irã que foi elaborado
nos últimos meses. Apesar do governo ter dado prioridade à estratégia
diplomática e de sanções, nunca se deixou fora a opção militar, cujas
potencialidades estiveram sempre na mesa e seguem firmes, sendo que a
decisão por sua implementação caberá ao presidente Obama".
As
declarações do almirante Mullen explicam por que nos últimos meses o
Pentágono – após o prévio acordo entre Obama e o primeiro ministro
britânico Nic Cameron – foi armazenar milhares de bombas inteligentes do
tipo “Bunker-Buster” na base aeronaval britânica de Diego Garcia no
Oceano Pacifico. Outro grande lote desse mortífero engenho foi fornecido
à Força Aérea de Israel que foi ocultado em diferentes paióis no
deserto do Negev.
De fato, a bomba “Bunker-Buster” foi
criada para destruir no Afeganistão os refúgios que dos talebães haviam
construído nas cavernas das montanhas e o das bases subterrânea de
Al-Kaeda onde vivia Osama bin Ladem. A explosão da Bunker-Buster no
terreno é seguido de com uma serie de explosões verticais de cima para
abaixo, que provocam o desmoronamento das camadas de terra até uma
profundidade de 100 metros. Segundo o relatório do Pentágono ao
presidente Obama somente com sucessivos bombardeios na região de Parchin
– a 75 quilômetros a sudeste da capital Teerã - é que será possível
destruir os laboratórios atômicos subterrâneos e os depósitos de urânio
enriquecido.
Portanto os objetivos principais do ataque
contra o Irã são três: 1) a destruição total dos centros de pesquisa
atômica, muitos deles localizados na periferia da capital nos campus
universitários; 2) os laboratórios subterrâneos onde se realiza o
enriquecimento do urânio; 3) as centrais atômicas em construção para a
produção de eletricidade para uso industrial, também localizados a 80
quilômetros da capital Teerã.
O que a mídia não revelou é
que para permitir aos caças bombardeiros de lançar centenas de bombas
Bunker-Buster sobre os locais suspeitos, será necessário destruir
previamente: a) a rede de radares militares; b) as baterias antiaéreas
iranianas, em particular as que são armadas com foguetes ter-ar; c)
danificar pesadamente as pistas de decolagem dos aeroportos militares;
d) alvejar a maioria hangares onde estão estacionadas os caças à borda
das pistas; e) bombardear pesadamente todas as casernas da Força Aérea e
os tanques de combustíveis que abastecem aviões e helicopteros.
Trata-se,
então de uma complexa ação destruidora preventiva que pode ser
realizada somente com o lançamento de centenas de foguetes Cruise e
Tomahawack a partir dos submarinos britânicos e dos cruzadores
estadunidenses, que poderão iniciar o lançamento dos foguetes somente
após ter empreendido outra batalha para liquidar as numeras torpedeiras e
lancha-canhoneira iranianas que controlam o estreito de Ormuz.
Quer
dizer, não se trata de uma simples ação de retaliação, como Israel fez
em 1992 contra os centros de pesquisas do Iraque. Na verdade, será o
início de uma guerra sangrenta que pode levar o espírito belicoso do
sionismo israelense até os limites da loucura atômica. De fato, se o
ataque preventivo dos foguetes Cruise e Tomahawack não alcançará todos
seus objetivos, certamente haverá uma dura retaliação do Irã contra o
território israelense e todo o Oriente Médio pode entrar em uma perigosa
escandescência que dificilmente os EUA e Israel poderão controlar, a
não ser recorrendo ao uso de bombas atômicas.
Quem atacará primeiro
Foi
o presidente israelense, Shimon Peres que, no sábado, inaugurou, o
festival de ameaças midiáticas ao afirmar na Rádio Europe 1 que ”...É
cada vez mais provável um ataque contra o Irã, do momento que os
serviços de inteligência de vários paises (EUA, e Grã Bretanha, Qatar,
Arábia Saudita, Turquia, ndr.) avisaram que o Irã está se preparado para
construir a bomba atômica. Por isso Israel vai pedir a esses paises a
respeitar os compromissos assumidos e fazer o que deve ser feito e isso
implica uma longa lista de opções..“
Depois, no domingo à
noite, ao ser entrevistado no programa Channel 2 da TV israelense,
Shimon Peres se livrou da fleuma diplomática e logo declarava:
“...Israel está muito mais perto de recorrer a opção militar de que
encontrar uma solução diplomática para eliminar a ameaça de o programa
nuclear de Teerã, visto que o Irão está muito perto de alcançar a
produção de bombas atômicas e isso põe em perigo a existência de
Israel”.
Assim foi na década de 90 com o Iraque quando
construção de uma central atômica para a produção de energia elétrica
foi considerada pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) um
subterfúgio para enriquecer o urânio e, de conseqüência ter a tecnologia
para construir a bomba atômica. Considerando que o Irã desenvolveu
projetos para dotar suas Forças Armadas dr foguetes de meio-alcançe e
que pelos EUA é considerado um “pais maldito” por que não reconhecer a
existência de Israel, é evidente que todos os laboratórios de pesquisa
atômica e eletro-nuclear do Irã foram considerados pelos serviços de
inteligência estadunidenses e britânicos “locais onde se está
construindo clandestinamente a bomba atômica”.
