sábado, 24 de setembro de 2011

Agora, economistas é que veem crise como marola

Por Marcelo Mota | Valor


RIO - Um detalhe já distingue claramente a primeira etapa da crise, em 2008, do momento atual: enquanto há dois anos economistas se pasmavam diante da tranquilidade demonstrada pelo governo, agora são eles que acham que a onda de impacto chegará ao litoral brasileiro rebaixada a uma marola.
Para boa parte dos presentes ao seminário promovido nesta sexta-feira pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), os serviços e o comércio ajudam a preservar o crescimento econômico, mesmo que a indústria sinta os efeitos da crise mais severamente.
A partir de estudos de séries temporais apresentadas no evento, os economistas observaram que houve nos últimos anos um descolamento entre a evolução do Produto Interno Bruto e a atividade industrial.

“Claramente, na crise de 2009, isso já aconteceu”, disse Armando Castelar Pinheiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “Teve um mergulho da indústria e, depois, foi uma surpresa total”, acrescentou, referindo-se à repercussão limitada da queda da atividade industrial na evolução do PIB, que não sofreu tanto quanto se projetava.

Para ele, a expectativa de que agora esse comportamento se repita explica o susto levado pelo mercado diante da atitude do Banco Central, que na última reunião do Comitê de Política Monetária cortou meio ponto percentual na taxa básica de juros, levada a 12% ao ano. A apreensão quanto à crise global foi a justificativa apontada pelo BC na ata, divulgada dias após.

Castellar compreende o viés político no discurso também alarmista da presidente Dilma Rousseff como uma maneira de desestimular o Congresso a fazer emendas no orçamento que levem a um crescimento das despesas com custeios.  Já Mônica de Bolle, diretora-executiva do Instituto de Estudos de Política Econômica da Casa das Garças (Iepe), a postura adotada pelo governo e pelo BC põe em risco esse descolamento da economia brasileira em relação à crise que assola as economias desenvolvidas.

“É uma postura bastante arriscada”, disse Mônica, que teme pelo efeito negativo dessa sinalização feita pelo governo. Segundo ela, o BC não precisaria ter agido preventivamente, pois tem agilidade bastante para agir energicamente quando a situação exige. Hoje, na opinião dela, após o aprendizado angariado nas últimas crises, a economia brasileira goza de instrumentos e tem mais capacidade de absorver choques, mesmo com uma eventual ruptura no crédito internacional.
Régis Bonelli, também do Ibre e autor de um dos estudos apresentados, diz que chamou a atenção a influência crescente dos serviços na atividade econômica, “provavelmente, fruto da moeda valorizada”. A globalização, segundo ele, parece ter afetado o tempo de resposta à demanda por serviços, o que acabou influenciando o descolamento entre o PIB e a indústria.
(Marcelo Mota | Valor)

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