Para compreender e refletir como está a população negra brasileira,
recentemente, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicou
uma pesquisa intitulada A Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira
em que analisa, com base nos dados do Censo demográfico de 2010,
descrevendo a trajetória da população negra e suas componentes
(fecundidade e mortalidade) comparada à branca e aponta algumas
implicações para a demanda por políticas públicas. Vamos as principais
constatações do estudo:
Primeiro; população branca era maior que a negra entre 1980 e 2000.
Em 2010, esta situação se inverteu (97 milhões de pessoas se declaram
negras e 91 milhões de pessoas se declararam brancas). Isso pode ser
decorrente da fecundidade mais elevada encontrada entre as mulheres
negras, mas, também, de um possível aumento de pessoas que se declararam
pardas no censo de 2010. Como resultado, a taxa de crescimento da
população negra entre 2000 e 2010 foi de 2,5% ao ano e a da branca
aproximou-se de zero.
Segundo; o aumento da proporção de domicílios chefiados por mulheres
guarda estreita relação com o aumento da participação feminina no
mercado de trabalho. Houve um aumento na participação tanto das mulheres
negras quanto das brancas, mais expressivo para as últimas. Estes
fatores provocaram algumas mudanças nas características dos domicílios
brasileiros, alterando as relações tradicionais de gênero: mulher
cuidadora e homem provedor. Um dos indicadores dessas transformações é
dado pelo aumento da contribuição das mulheres para a renda das suas
famílias, o que ocorreu nos dois grupos populacionais. Entre as brancas,
essa passou de 32,3% para 36,1%, e, entre as negras, o aumento foi de
24,3% para 28,5%.
Terceiro; em uma comparação sobre o padrão de mortalidade por idade e
causas dos dois grupos populacionais (brancos e negros), com base em
informações do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da
Saúde e as coletadas pelos censos demográficos. Observou-se que, entre
os homens, a segunda causa mais importante de óbitos na população negra
foram as externas e na branca, as neoplasias. Já a terceira causa entre
os negros foram as neoplasias e entre os brancos, as externas. Dentre as
externas, as agressões (homicídios) foram, em 2001, as principais
causas de morte tanto na população negra quanto na branca. Em 2007,
apenas entre os negros os homicídios predominaram. Um detalhe
importante; esse tipo de óbito entre os negros é mais frequente entre 15
e 29 anos e é responsável por, aproximadamente, 50% do total de óbitos
entre a população negra masculina.
Analisando o estudo do IPEA, pode-se observar que há o início de um
processo de mudança em como as pessoas se veem. Passam a ter menos
vergonha de dizer que são negras; passam a não precisar se branquear
para se legitimarem socialmente. Essa mudança é um processo
surpreendentemente linear, surpreendentemente claro e, ao que tudo
indica, ainda não terminou.
Na medida em que o debate da identificação racial ganha as páginas
dos jornais e a sociedade vê que é um tema legítimo; na medida em que
negros são apresentados nas telenovelas como personagens poderosos e não
apenas empregados domésticos; na medida em que negros são vistos, como
por exemplo, compondo o Supremo Tribunal Federal e ocupando os mais
diversos cargos na política; na medida em que o Movimento Negro sai da
marginalidade e ocupa espaços no debate político, a identidade negra sai
fortalecida, não é que o Brasil esteja tornando-se uma nação de negros,
mas, está se assumindo como tal.
Entretanto, a mobilidade social do(a) negro(a), ou seja, sua ascensão
relativa ao conjunto da sociedade, mantém-se em patamares residuais.
Não houve alteração do quadro de oportunidades no mercado de trabalho,
principal fonte de renda e de mobilidade social ascendente. A conclusão
que se impõe é que, a despeito dos avanços registrados, a situação da
população negra no país continua bastante vulnerável. O que contribui de
forma significativa a melhora da população negra brasileira é o avanço
da ação do Estado em termos das políticas distributivas de cunho
universal atuando no sentido de combater a pobreza e a desigualdade de
renda.
Tal quadro vem reforçar a necessidade de implementação de políticas
dirigidas para a população negra. Políticas que, em curto espaço de
tempo, possam garantir uma maior eqüidade de oportunidade e de padrão de
vida.
fonte: http://www.cartacapital.com.br/economia/a-populacao-negra-brasileira/
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