04/12/2014
Congresso aprova mudança na meta fiscal de 2014, após 18 horas
Por Vandson Lima.
Depois
de mais de 18 horas de sessão, o Congresso Nacional aprovou, com 240
votos favoráveis a 60 contrários na Câmara dos Deputados e 39
votos a favor e um contra no Senado, o projeto de lei que altera a
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para revisar a meta fiscal de
2014.
A
oposição, no entanto, conseguiu uma vitória já nas primeiras
horas da manhã. A última emenda apresentada, que propõe fazer um
acréscimo ao projeto de lei para limitar as despesas
discricionárias, aquelas de decisão exclusiva do governo federal,
ao mesmo montante que tiver sido executado no ano anterior, foi
apreciada quando já não havia quórum suficiente para deliberar,
pois vários parlamentares haviam deixado a Casa após a aprovação
do texto básico. Com isso, a discussão sobre este ponto específico
da matéria continuará na terça-feira.
A
proposta, enviada em 11 de novembro ao Legislativo, passou por uma
série de revezes em sua tramitação, causando grande desgaste ao
governo. Ministros deixaram de ser anunciados na data programada,
viagens foram canceladas e a presidente Dilma Rousseff teve de
arregaçar as mangas para pedir pessoalmente dedicação à sua base
de apoio para aprovar a medida.
A
sessão, que havia começado por volta das 10h da manhã, adentrou a
madrugada, sendo concluída às 5h da manhã. Seu curso final foi
permeado de trocas de acusações e insultos entre parlamentares de
oposição e situação.
“O
que vamos dizer aos investidores estrangeiros depois de aprovar essa
presepada? Qual a credibilidade terá esse Congresso? Dilma quer o
quê, que o Congresso elimine a cena do crime que ela cometeu?”,
questionou o senador Agripino Maia (DEM-RN).
O
senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi o alvo preferencial dos
adversários depois de afirmar, na tribuna, que “os oposicionistas
estão flertando com o golpismo”. “Primeiro questionaram a lisura
das urnas. Agora estão dando base para movimentos contra o governo,
como os que pedem o impeachment da presidente. Aceitem o resultado
das urnas”.
De
pronto, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pediu a palavra e retrucou:
“Vemos agora um discurso patético de um ex-cara pintada que virou
um chapa-branca”. Lindbergh foi uma das lideranças do grupo de
jovens que foi às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor de
Mello. O momento pitoresco ficou por conta do senador Ataídes
Oliveira (Pros-TO), que disparou: “Por muito menos, senhor
Lindbergh, o senhor, que era um cara-pintada, pediu o impeachment do
Collor. Por causa de um carrinho, um Elba!”
A
participação de Lindbergh foi uma exceção. Na maior parte da
sessão, a base governista optou por não se pronunciar, como
estratégia para tentar acelerar os trabalhos. Ao final da sessão, o
cansaço dos parlamentares era evidente. Vários dos que foram à
tribuna pela madrugada tropeçavam no discurso, proferindo frases
desconexas e repetidas.
Com
a aprovação, o governo fica desobrigado de cumprir a meta de
superávit primário antes estipulada. Neste ano, a meta era de R$
116,1 bilhões para o governo federal. Desse montante, o governo
podia abater até R$ 67 bilhões por conta de despesas com o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC) e desonerações tributárias
concedidas neste ano. O projeto retira esse limite. Como os gastos
com esses programas já ultrapassam o valor de R$ 116,1 bilhões, na
prática a mudança permite ao governo abrir mão de qualquer
economia fiscal.
A
aprovação da matéria se encaminhou, surpreendendo até deputados e
senadores governistas, que já imaginavam mais um adiamento da
votação, quando a oposição apostou na apreciação de 16
requerimentos de inversão da pauta, que pediam que outros projetos
fossem analisados antes da mudança na meta, para atrasar ao máximo
o início da discussão. Mas a Câmara rejeitou, por 259 votos a 9, a
análise dos pedidos.
“Eles
erraram na estratégia. Agora não tem jeito, a discussão está
encaminhada”, comemorou o vice-presidente nacional do PT, deputado
federal José Guimarães (CE). O líder do DEM na Câmara, deputado
Mendonça Filho (PE), ainda tentou levar a voto outro requerimento,
que pedia a retirada de pauta do projeto. O presidente do Congresso,
senador Renan Calheiros (PMDB-AL), desconsiderou o requerimento.
“Estão prejudicados todos os requerimentos destinados a modificar
a pauta e não serão aceitos outros com o mesmo conteúdo”,
justificou.
Durante
todo o dia, o clima no Congresso Nacional foi permeado pela tensão.
A polícia Legislativa fez um cordão de isolamento em frente à
entrada da Casa. Manifestantes impedidos de entrar e acompanhar a
votação das galerias fizeram um ‘apitaço’ desde o início da
manhã. Parlamentares como o vice-presidente da Câmara, deputado
Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP)
foram hostilizados ao chegarem ao Congresso.
"Fui
abordado por algumas pessoas de forma provocativa. Acusaram-me de
tudo e mais um pouco. Cheguei ao limite e respondi de forma baixa",
afirmou Chinaglia, sobre ter inquirido populares e responderem quanto
estariam recebendo de oposicionistas para estarem ali. No caso de
Sarney, os manifestantes balançaram o carro em que ele estava e
deram tapas na lataria do veículo, obrigando o motorista a seguir
para outra entrada.
Já
o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi saudado pelos manifestantes,
que gritaram seu nome, e chamado de "Bolsonaro, guerreiro,
orgulho brasileiro". "Isso aqui é a ditadura do PT. Se
fossem marginais do MST [Movimento dos Sem-Terra], o PT tinha
colocado para dentro", afirmou o deputado.
Além
de atender ao pedido enfático feito pela presidente Dilma na
segunda-feira para que aprovassem o quanto antes a medida, os
parlamentares da base governista foram também motivados a buscar a
aprovação do projeto para evitar que novas e maiores manifestações
contrárias ocorressem na próxima semana.
Disponível em: http://www.valor.com.br/politica/3804386/congresso-aprova-mudanca-na-meta-fiscal-de-2014-apos-18-horas
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