quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ata do BC indica que pode haver mais quedas nos juros

A ata da última reunião do Copom não trouxe surpresa quanto às justificativas do BC para a redução dos juros para 12% ao ano. Mas indicou claramente que novos cortes devem vir. As projeções revistas no mercado apontam que a taxa Selic possa terminar o ano em até 10,5% ao ano. Mesmo assim, o Copom mantém o objetivo de convergir a inflação ao centro da meta de 4,5% em 2012.
“O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012″, diz o comunicado.
Nos últimos três meses o BC mudou radicalmente de posição, influenciado basicamente pelo cenário internacional. Em junho, o Copom indicava que o aumento da taxa deveria seguir por um período “suficientemente prolongado” para convergência da inflação à meta em 2012. Em julho, quando elevou os juros pela última vez, para 12,5%, o Copom substituiu o “prazo” embutido no recado para “neste momento”. Em agosto a mensagem e a taxa mudaram completamente de rumo, quando o BC decidiu baixar os juros e indicar que as reduções estão só começando.
Um ponto que chamou atenção no documento do BC foi a menção a uma simulação de um novo modelo que considera que a crise atual provocará um impacto sobre o PIB do Brasil equivalente a 25% do observado em 2008/2009. Isso poderia levar a uma desaceleração da atividade do país e uma desvalorização cambial, mas permitiria que, mesmo reduzindo os juros, a inflação possa ficar ao redor da meta no ano que vem.
A mensagem mostra que o cenário do BC não é uma repetição da crise financeira provocada pela quebra do banco Lehman Brothers em 2008. O Copom está vendo  a crise externa gerando um problema crônico e não agudo como há três anos. A pressão desinflacionária esperada pelo BC deverá se manter por um prazo mais longo. Ou seja, o quadro atual não indicaria um corte brutal de juros, por isso a citação de “ajustes moderados” na taxa.
“Nós perdemos oportunidade de ouro em 2008,  não podemos mais esperar. Muitos economistas falam com muita convicção como se fosse uma coisa sagrada,  se um ou dois pontos percentuais na taxa de juros fossem ter um efeito distorcido na meta inflacionária”, diz o economista Roberto Teixeira da Costa, do Conselho de Empresários da América Latina, defendendo a decisão do Copom.
“Nenhum investidor vai deixar de investir no Brasil por causa de meio ou de dois pontos percentuais nos juros. Enquanto nossa taxa for positiva nós estaremos em vantagem em relação ao resto do mundo, que praticam hoje juros negativos. Nós vamos completar a poupança interna com poupança externa, sem precisar ter um diferencial tão escandaloso entre os juros do Brasil e os lá de fora”, completa Teixeira da Costa.
O economista ressalva que, do ponto de vista das medidas de política fiscal, os acenos do governo ainda são tímidos. Ele dá uma “certa razão ao desapontamento” de muitos economistas com a decisão do Copom, que consideraram o esforço fiscal anunciado dois dias antes da reunião como insuficientes para ajudar o BC a reduzir a inflação do país que se mantém elevada.
Desde a queda dos juros na semana passada, muitos analistas e economistas de mercado estão questionando a independência do BC para tomar as decisões sobre os juros e uma maior “interferência” do governo junto à autoridade monetária. Muitos chegaram a dizer que o BC não trabalha mais com uma meta de inflação e sim, com uma meta para o crescimento da economia.
“Há um diálogo maior do que existia no passado entre a autoridade monetária e a autoridade econômica, ou ministério da Fazenda. Eles têm trocado mais figurinha, aceitado mais a posição do outro. Mas dizer que o governo jogou pela janela o combate à inflação me parece pesado demais”, pondera Roberto Teixeira da Costa, “remando contra a maré” do mercado, como ele mesmo disse.
A imprensa internacional deu destaque para a ata do Copom e a sinalização de mais cortes no juros na economia brasileira. Aqui no Brasil as próximas reduções são esperadas pela maioria, porém é mais difícil ver consenso entre as interpretações sobre a atitude do BC. O desencontro está em identificar qual seria o lado negativo, ou não, do corte inesperado. Se é político ou técnico.
A dúvida deverá se manter enquanto novos dados e indicadores, internos e externos, forem saindo até o próximo encontro do Copom. Mesmo assim, não será tão fácil saber a resposta. “A única coisa que sabemos hoje é que não sabemos. Todos os nossos referenciais estão muito prejudicados por uma situação inédita na economia internacional que nenhum economista recente viveu. Está difícil fazer previsões num cenário como esse”, avisa o economista Roberto Teixeira da Costa.

Fonte: http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/2011/09/08/bc-indica-mais-queda-nos-juros/

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