quarta-feira, 3 de dezembro de 2014


Ideologia ou sinal de trânsito?

A construção da sociedade civil é um processo histórico de construção, invenção ou descoberta de instituições sociais.

A história é mestra cruel. Costuma dobrar sua vingança sobre os que não a decifram. Recentes demonstrações em São Paulo revelam sua falta de misericórdia. Vimos de um lado uma boçalizada “direita” pedindo a repetição do “curto-circuito” que durou duas décadas. De outro, uma esquerda, cretinizada e incapaz de aprender, sugerindo mais uma vez o seu brilhante “curto-circuito” que, quando bem-sucedido, costuma demorar sete décadas, pelo menos. Todos em nome das suas “qualificadas” democracias.
A situação é preocupante. Explicita a profunda ignorância do ensino “engajado” que controla a nossa educação. Nele se insiste na demonstração do etéreo: a superioridade do socialismo “ideal” sobre o capitalismo “real”. Esconde-se a verdade empírica: a enorme superioridade do capitalismo “real” (com todos os seus problemas) sobre as calamidades humanas e materiais produzidas pelo socialismo “real”.
Já era tempo de termos aprendido alguma coisa. A construção da sociedade civilizada é um processo histórico, uma seleção quase natural, de construção, invenção ou descoberta de instituições sociais que os homens vêm escolhendo há mais de 12 mil anos, quando começaram a se acomodar à vida urbana e a desenvolver a atividade agrícola. Não existe o caminho privilegiado que poderia ser antecipado por um “vidente”. Ele tem que ser construído andando! O acaso é tão importante quanto na seleção biológica natural, mas ao contrário desta, ele tem uma finalidade bem definida: a possibilidade de cada homem de libertar-se da vontade do mais forte; de escolher livremente o seu destino; de realizar-se pela sua própria atividade; de exercer o seu potencial inventivo e apropriar-se dos seus resultados e ter a mesma oportunidade de todos os outros para conquistar a sua dignidade.
Qual é a condição necessária para a sobrevivência material e o crescimento de tal sociedade? Ou, posto de outra forma, como coordenar a satisfação da multiplicidade sempre crescente das necessidades materiais diferentes de milhões de homens “livres” e “iguais” com a atividade produtiva de outros milhões de homens “livres” e “iguais”? É aqui que entra a Economia com a noção de eficiência produtiva, ou seja, a construção de instituições que aumentam a produtividade do trabalho, como é o caso da organização dos mercados e da propriedade privada, “inventadas” pelo homem quando as aglomerações humanas atingiram certo tamanho.
Como disse o velho Keynes, a boa administração da economia não é a civilização. É, apenas, a possibilidade da civilização!

Sinal
Luis Fabiano/Prefeitura de Olinda/Flickr

Toda a história da busca da sociedade civilizada é um longo processo de “tentativas” e “erros” dos homens que vão descobrindo instituições para tentar conciliar três valores fundamentais não inteiramente compatíveis: a liberdade individual, a igualdade e a relativa eficiência produtiva. O que chamamos de “capitalismo” (o conjunto de instituições que hoje nos governam) é apenas um episódio dessa história.
Ocorre que a combinação desses valores é inconsistente, a não ser em condições muito restritivas. Essa é uma das razões pelas quais os “curtos-circuitos” postos em prática por alegres asseclas do gênio verdadeiro (Marx) que lhes deixou a tarefa de testá-los (Lenin, Stalin, Mao, Chê e tutti quanti) sempre terminam em “apagão” depois de 70 anos de sofrimento! A História mostrou que a “verdade” chega sempre tarde demais...
Ninguém conhece o futuro do “capitalismo” que estamos vivendo. Apenas sabemos que ele é um instante da evolução intencional na direção da sociedade civilizada. Como a história mostra que o “seguro morreu de velho”, é melhor prestar-lhe atenção. Continuemos a usar a Urna e o Mercado para ir construindo soluções cada vez mais aceitáveis moralmente na busca da sociedade civilizada. O “emponderamento” do cidadão comum cada vez mais educado através do sufrágio universal e a promoção de boas condições de funcionamento dos mercados vão nos levar ao limite possível da compatibilização da liberdade individual com a relativa igualdade e a eficiência econômica.

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