quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Brasil deve crescer menos com mais inflação

A previsão do FMI, que rebaixou nesta terça a previsão de crescimento do PIB brasileiro em 2011 para 3,8%, corrobora o que analistas e economistas brasileiros já esperam. Até então, o Fundo ainda tinha uma expectativa (4,1%) bem melhor do que o mercado interno, que havia rebaixado suas previsões para um PIB menor que 4% há mais de dois meses.
Pelo ultimo boletim Focus do Banco Central, com previsões do mercado para indicadores econômicos, o país deve crescer até 3,7% este ano. Até aqui, está tudo como esperava o BC que, desde o começo do ano, atuou para frear o aquecimento econômico para evitar um aumento descontrolado da inflação.
Mas quem não está se comportando tão bem é a própria inflação. Após o resultado do IPCA-15 de setembro divulgado pelo IBGE, alguns bancos e consultorias passaram a prever um cenário que não parece estar nos planos do BC para este ano. O índice ficou bem perto do que esperava o mercado, mas continua apontando para uma inflação resistente à queda e propensa a estourar o teto da meta de 6,5% este ano. Agora, no período de 12 meses, ela está em 7,33%.
Quando, e se, isso acontece, o BC é obrigado a enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando os motivos do descumprimento da meta de inflação e indicando o que pretende fazer para trazer o índice de volta ao seu devido lugar. O devido lugar definido pelo governo é 4,5% ao ano, objetivo firmado para até 2013.
Entre 2001 e 2004 o limite da inflação ultrapassou o teto das metas estipuladas pelo governo. Durante esse período, o BC pediu um ajuste para cima nas metas a serem cumpridas, em função dos choques que a economia brasileira sofreu naqueles anos.
A partir de então, houve apenas duas situações em que o Copom conseguiu calibrar os juros na dose certa para alcançar o centro da meta de inflação. Em 2007 o IPCA fechou em 4,46%, e em 2009, em 4,31%. No ano passado, o indicador oficial ficou em 5,91%, mais próximo do teto de 6,5%. Desde que foi criado, em 1999, o regime de metas para inflação estipula o objetivo central do BC e as bandas de acomodação do índice, que no Brasil são de dois pontos percentuais para cima e dois para baixo.
Na última reunião do Copom, em agosto, os diretores do BC decidiram baixar os juros básicos em 0,50 pontos percentuais, prevendo que uma piora considerável da crise mundial surtiria efeitos maléficos e, ao mesmo tempo, desinflacionário na economia brasileira.  O movimento foi considerado mais do que ousado por muitos economistas, independentemente da percepção de que poderia ter havido pressão política do governo para a redução.
A justificativa econômica para discordância com a atitude do BC é interna e tem se mostrado mais forte do que se deveria esperar. A inflação do país continua rodando acima do desejável, bem acima da meta, por um período que vai além de todo o ano de 2012, que ainda nem começou. O mesmo boletim Focus que prevê menor crescimento para o Brasil, espera desde já um IPCA de 5,5% para o ano que vem.
Depois do FMI falta o governo brasileiro assumir oficialmente suas uma redução nas expectativas para o crescimento da economia este ano. Coisa que o presidente do BC Alexandre Tombini já avisou que está prestes a fazer, e o ministro da Fazenda Guido Mantega também. O que ainda não está claro, e poderia ficar mesmo que o BC não precise escrever uma carta ao governo se não conseguir cumprir a meta de inflação em 2011, é como Tombini pretende levar a inflação para o centro da meta de 4,5% em 2012, como tem afirmado constantemente depois da última decisão do Copom.
Esse objetivo parece mais desafiador e contraditório se o governo não abrir mão de manter a economia brasileira em trajetória crescente, mesmo que em menor ritmo, enquanto os maiores do mundo estiverem lutando para manter a economia de pé, ainda que estacionada.

Fonte: http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/2011/09/20/brasil-deve-crescer-menos-com-mais-inflacao/

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