domingo, 13 de novembro de 2011

A nova guerra fria no Oriente Médio

Uma manipulação que lembra o ataque midiático contra Kadhafi

Achille Lollo
Depois de ter reestabelecido o controle geoestratégico na Tunísia, no Egito e na Líbia, os estrategista da Tríade (EUA, Grã Bretanha e Israel) estão criando as condições para atacar o Irã já em dezembro e assim poder reconfigurar sua influência no Oriente Médio. É neste contexto que os editores da mídia européia e a estadunidense - que em março exigiu a intervenção da OTAN para “impedir a Kadhafi de massacrar a população de Bengase”, - começaram a divulgar informações altissonantes sobre “o perigo que a humanidade corre com a bomba atômica iraniana”. Uma manipulação que lembra o ataque midiático contra Kadhafi“para salvar a população de Bengase do massacre” e que pretende criar na opinião pública mundial um clima de geral apreensão política, necessária a justificar o ataque ao Irã e assim legitimar um permanente estado de guerra no Oriente Médio. Pois esta  seria a quinta guerra de ocupação - depois de Afeganistã, Iraque, Libia e Palestina - que o Ocidente vai sustentar na região.

O almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, ao ser entrevistado, no passado dia 6, no programa da televisão NBC “Meet The Press” (Encontro com a Imprensa), declarou que os “Estados Unidos têm um plano de ataque militar contra o Irã que foi elaborado nos últimos meses. Apesar do governo ter dado prioridade à estratégia diplomática e de sanções, nunca se deixou fora a opção militar, cujas potencialidades estiveram sempre na mesa e seguem firmes, sendo que a decisão por sua implementação caberá ao presidente Obama".

As declarações do almirante Mullen explicam por que nos últimos meses o Pentágono – após o prévio acordo  entre Obama e o primeiro ministro britânico Nic Cameron – foi armazenar milhares de bombas inteligentes do tipo “Bunker-Buster” na base aeronaval britânica de Diego Garcia no Oceano Pacifico. Outro grande lote desse mortífero engenho foi fornecido à Força Aérea de Israel que foi ocultado em diferentes paióis no deserto do Negev.

De fato, a bomba “Bunker-Buster” foi criada para destruir no Afeganistão os refúgios que dos talebães haviam construído nas cavernas das montanhas e o das bases subterrânea de Al-Kaeda onde vivia Osama bin Ladem. A explosão da Bunker-Buster no terreno é seguido de com uma serie de explosões verticais de cima para abaixo, que provocam o desmoronamento das camadas de terra até uma profundidade de 100 metros. Segundo o relatório do Pentágono ao presidente Obama somente com sucessivos bombardeios na região de Parchin – a 75 quilômetros a sudeste da capital Teerã - é que será possível destruir os laboratórios atômicos subterrâneos e os depósitos de urânio enriquecido.

Portanto os objetivos principais do ataque contra o Irã são três: 1) a destruição total dos centros de pesquisa atômica, muitos  deles localizados na periferia da capital nos campus universitários; 2) os laboratórios subterrâneos onde se realiza o enriquecimento do urânio; 3) as centrais atômicas em construção para a produção de eletricidade para uso industrial, também localizados a 80 quilômetros da capital Teerã.

O que a mídia não revelou é que para permitir aos caças bombardeiros de lançar centenas de bombas Bunker-Buster sobre os locais suspeitos, será necessário destruir previamente: a) a rede de radares militares; b) as baterias antiaéreas iranianas, em particular as que são armadas com foguetes ter-ar; c) danificar pesadamente as pistas de decolagem dos  aeroportos militares; d) alvejar a maioria hangares onde estão estacionadas os caças à borda das pistas; e) bombardear pesadamente todas as casernas da Força Aérea e os tanques de combustíveis que  abastecem aviões  e helicopteros.  

Trata-se, então de uma complexa ação destruidora preventiva que pode ser realizada somente com o lançamento de centenas de foguetes Cruise e Tomahawack a partir dos submarinos britânicos e dos cruzadores estadunidenses, que poderão iniciar o lançamento dos foguetes somente após ter empreendido outra batalha para liquidar as numeras torpedeiras e lancha-canhoneira iranianas que controlam o estreito de Ormuz.

Quer dizer, não se trata de uma simples ação de retaliação, como Israel fez em 1992 contra os centros de pesquisas do Iraque. Na verdade, será o início de uma guerra sangrenta que pode levar o espírito belicoso do sionismo israelense até os limites da loucura atômica. De fato, se o ataque preventivo dos foguetes Cruise e Tomahawack não alcançará todos  seus objetivos, certamente haverá uma dura retaliação do Irã contra o território israelense e todo o Oriente Médio pode entrar em uma perigosa escandescência que dificilmente os EUA e Israel poderão controlar, a não ser recorrendo ao uso de bombas  atômicas.



Quem atacará primeiro
Foi o presidente israelense, Shimon Peres que, no sábado, inaugurou, o festival de ameaças midiáticas ao afirmar na Rádio Europe 1 que ”...É cada vez mais provável um ataque contra o Irã, do momento que os  serviços de inteligência de vários paises (EUA, e Grã Bretanha, Qatar, Arábia Saudita, Turquia, ndr.) avisaram que o Irã está se preparado para construir a bomba atômica. Por isso Israel vai pedir a esses paises a respeitar os  compromissos assumidos e fazer o que deve ser feito e isso implica uma longa lista de opções..“

Depois, no domingo à  noite, ao ser  entrevistado no programa Channel 2 da TV israelense, Shimon Peres se livrou da fleuma diplomática e logo declarava: “...Israel  está muito mais perto de recorrer a opção militar de que encontrar uma  solução diplomática para eliminar a ameaça de o programa nuclear de Teerã, visto que o Irão está muito perto de alcançar a produção de bombas atômicas e isso põe em perigo a  existência de Israel”.

