segunda-feira, 24 de novembro de 2014


Déficit das contas externas é o maior para meses de outubro desde 1947

No mês passado, déficit em transações corrente somou US$ 8,1 bilhões.
Em 12 meses até outubro, déficit somou 3,73% do PIB, maior desde 2002.

O déficit em transações correntes, que engloba a balança comercial, os serviços e as rendas – e é um dos principais indicadores do setor externo brasileiro –  somou US$ 8,13 bilhões em outubro, o pior resultado para este mês desde o início da série histórica do Banco Central, em 1947.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, informou que o déficit recorde das contas externas para meses de outubro se deve "fundamentalmente" ao desempenho da balança comercial brasileira, que registrou resultado negativo de US$ 1,17 bilhão no mês passado. Em outubro de 2013, o déficit da balança comercial havia sido menor (-US$ 230 milhoes).
"As contas de serviços e de rendas seguiram sua evolução normal em outubro. Não dá para atribuir isso [resultado de outubro] à conta de serviços. Já a conta de rendas segue trajetória de expansão moderada que a gente vem observando", acrescentou Maciel.

Gastos de brasileiros no exterior caem em outubro com alta do dólar
Acumulado do ano e 12 meses até outubro
No acumulado dos dez primeiros meses deste ano, o resultado negativo somou US$ 70,69 bilhões, o que representa uma alta de 4,92% frente ao mesmo período do ano passado (US$ 67,37 bilhões), de acordo com informações do Banco Central.
Em doze meses até outubro deste ano, o déficit em transações correntes somou US$ 84,42 bilhões, o equivalente a 3,73% do Produto Interno Bruto (PIB). Trata-se do pior resultado desde fevereiro de 2002, quando o déficit somou 3,94% do PIB. Economistas avaliam, assim como o próprio BC, que esta é a forma mais correta de comparação histórica.

Previsão para este ano deve ser superada
Para todo este ano, a expectativa do Banco Central para o déficit em conta corrente permaneceu em US$ 80 bilhões – o equivalente a 3,52% do PIB.
O Banco Central informou, porém, que estima um resultado negatido para as transações correntes superior a US$ 8 bilhões em novembro deste ano, de modo, que nos onze primeiros meses deste ano, o déficit deverá somar quase US$ 79 bilhões.
Questionado se a previsão de US$ 80 bilhões para todo este ano será superada, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, informou que a autoridade monetária revisará a estimativa somente em dezembro.
Investimentos estrangeiros diretos
O BC informou ainda que os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 4,97 bilhões em outubro deste ano e US$ 51,19 bilhões nos dez primeiros meses deste ano. Isso representa um aumento de 4,08% frente ao mesmo período do ano passado, quando somaram US$ 49,18 bilhões. O BC manteve em US$ 63 bilhões sua previsão para o ingresso de investimentos no Brasil em todo este ano.
Os números da autoridade monetária mostram, portanto, que o resultado negativo da conta de transações correntes, de US$ 70,69 bilhões na parcial de 2014, não foi, novamente, "financiado" em sua totalidade pela entrada de investimentos produtivos na economia brasileira – algo que já aconteceu em 2013 e que, antes disso, não ocorria desde 2001.
Quando o déficit não é "coberto" pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.
Economistas alertam, entretanto, que em um cenário de crescimento menor do PIB e menor disponibilidade de recursos nos mercados (com a sinalização do fim das medidas de estímulo nos Estados Unidos), a atratividade da economia brasileira também é menor, o que pode significar um pouco mais de dificuldade no financiamento do déficit das contas externas.
O governo tem lembrado, entretanto, que as reservas internacionais brasilerias, acima de US$ 370 bilhões, conferem tranquilidade na administração das contas externas brasileiras.

Componentes das contas externas
Dentro da conta de transações correntes, as rendas, que incluem, por exemplo, as remessas de lucros e dividendos ao exterior, registraram um déficit de US$ 30,32 bilhões de janeiro a outubro deste ano - contra um valor negativo de US$ 28,81 bilhões no mesmo período de 2013.
Para todo este ano, a expectativa do BC para o déficit na conta de rendas é de US$ 39 bilhões. As remessas de lucros e dividendos (parcelas de lucros), por sua vez, somaram US$ 19,72 bilhões nos dez primeiros meses de 2014, contra US$ 18,37 bilhões no mesmo período do ano passado.
De janeiro a outubro de 2014, ainda segundo informações do Banco Central, a balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 1,87 bilhão, contra um resultado negativo de US$ 1,99 bilhão em igual período do ano passado. Para este ano, a previsão do BC para o superávit da balança comercial (exportações menos importações) está em US$ 3 bilhões.
A conta de serviços, por sua vez, que engloba os gastos de brasileiros no exterior, registrou um déficit de US$ 39,95 bilhões nos dez primeiros meses de 2014, contra um resultado negativo de US$ 39,42 bilhões no mesmo período do ano passado. Para todo este ano, o BC prevê um déficit de US$ 46,5 bilhões para a conta de serviços.

Alexandro Martello. Do G1, em Brasília

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