Ideologia ou sinal de trânsito?
A
construção da sociedade civil é um processo histórico de
construção, invenção ou descoberta de instituições sociais.
Por
Delfim
Netto
A
história é mestra cruel. Costuma dobrar sua vingança sobre os que
não a decifram. Recentes demonstrações em São Paulo revelam sua
falta de misericórdia. Vimos de um lado uma boçalizada “direita”
pedindo a repetição do “curto-circuito” que durou duas décadas.
De outro, uma esquerda, cretinizada e incapaz de aprender, sugerindo
mais uma vez o seu brilhante “curto-circuito” que, quando
bem-sucedido, costuma demorar sete décadas, pelo menos. Todos em
nome das suas “qualificadas” democracias.
A
situação é preocupante. Explicita a profunda ignorância do ensino
“engajado” que controla a nossa educação. Nele se insiste na
demonstração do etéreo: a superioridade do socialismo “ideal”
sobre o capitalismo “real”. Esconde-se a verdade empírica: a
enorme superioridade do capitalismo “real” (com todos os seus
problemas) sobre as calamidades humanas e materiais produzidas pelo
socialismo “real”.
Já
era tempo de termos aprendido alguma coisa. A construção da
sociedade civilizada é um processo histórico, uma seleção quase
natural, de construção, invenção ou descoberta de instituições
sociais que os homens vêm escolhendo há mais de 12 mil anos, quando
começaram a se acomodar à vida urbana e a desenvolver a atividade
agrícola. Não existe o caminho privilegiado que poderia ser
antecipado por um “vidente”. Ele tem que ser construído andando!
O acaso é tão importante quanto na seleção biológica natural,
mas ao contrário desta, ele tem uma finalidade bem definida: a
possibilidade de cada homem de libertar-se da vontade do mais forte;
de escolher livremente o seu destino; de realizar-se pela sua própria
atividade; de exercer o seu potencial inventivo e apropriar-se dos
seus resultados e ter a mesma oportunidade de todos os outros para
conquistar a sua dignidade.
Qual
é a condição necessária para a sobrevivência material e o
crescimento de tal sociedade? Ou, posto de outra forma, como
coordenar a satisfação da multiplicidade sempre crescente das
necessidades materiais diferentes de milhões de homens “livres”
e “iguais” com a atividade produtiva de outros milhões de homens
“livres” e “iguais”? É aqui que entra a Economia com a noção
de eficiência produtiva, ou seja, a construção de instituições
que aumentam a produtividade do trabalho, como é o caso da
organização dos mercados e da propriedade privada, “inventadas”
pelo homem quando as aglomerações humanas atingiram certo tamanho.
Como
disse o velho Keynes, a boa administração da economia não é a
civilização. É, apenas, a possibilidade da civilização!
Luis Fabiano/Prefeitura de Olinda/Flickr
Ocorre
que a combinação desses valores é inconsistente, a não ser em
condições muito restritivas. Essa é uma das razões pelas quais os
“curtos-circuitos” postos em prática por alegres asseclas do
gênio verdadeiro (Marx) que lhes deixou a tarefa de testá-los
(Lenin, Stalin, Mao, Chê e tutti quanti) sempre terminam em
“apagão” depois de 70 anos de sofrimento! A História mostrou
que a “verdade” chega sempre tarde demais...
Ninguém
conhece o futuro do “capitalismo” que estamos vivendo. Apenas
sabemos que ele é um instante da evolução intencional na direção
da sociedade civilizada. Como a história mostra que o “seguro
morreu de velho”, é melhor prestar-lhe atenção. Continuemos a
usar a Urna e o Mercado para ir construindo soluções cada vez mais
aceitáveis moralmente na busca da sociedade civilizada. O
“emponderamento” do cidadão comum cada vez mais educado através
do sufrágio universal e a promoção de boas condições de
funcionamento dos mercados vão nos levar ao limite possível da
compatibilização da liberdade individual com a relativa igualdade e
a eficiência econômica.
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