Assim foi na década de 90 com o Iraque quando construção de uma central atômica para a produção de energia elétrica foi considerada pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) um subterfúgio para enriquecer o urânio e, de conseqüência ter a tecnologia para construir a bomba atômica.  Considerando que o Irã desenvolveu projetos para dotar suas Forças  Armadas dr foguetes de meio-alcançe e que pelos EUA é  considerado um “pais maldito” por que não reconhecer a existência de Israel, é  evidente que todos os laboratórios de pesquisa atômica e eletro-nuclear do Irã foram considerados pelos serviços de inteligência estadunidenses e britânicos “locais onde se está construindo clandestinamente a bomba atômica”.

Em prática é o que dá a entender a AIEA em seu relatório de 8 de novembro sobre as “atividades atômicas iranianas” , apesar de seu novo diretor, o japonês Yukia Amano, ter pedido aos seus inspetores a procurar mais provas, além dos relatos fornecidos pelos serviços secretos ocidentais.

Uma maneira tardia para inocentar a AIEA diante das  pesadas acusações do ministro das relações  exteriores iraniano, Ali Akbar Salehi que a TV Al Arabiya declarava ”... Estou convencido que os documentos que a AIEA diz ter, não têm nenhuma autenticidade e por isso o relatório é um documento falsificado. De fato a questão nuclear iraniana não tem impedimentos técnicos ou legais. Os impedimentos  são inteiramente políticos. Se a AIEA enfrentasse essa questão apenas do ponto de vista técnico e legal ela deveria admitir que nosso projeto é bem transparente...”

De fato a  “fuga de notícias” que antecipavam as conclusões do relatório da AIEA fortaleceu a posição do primeiro ministro israelense Benjamim Netanyahu, que desta maneira conseguiu ganhar o consenso dos 15 integrantes do Conselho de segurança israelense para a preparação do ataque aéreo preventivo ao Irã.

É neste clima que o Ministro da Defesa, Ehud Barak, afirmava a TV britânica BBC: "...os iranianos estão determinados  a alcançar uma capacidade nuclear militar, o que representa uma grave ameaça para todo o mundo. Além disso, se o Irã permanecerá armado com bombas  atômicas, no Oriente Médio se corre o risco de alterar o atual status provocando uma nova corrida aos armamentos nucleares...”.

Palavras que pretendem convencer a opinião pública mundial de que Israel, neste momento estaria praticamente indefeso e sozinho perante a ameaça do ogro iraniano. Porém a BBC e o próprio Ehud Barak não revelam que o Estado sionista, além de possuir 75 ogivas nucleares de velhas geração fornecidas pelos EUA, construiu secretamente mais de 25 e que por isso impede a fiscalização dos inspetores da AIEA nos laboratórios da Força Aérea.

O ministro Ehud Barak, também não revelou  que os pilotos israelenses estão fazendo treinos especiais há mais de um mês em Decimomannu – a base aérea que a Itália cedeu à OTAN na Sardenha – para missões “de longo alcance” e lançamento das bombas inteligentes “Bunker-Buster”. Treinos que iniciaram  na ilha italiana logo depois que a Turquia, no mês de agosto, rompeu os acordos de cooperação militar que permitiam aos pilotos israelenses de fazer testes nos perímetros de tiro das bases aéreas turcas.



Irã, Síria e França
A campanha da OTAN na Libia e o assassinato de Kadhafi, sem dúvida reforçaram a imagem e o prestígio imperialista da França que, agora,  pretende exercer uma efetiva influência no Mar Mediterrâneo tendo relações preferenciais com Marrocos,  Argélia, Tunísia, Líbia e depois o Líbano e a contestada  Síria. Um contexto que exige um período de paz para permitir as  empresa e multinacionais francesas de capitalizar o sucesso diplomático e político do presidente Sarkozy.

De fato, o CNT da Libia, já confirmou que 80% dos projetos de reconstrução dos prédios, estradas, e outros tipo de infra-estruturas serão entregue as  empresas francesas , cujo pagamento será garantido com a  exportação para a França de petróleo e gás e a entrega de mais concessões petrolíferas às duas multinacionais petrolíferas francesas , a Total e a Elf-Aquitaine.

Um cenário que  evidentemente não satisfaz o empresariado estadunidense e britânico que pressionou seus governos para redimensionar o papel da França que neste momento ao abocanhar os melhores contratos na Líbia e na Tunísia pode se expandir ainda mais nos ricos mercados do Oriente Médio.

Por isso, para muitos analistas, a guerra contra o Irão é um triplo antídoto: 1) reafirmar a decisão do Ocidente em defender Israel e não admitir nenhum mudança estratégica no Oriente Médio; 2) Isolar ainda mais o Irã que para poder evitar o mortífero ataque aéreo além de bloquear o projeto nuclear deve deixar de proteger a Síria, o Hamas e Heibollah libanês; 3) Obrigar a França, Alemanha e Itália a apoiar o ataque ao Irã e  consequentemente á Síria impedindo, assim que a  sonhada União Mediterrânea de Sarkozy possa ser considerado a ponte entre o mundo islâmico e o Ocidente, pois ao entrar  em guerra contra o Irã 70% dos muçulmanos devem etiquetar Sarkozy e os franceses como “inimigos de Deus”, sobretudo se a intensidade dos bombardeios vai fazer “tabula rasa” em Teerão tal como os  aviões da OTAN fizeram em Trípoli ou Sirte.
Achille Lollo é jornalista italiano, correspondente de Brasil de Fato na Itália e editor do programa TV “Quadrante Informativo”.

fonte: http://www.brasildefato.com.br/content/nova-guerra-fria-no-oriente-m%C3%A9dio

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