quarta-feira,
22 de outubro de 2014 00:03 EDT
A
desaceleração global eleva a cautela dos consumidores nos EUA e
leva empresas a adiar investimentos e contratações TK
O
fantasma da deflação na Europa e a desaceleração da China e de
outros mercados emergentes estão ameaçando prejudicar a economia
dos Estados Unidos em um momento em que o mundo precisa de um motor
de crescimento confiável.
As
tempestades externas ameaçaram limitar a expansão americana em cada
um dos últimos quatro anos. Todas as vezes, a economia americana
sobreviveu aos solavancos — incluindo a crise de dívida da zona do
euro e o desastre nuclear no Japão —, mantendo sua trajetória
lenta mas contínua de crescimento.
Agora,
novos choques externos se formam num momento em que o Federal
Reserve, o banco central americano, começa a recuar em sua política
de afrouxamento monetário que adotou para ajudar na recuperação.
Embora a criação geral de empregos nos EUA tenha sido forte nos
últimos meses, o mercado imobiliário dá sinais mistos e os
consumidores mostram cautela.
“Os
EUA por enquanto têm crescido por si só, mas o país não pode
crescer sozinho no médio e longo prazos”, diz Eugenio Aleman,
economista sênior da Wells
Fargo.
“Precisaremos de ajuda do resto do mundo.”
Além das ameaças externas vindas da China e Europa, os EUA também enfrentam nova volatilidade no mercado de ações, declínio nos preços das commodities e queda na produção e na demanda de grandes mercados emergentes como o Brasil. A isso, somam-se as tensões políticas na Rússia e na Ucrânia e o nervosismo provocado pelo vírus ebola.
“Para
bem ou para mal, os EUA são a máquina de crescimento da economia
mundial neste momento”, diz Adolfo Laurenti, economista-chefe
global da Mesirow Financial, de Chicago. “Mas com muitas outras
regiões tendo baixo desempenho, é possível que haja um limite de
quanto impulso podemos ganhar.”
Os
economistas duvidam que os EUA possam escapar de todos os danos se o
enfraquecimento externo se agravar, criando potencial para uma
resposta cíclica negativa de crescimento baixo. As economias
emergentes, não os EUA, lideraram o crescimento global na maior
parte dos últimos dez anos. Agora, muitos desses mercados —
Brasil, Rússia e África do Sul, por exemplo — estão em queda e
dependem dos EUA para crescer. Juntos, eles representam uma
economia global que não está operando a todo vapor.
Certamente, outros estão menos preocupados com os problemas mais recentes no crescimento global. Entre as grandes economias mundiais, os EUA são menos dependentes da demanda externa por exportações. Os produtos de exportação representam apenas cerca de 14% do produto interno bruto americano — o menor nível entre os países desenvolvidos —, bem abaixo dos 51% da Alemanha e 26% da China, de acordo com o Banco Mundial.
Além
disso, os exportadores americanos não estão expostos
significativamente à Europa, que representa apenas 15% do comércio
exterior americano. Mesmo que haja “uma catástrofe completa nas
exportações para a Europa, o golpe nas exportações seria mínimo”,
diz Neil Dutta, diretor de economia da Renaissance Macro Research.
Na
General
Electric Co.
, as encomendas dos EUA cresceram 25% no terceiro trimestre, informou
a empresa na semana passada. “Os EUA são provavelmente o que de
melhor temos visto desde a crise financeira”, disse o
diretor-presidente da GE, Jeff Immelt, em uma teleconferência com
investidores. “A Europa está mais lenta, sem dúvida. Mas acho que
a maioria das indústrias não conta com a Europa e o Japão para
crescimento adicional.”
Ao
mesmo tempo, os economistas e líderes de empresas citam muitas
razões pelas quais os EUA estão agora numa situação melhor que
durante outras crises recentes na zona do euro e demais regiões. A
maioria das previsões econômicas aponta para um avanço de 3%
durante o terceiro trimestre. O crescimento mensal de empregos está
no ritmo mais acelerado desde 2006 e o número de vagas abertas
atingiu um pico de 13 anos. Os cortes de gastos em Washington
diminuíram e os governos locais e estaduais voltaram a contratar.
Mas
os sinais de alerta da desaceleração global se acumulam.
A
preocupação mais imediata é que o recente período de volatilidade
nos mercados financeiros possa levar a quedas maiores nas ações e
mais dificuldade em acessar os mercados de crédito, afetando a
confiança do consumidor e o humor das empresas, que adiam
investimentos e decisões de contratação.
“O
aperto das condições financeiras vai ter algum impacto no cenário
americano”, prevê Lewis Alexander, economista-chefe da Nomura
Securities nos EUA.
As
condições mais difíceis do mercado financeiro pode retirar 0,3
ponto percentual do crescimento econômico dos EUA até o fim de 2015
e na maior parte de 2016, segundo estimativas do Goldman
Sachs.
Mas se o enfraquecimento nas ações e títulos se mostrar
temporário, esse recuo pode ser cortado pela metade.
As
ações americanas caíram 4% desde meados de setembro e a
rentabilidade do título do Tesouro de 10 anos recuou para uma mínima
de 16 meses na semana passada, quando os investidores migraram para
ativos mais seguros. As ações caíram 16% e 19% quando receios
sobre o crescimento global surgiram em 2010 e 2011, respectivamente,
e alguns economistas levantaram o espectro da recessão de “duplo
mergulho” antes que sinais surgissem de que o crescimento dos EUA
continuaria. As ações se recuperaram e registraram novos recordes.
Mesmo
assim, a perspectiva de crescimento externo lento deixa as
multinacionais com uma margem menor caso o consumo nos EUA caia.
O
McDonald’s
Corp.
divulgou queda de 30% em seu lucro trimestral ontem, prejudicado por
um declínio nas vendas na China, onde um escândalo com um
fornecedor de carne abalou a confiança de clientes; na Europa,
principalmente em restaurantes na Rússia e na Ucrânia; e nos EUA,
onde clientes mais jovens procuram comida mais saudável.
A
Organização Mundial do Comércio alertou em um relatório anual, na
segunda-feira, que o desemprego elevado na Europa pode “atuar como
um freio nas importações globais durante um longo período, já que
as taxas de desemprego costumam cair gradualmente.”
A
fraca demanda estrangeira e o dólar mais forte podem reduzir o
crescimento americano em 0,17 ponto percentual até meados de 2015 e
quase dobrar esse valor até o fim de 2015, segundo estimativas do
Goldman Sachs.
A
maior incógnita talvez seja o impacto da queda dos preços do
petróleo, que recuaram quase 20% desde junho. Isso pode afetar a
economia americana mais que no passado porque novas técnicas de
perfuração, como o fraturamento hidráulico, impulsionaram de forma
expressiva os investimentos em energia no país.
Enquanto
“obviamente deve haver um número” no qual os produtores de
petróleo americano decidirão fechar seus poços, “pelo que eu
saiba não estamos nem perto do que esse número possa ser”, disse
Clarence Gooden, diretor de vendas e marketing da operadora
ferroviária CSX Corp.
, na semana passada.
“Nos
últimos dois ou três anos, vimos umas poucas semanas de turbulência
repentina e depois as coisas se acalmam”, diz Laurenti, da Mesirow,
acrescentando que os próximos relatórios do PIB e do desemprego
devem reassegurar que os EUA se mantêm estáveis. “Acho que
estamos todos ansiosos.”
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