Em prática é
o que dá a entender a AIEA em seu relatório de 8 de novembro sobre as
“atividades atômicas iranianas” , apesar de seu novo diretor, o japonês
Yukia Amano, ter pedido aos seus inspetores a procurar mais provas, além
dos relatos fornecidos pelos serviços secretos ocidentais.
Uma
maneira tardia para inocentar a AIEA diante das pesadas acusações do
ministro das relações exteriores iraniano, Ali Akbar Salehi que a TV Al
Arabiya declarava ”... Estou convencido que os documentos que a AIEA
diz ter, não têm nenhuma autenticidade e por isso o relatório é um
documento falsificado. De fato a questão nuclear iraniana não tem
impedimentos técnicos ou legais. Os impedimentos são inteiramente
políticos. Se a AIEA enfrentasse essa questão apenas do ponto de vista
técnico e legal ela deveria admitir que nosso projeto é bem
transparente...”
De fato a “fuga de notícias” que
antecipavam as conclusões do relatório da AIEA fortaleceu a posição do
primeiro ministro israelense Benjamim Netanyahu, que desta maneira
conseguiu ganhar o consenso dos 15 integrantes do Conselho de segurança
israelense para a preparação do ataque aéreo preventivo ao Irã.
É
neste clima que o Ministro da Defesa, Ehud Barak, afirmava a TV
britânica BBC: "...os iranianos estão determinados a alcançar uma
capacidade nuclear militar, o que representa uma grave ameaça para todo o
mundo. Além disso, se o Irã permanecerá armado com bombas atômicas, no
Oriente Médio se corre o risco de alterar o atual status provocando uma
nova corrida aos armamentos nucleares...”.
Palavras que
pretendem convencer a opinião pública mundial de que Israel, neste
momento estaria praticamente indefeso e sozinho perante a ameaça do ogro
iraniano. Porém a BBC e o próprio Ehud Barak não revelam que o Estado
sionista, além de possuir 75 ogivas nucleares de velhas geração
fornecidas pelos EUA, construiu secretamente mais de 25 e que por isso
impede a fiscalização dos inspetores da AIEA nos laboratórios da Força
Aérea.
O ministro Ehud Barak, também não revelou que os
pilotos israelenses estão fazendo treinos especiais há mais de um mês em
Decimomannu – a base aérea que a Itália cedeu à OTAN na Sardenha – para
missões “de longo alcance” e lançamento das bombas inteligentes
“Bunker-Buster”. Treinos que iniciaram na ilha italiana logo depois que
a Turquia, no mês de agosto, rompeu os acordos de cooperação militar
que permitiam aos pilotos israelenses de fazer testes nos perímetros de
tiro das bases aéreas turcas.
Irã, Síria e França
A
campanha da OTAN na Libia e o assassinato de Kadhafi, sem dúvida
reforçaram a imagem e o prestígio imperialista da França que, agora,
pretende exercer uma efetiva influência no Mar Mediterrâneo tendo
relações preferenciais com Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e depois o
Líbano e a contestada Síria. Um contexto que exige um período de paz
para permitir as empresa e multinacionais francesas de capitalizar o
sucesso diplomático e político do presidente Sarkozy.
De
fato, o CNT da Libia, já confirmou que 80% dos projetos de reconstrução
dos prédios, estradas, e outros tipo de infra-estruturas serão entregue
as empresas francesas , cujo pagamento será garantido com a exportação
para a França de petróleo e gás e a entrega de mais concessões
petrolíferas às duas multinacionais petrolíferas francesas , a Total e a
Elf-Aquitaine.
Um cenário que evidentemente não
satisfaz o empresariado estadunidense e britânico que pressionou seus
governos para redimensionar o papel da França que neste momento ao
abocanhar os melhores contratos na Líbia e na Tunísia pode se expandir
ainda mais nos ricos mercados do Oriente Médio.
Por isso,
para muitos analistas, a guerra contra o Irão é um triplo antídoto: 1)
reafirmar a decisão do Ocidente em defender Israel e não admitir nenhum
mudança estratégica no Oriente Médio; 2) Isolar ainda mais o Irã que
para poder evitar o mortífero ataque aéreo além de bloquear o projeto
nuclear deve deixar de proteger a Síria, o Hamas e Heibollah libanês; 3)
Obrigar a França, Alemanha e Itália a apoiar o ataque ao Irã e
consequentemente á Síria impedindo, assim que a sonhada União
Mediterrânea de Sarkozy possa ser considerado a ponte entre o mundo
islâmico e o Ocidente, pois ao entrar em guerra contra o Irã 70% dos
muçulmanos devem etiquetar Sarkozy e os franceses como “inimigos de
Deus”, sobretudo se a intensidade dos bombardeios vai fazer “tabula
rasa” em Teerão tal como os aviões da OTAN fizeram em Trípoli ou Sirte.
Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente de Brasil de Fato na Itália e editor do programa TV “Quadrante Informativo”.
fonte: http://www.brasildefato.com.br/content/nova-guerra-fria-no-oriente-m%C3%A9dio
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