quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Brasil não deve usar reservas cambiais para ajudar Europa

Em momentos de turbulência na economia, uma boa notícia, mesmo que seja ainda no campo das especulações, pode se transformar em fato comemorado. É o caso da possível , mas nada acertada, ajuda dos chamados Brics (Brasil, Rússia, India e China) aos países da comunidade europeia. Tudo começou com rumores de que a China estaria comprando títulos da Itália.
No caso do Brasil, será muito improvável que o país utilize os recursos das reservas internacionais para comprar títulos públicos de países da Europa, como Itália e Espanha, como especulou o mercado financeiro brasileiro e internacional. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou que o Brasil vai “participar das discussões” com os parceiros do Brics para ver o que é possível fazer. Mas ficou só a promessa de uma discussão.
“O Brasil não pode comprar ativos com recursos das reservas internacionais que não sejam AAA (nota máxima de classificação de risco)”, ressalva o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, durante a gestão de Henrique Meirelles.
Schwartsman baseia-se na regulação do BC que determina as diretrizes dos investimentos feitos com as reservas internacionais do país como principal entrave para que o Brasil use esse dinheiro para ajudar a Europa. A diretoria colegiada do Banco Central tem autonomia para definir o perfil de risco e de retorno esperado dos investimentos. A escolha para alocação dos recursos também leva em consideração limites de risco de crédito e liquidez dos ativos, sempre procurando reduzir a exposição do país ao risco cambial.
Uma das possibilidades apuradas pelo G1, se o país não flexibilizar as regras de investimento das reservas internacionais, seria utilizar os recursos do Fundo Soberano criado em 2008. Atualmente, conta com cerca de R$ 15 bilhões, sendo que 85% estão aplicados em ações do Banco do Brasil e da Petrobras. Para ter mais dinheiro disponível, uma solução seria capitalizar o Fundo através do Tesouro Nacional.
A conta das reservas internacionais é mais gorda, mas com critérios bem mais rígidos. O Brasil fechou o mês de julho com US$ 352 bilhões em reservas cambiais. Em dezembro de 2010, segundo relatório de gestão das reservas, a alocação dos recursos por moedas estava distribuída da seguinte forma:  81,8% em dólar norte-americano, 6,0% em dólar canadense, 4,5% em euro, 3,1% em dólar australiano, 2,7% em libra esterlina e 1,9% em outras moedas, tais como o iene japonês. Desse total, 97% estavam investidos em ativos AAA.
“Os diretores do BC respondem juridicamente pela má gestão das reservas se as escolhas não forem muito responsáveis. Eu não acharia correto usar esse dinheiro para ajudar a Europa. Até porque, qual seria o objetivo do Brasil? Eu acho muito difícil fazerem isso,  se tiverem bom senso não vão deixar”, diz o ex-BC Alexandre Schwartsman.
O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega avalia que o Brasil até poderia dar uma “ajuda simbólica” aos europeus, mas não acredita na capacidade de coordenação do Brics para agirem juntos.
“O que une os países do Brics hoje é o fato de eles serem grandes e com tendência a serem atores relevantes no futuro da economia mundial. Se o Brasil decidir ajudar os europeus, compraria papéis baratos, com rentabilidade maior que a dos títulos dos EUA, mas com maior risco de crédito sim. Seria muito mais a combinação do ‘gesto’ com uma contribuição que pode ajudar a deter o colapso europeu. Mas teria mais um efeito simbólico”, avalia Maílson.
O Brasil já enfrentou graves crises, num passado não muito distante, de natureza muito semelhante ao que acontece hoje nos países do velho mundo. Os mercados eram menos integrados, o contágio era menor e atingia os mais pobres. Uma boa ajuda aos europeus poderia ser ouvir dos brasileiros a experiência e a vivência de quem já enfrentou o mesmo problema, com a diferença de que o Brasil não era levado em consideração pelos mais ricos. Talvez essa ajuda seja cara demais a quem está há séculos ditando os caminhos que o mundo deve percorrer. Mesmo que o destino tenha se revelado equivocado.

Fonte: http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/2011/09/14/brasil-nao-deve-usar-reservas-cambiais-para-ajudar-europa/

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